Vladmir | fourteen

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Ela estava fria como um cadáver. Mesmo querendo aquecê-la, parecia que nada, nem mesmo o calor de meu ódio.

– O senhor Nikolai deu ordens para que a senhora Irina não saia de dentro da mansão, seja ela quais forem as circunstâncias – disse um dos empregados, a porta, quando escutou meus gritos, pedindo ajuda, ordenando que deixassem a ambulância entrar na propriedade.

Irina estava em meus braços, sobre sua cama, enrolada em um coberto quente. Seu coração parecia traumatizado e suas veias azuis.

– Absurdo! – exclamei irritado. – Nikolai não manda em nada nesta casa. Mande a ambulância entrar, porra!

Anuva, esposa do meu pai, apareceu no quarto e quando viu a cena quase caiu dura no chão. Ela correu na direção em que eu e Irina estávamos.

– O que aconteceu com ela? – seus olhos estavam perplexos.

– Não importa! – falei saindo da cama, colocando Irina em meus braços e a tirando daquele lugar.

Atrás de mim escutavam todos me aconselhando a esperar Nikolai chegar, afinal, a responsabilidade de Irina era dele, ou seria melhor denominá-la como o objeto dele? Porque era isso que os homens que pertenciam ao clã fazem, era essa forma que as mulheres são tratadas, como objetos, prêmios.

Desci as escadas convicto que não seria as ordens e leis de um Clã - pelo qual nunca quis fazer parte – que me fariam negligenciar ajuda a uma inocente de todo esse sistema corrupto que tramaram por trás das cortinas.

– Coloquem meu carro na frente da casa! – foi a única coisa que falei enquanto tirava Irina daquele lugar.

E antes que conseguisse chegar até o lado de fora, meu carro estava sendo estacionado.

Coloquei Irina no banco de trás e prendi seu corpo com cinto de segurança.

– Vladmir – Anuva iria suplicar, ela sabia que consequências iriam aparecer logo quando Irina voltasse para casa, mas eu não iria permitir torturas no lar onde eu nasci.

– Cuide de seu marido – foi a última coisa que falei quando bati a porta do carro e saia as pressas.

Consegui chegar em um hospital próximo e fazer com que Irina fosse atendida o mais rápido possível.

Fiquei em um corredor que dava para o quarto dela. Lá dentro tinha um médico e uma enfermeira a medicando e aquecendo-a como deveria.

Por volta do fim da tarde, quando tudo estava estabilizado, eu consegui entrar no quarto.

Irina estava no soro e tomando vitaminas. Bem vestida com manta térmica e uma roupa de hospital apropriado para seu caso.

Uma das mãos dela estava para fora. Aproximei e a toquei, afim de colocar sua mão por baixo da manta. Para minha surpresa ela parecia bem aquecida naquele momento.

A mão que antes parecia uma pedra de gelo, estava morna e macia.

Quando a segurei, Irina apertou sua mão na minha.

– Obrigado – ela sussurrou muito baixo, ainda com os olhos fechados.

Queria perguntar a Irina porque Nikolai havia feito aquilo, porque essa punição, mas mantive o assunto em uma gaveta.

– Ela já se foi? – indagou ela com a voz cansada, querendo abrir os olhos.

– Ela quem?

– A mulher com um bebê – ela respondeu de forma calma e natural, ainda com os olhos fechados.

Mas eu sabia que ninguém, além de um médico e uma enfermeira havia entrado naquele quarto.

– O que ela fazia aqui?

Irina apertou minha mão, engoliu seco e falou:

– Eu não sei, ela não parava de chorar, a menina que ela segurava também não.

Meu corpo inteiro ficou rígido, olhei espontaneamente para os lados, depois para Irina. Meu corpo inteiro ficou arrepiado uma sensação pesada sobre meu corpo.

– Como sabe que ela carregava uma menina?

Irina se remexeu na cama e dormiu.

Foi aí que tentei preencher minha mente que, tudo o que ela estava me contando, deveria ter sido um sonho.

Era por volta da meia noite quando Nikolai invadiu o hospital com seus capangas. Ele invadiu o quarto de sua esposa e quando a viu sobre o leito, ainda desacordada, fez uma cara de pesar que eu desejei enfiar fundo com o soco para dentro daquela cabeça imunda.

– Coitadinha – disse ele como se importasse com Irina.

– Você fez isso – o acusei sem me mover. – Você sempre soube que eu não queria casamento dentro das normas do Clã, de fazer parte. Então você planejou tudo para entrar no círculo, para se sentir protegido de seus crimes, e como faria isso? Voltando para Rússia, aliando duas famílias com um casamento ao usar minha recusar em fazer parte de jogos sujos, fazendo as vontades de meu pai, que em troca, lhe deu dinheiro e proteção.

Nikolai me olhou com sangue nos olhos. Ele escutou verdades, além de presenciar uma ordem quebrada, erguer ajuda – seja ela qual for – a sua futura esposa.

– Porque você não volta para sua casa e vai encher a cara e comer suas putas de luxos, talvez até se preocupar com sua empresa de apostas – ele disse dando um passo à frente.

Foi quando eu notei, em sua declaração, que a condição deplorável pela qual eu vivia era confortável para Nikolai.

Eu havia me tornado um homem sem muitos propósitos, ganhava dinheiro fácil e o resto que se fudesse.

Tinha abandonado, categoricamente, qualquer possibilidade de relacionamento com qualquer mulher que surgisse em minha vida.

E o fato de conseguir dormir e sobreviver o resto do dia, com uma garrafa de bebida na mão, fazia com que o filme antigo, no qual me matou por dentro, não passasse com frequência.

– Você obteve sua chance, não quis, então não se meta onde não lhe diz mais respeito algum – pela primeira vez, desde o nosso reencontro, Nikolai parecia possessivo com Irina. Ele estava mais confiante, o motivo ainda era desconhecido, mas eu iria vasculhar. Ousado ele tocou seu dedo sobre meu ombro e disse: – Você acha que ela é sua irmã? – a indagação fez minha mente ir ao passado. – Sim – ele sorriu – Você tem dúvidas que minha pombinha seja sua meia irmã. Afinal de contas Michelly se deitou com todas as esposas de seus sócios e aliados.

– Não encosta em mim, seu merda – o empurrei.

Nikolai tropeçou para trás e sorriu, andou até onde sua esposa estava dormindo e se sentou ao lado dela, tocando em seus cabelos, cheirando-os.

– Vamos fazer um trato? – ele indagou com malícia no olhar. – Eu permito você fuder sua meia irmãzinha assim que ela sair do hospital e lhe procurar – zombou ele –, em troca você me torna socio de sua empresa.

– Eu vou matar você, Nikolai – afirmei.

Ele se levantou dizendo:

– É uma pena. – Ele alisou seu paletó. – Vai precisar fechar cada janela de sua casa porque os gritos serão muito notórios.

– Você vai estuprá-la! – senti gosto de sangue em minha boca. Dei um passo na direção do cretino, mas três homens que andava com ele, fizeram um cerco para que minhas mãos não o tocassem.

– Vou adiantar e consumar o casamento – ele sorriu. – Assim que ela entrar na mansão.

BONECA RUSSAWhere stories live. Discover now