Irina | twenty-three

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Havia se passado alguns dias desde o enterro do patriarca da mansão Ivanovich e o silencio dentro da casa era aterrorizante. Empregados andam de cabeça baixa. As cortinas se mantem fechada até que o luto da casa seja encerrado – algo que não precisava, mas existe a tradição e ela foi mantida.

Vladmir não sai do escritório com seu amigo Russel e advogados. Passa horas lá dentro. Talvez maquiando a morte do próprio pai e sua madrasta. Ouvi alguns sussurros que para todos os efeitos ambos se mataram. Uma forma de inibir a justiça que existe além dos mores do clã. Apenas praxe, nada mais.

Nikolay passa maior parte do tempo fora. Na mansão, vive ao telefone, em ligações confidenciais. Parece que eu não existo – por enquanto – e isso me deixa muito tranquila.

Por algum motivo, nosso casamento não foi marcado. E a incerteza de tudo o que ocorre, em silencio, me deixa com os nervosos tensos.

— Pensando na morte? — A voz de Kira é afiada.

Eu estava lendo, melhor, segurando um livro de geografia, enquanto pensava em tudo e a presença amarga daquela garota fez meus pulsos esquentarem.

Sem permissão, ela se sentou no pequeno sofá e tomou uma xicara de chá que eu havia me servido.

— Você acha mesmo que vai participar ativamente nos jantares da lata sociedade com seu futuro marido e poder conversar eloquentemente sobre qualquer assunto? — Ela apontou para o livro. — Perca de tempo, você terá que ficar calada como uma cachorrinha mansa. Conhecimentos não vão tornar sua vida menos difícil por aqui.

Fechei o livro.

— Estava com saudades de me importunar e me procurou até achar — reclamei friamente. — Pensei que estivesse de saída, não que isso faça diferença para mim, mas onde se encontra suas malas?

Kira respirou o ar perfumado da estufa, sorriu com uma acidez impecável e colocou delicadamente a minha xicara no lugar.

— Minhas malas... — disse sem pressa, cruzando as pernas — talvez no meu quarto novamente...

— O que você quer, Kira? Fale de uma vez e tome o seu caminho! — As gotas de paciência haviam secado.

— Ah, me perdoe — pediu com falsidade. De dentro do decote, ela tirou um pequeno papel preto enrolado e preso a uma fita vermelha. — O empregado estava para lhe dar isso....

Tentei pegar, mas ela retraiu o papel para perto de si.

— Se me pertence, então entregue-me! — Reclamei.

— Não se aborreça. — Ela sorriu e me entregou.

Peguei e tirei a fita, depois o desenrolei.

Jantar Da Meia Noite.

Nesta noite, será celebrado o primeiro jantar da família Ivanovich. É de extrema importância que todos que fazem parte da família e aqueles que compõem do clã estejam presentes.

Ass: Vladmir Ivanovich.

— Ele não assinou como chefe... — Falei baixo, mas a traiçoeira escutou.

Ela gargalhou.

— Vladmir nunca teve estomago para tal coisa — Ela passou as mãos nos cabelos, projetou o rosto para o lado e sorriu, me olhando. — Acha mesmo que ele tem algum poder sobre você, não é? Não seja boba ou sínica. Caia na realidade que lhe foi dada. Você foi vendida como um animal para o homem mais asqueroso que já conheci, e assim vai permanecer.

BONECA RUSSAWhere stories live. Discover now