Irina | seven

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Ele tem cheiro de cigarro e colônia. Alto como os homens Ivanovich. Olhar presunçoso como alguém que não estava aqui para brincadeiras. O jeito de me analisar, como se tentasse me entender apenas em meus traços, me fazia sentir um frio na espinha. Sua voz tinha maciez, mas carregado com um tom de ameaça.

Aquele homem, definitivamente, me dava medo.

— Vamos, saia — ele disse para Kira, ainda olhando para mim.

Kira sorriu da situação e se foi. Sua participação nesse lugar apenas intensificou o quanto eu era vulnerável.

Com dezesseis anos e sem ter para onde ir, eu era fraca diante de todos que queriam dominar minha vida, o que não se estava relacionado a ingenuidade. Eu desconfiei, parte do tempo, que talvez essa viagem para Suíça não fosse exatamente um caminho seguro.

Eu li todos os papéis timbrados com o brasão da escola pela qual eu deveria estar indo a caminho. Tudo era real, mas meu pai deu um jeito de quebrar a realidade me colocando em uma emboscada.

Me senti profundamente ferida ao saber que Vladimir estava por trás de tudo. Era estranho pensar que ele poderia fazer parte desse plano, segundo a forma que ele me tratou, de forma cordial, em nossa primeira e última visita. Mas não o conheço para conseguir discernir até onde ele poderia chegar para não se casar novamente, para não substituir a mulher por quem ele ama há anos e aquém lhe deu uma filha.

— Suponho que você esteja perdida em uma grande montanha russa de acontecimentos. — Aquele homem falou, segurando meus braços, como se me obrigasse a ficar em pé enquanto ele estivesse próximo a mim. — Deixe-me apresentar a você. Me chamo Nikolai, sou irmão de Michelly e tio legitimo de Vladimir. — Ele desceu suas mãos até chegar em minha cintura, me olhando de cima a baixo como se procurasse algum defeito.

A situação era completamente repulsiva.

— Não toque em mim — pedi, tentando me livrar das mãos que pareciam querer me apertar.

— Olhe para mim!

Ergui meus olhos.

— Eu sou seu noivo. — Neguei. — Sim, eu sou, meu docinho. Seu pai assinou a autorização. Agora você é de minha responsabilidade e vai comigo para a casa da minha família, por um tempo.

Por que eu tinha uma forte sensação de que o fim de tudo isso era eu morta?

Ele me sentou com cuidado, puxou uma cadeira e sentou-se de frente para mim.

— Michelly me contou sobre você, sobre o casamento. Eu sempre imaginei que Vladimir não fosse aceitar. — Ele falava com calma e bem claro. — Meu sobrinho sempre amou e sempre vai amar Violt, ela era uma mulher única. Mas mesmo morta Vladimir não quer mais ninguém. — Ele ergueu meu rosto quando tentei não o encarar, enquanto organizava minhas ideias.

Por mais que ele falasse, minha cabeça estava longe, cansada e tonta pelo entorpecente que bebi no automático.

— Você está pronta para um casamento e eu pronto para finalmente me casar. Gostei da proposta de Michelly e cá estamos nós.

— Me leve para casa.

— Nossa casa será na Bélgica. Não podemos ir para lá por alguns meses.

— Casa de meus pais — o corrigi. Eu sabia que lá era um inferno, mas ali eu já estava familiarizada, com Nikolai eu não fazia ideia da profundeza da dor que ele poderia me causar.

Ele me deu um sorriso zombador.

— Não. Você é minha agora. — A frase me deu um calafrio que fez meu coração diminuir um compasso. — Você só vai para onde eu for, só entra onde eu entrar. — Ele pegou minha mão, a que havia enfiado o anel em meu dedo e apertou. — Você vai ser minha mulher até que a morte nos separe. Vamos sair daqui e participar do jantar de noivado que a família Ivanovich, meu irmão, preparou para nós. Ficaremos por lá por um tempo, até a cerimônia de casamento, como manda a tradição, em seguida a levarei você para nossa casa.

BONECA RUSSAحيث تعيش القصص. اكتشف الآن