Vladmir | five

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Era como se eu tivesse acabado de lhe tirar seu plano de vida, o que não fica muito longe de ser, se for analisar tudo o que fizeram para Irina ser uma excelente esposa, no ponto de visto de quem a criou.

Meu casamento durou anos que se seguiram preenchidos de amor e cumplicidade, eu era feliz quando me casei, assim como Violet também era.

O que ensinaram a Irina foi um comportamento submisso que diminuiu sua autoestima a cada dia. Ela é jovem, necessita ser feliz, mas eu não sou a pessoa certa para ajudá-la, ainda mais naquela fase da minha vida.

A todo momento eu obtive o cuidado de falar com ela de uma forma tranquila e verdadeira porque odeio mentiras.

E sabendo que, mesmo se eu aceitasse o plano de nossas famílias, casando-se com ela, eu não iria fazê-la feliz, porque não sou um homem feliz, sou um homem que morreu quando assassinaram a mulher que ainda amo, que mataram minha filha, quando ela inda era apenas um bebê. Uma pessoa que não iria ligar para o desprezo que eu iria proporcioná-la porque dentro de mim não existe nada de bom para ser utilizado.

Ficou evidente a perplexidade daquela garota.

Meu deus, ela era uma menina.

Linda, de fato, educada e me pareceu bem inteligente.

Cuidar de sua ferida, perguntar sobre seus gostos, olhá-la de perto, só fez uma parte de mim querer tocá-la, e não foi meu lado bom quem quis isso. Meu lado bom estava ali para fazer o que deveria ser feito: terminar de uma vez com os planos de meu pai.

Eu não havia comprado um anel, também não pretendia. Não oficializei o noivado e muito menos dei esperanças para que pudesse mudar de ideia.

— Você está dizendo que não me quer — Irina não estava bem.

Eu não sabia dizer se era pela rejeição ou se ela sabia de algo, que eu não estava por dentro, caso ela fosse rejeitada.

— Estou lhe dando a oportunidade de não precisar sair de um merda de vida para entrar em outra.

Ela olhou para mim, seus olhos de um verde tão intenso e intimidador. Ficando de pé, ela adquiriu uma expressão tensa, rígida.

— Subestimei você — ela disse. Senti que ela ficou diferente. — Pela sua experiência de mundo, por sua idade jurei que estava falando com alguém mais esperto do que eu.

Aquilo foi um soco no estômago, e um dos melhores.

— Irina — tentei argumentar, mas ela me interrompeu educadamente.

— Me deixe falar, por favor. — Com voz branda, ela continuou: — Você me disse que não quer casamento. É um direito seu. Nunca pensei em ficar com você, ou com qualquer outra pessoa, contra a vontade dela. É crueldade demais. Eu aceito o fato de não me querer como sua mulher. — Ela fez uma pausa, como se buscasse calma na respiração. — Mas dizer que por não casar comigo fara com que eu tenha a oportunidade de ser feliz, mesmo depois do que você viu esta noite, é querer me dizer que meu mundo é rosa e o seu que não tem cor.

— Me desculpe, não foi dessa forma que quis justificar as coisas.

— Quer saber...? Vlad... — Ela parou como se hesitando concluir meu nome, mas rápido se corrigiu: — Senhor Ivanovich, a vida que iria me oferecer não é melhor e muito menos ruim que a minha. A diferença é que eu passei anos a sua espera enquanto você vivia um sonho, no mesmo período que eu sobrevivia em silêncio.

— Me diga o que posso fazer por você? — Perguntei por que eu sabia que, depois do que havia explicado o motivo da minha visita, casamento não era uma opção, mas de toda forma eu poderia ajudar de um jeito que a tirasse das mãos de ferro de Victorio, seu pai.

BONECA RUSSAWhere stories live. Discover now