Irina | forty-six

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Senti algo prender minhas mãos. De início, achei que estivesse tão mal que a sensação de peso nos pulsos tinha alguma coisa liga as dores que sentir antes de apagar de tanta dor na barriga.

Mas meus braços não se moviam. E isso me intrigou. Meus olhos, ainda pesados, abriram com dificuldade. Lembro desse efeito, era como se tivessem me anestesiado.

Com as cores foram surgindo e tudo tomando forma, foi rápido percebe que eu me encontrava em um lugar desconhecido. Um terror tomou conta de mim quando observei meus pulsos amarrados.

Do nada, entrou uma mulher. Uma senhora, baixa e de cara ranzinza.

— Me solte — pedi desesperada.

Ela fez de conta que eu não fazia importância. Abriu um gaveteiro e tirou de lá uma seringa. Gritei o mais alto que pude, sentindo a agulha entrar. Foi uma questão de segundos para eu apagar novamente.

Acordei, não sei quanto tempo depois. E para meu horror, estava no mesmo lugar.

Um quarto pequeno. Uma cama média. Paredes verdes e uma cadeira perto da porta, além de um gaveteiro com equipamentos médicos.

Meus pulsos estavam feridos pelo aperto das algemas. Meus braços doíam demais pela posição elevada. Eu sentia uma fome absurda. Minha garganta queimava de tanta sede.

Eu sabia exatamente onde estava. No inferno de Nikolay. Tinha plena consciência que ou eu sairia morta daqui.

A porta abriu. A mesma senhora de antes. Com uma bandeja. Pão e água. Ela deixou na cadeira, se aproximou da cama e me desamarrou. Eu não tinha forças para sentar. Ela pegou a bandeja e colocou nas minhas pernas.

Tentei erguer meu troco, mas não consegui.

— São os sedativos. — A velha informou. — Coma.

Olhei para aquela escassez. Estava faminta e com sede. Tomei a água e rasguei o pão. Lembrei do meu corte. Erguia a roupa que vestia do tipo hospitalar. O que tinha ali era apenas um corte que não parecia profundo.

Fiquei completamente confusa. Raquel entrou no meu quarto e enfiou a faca na minha barriga. Ela ajudou esse verme?

— Onde estamos? — Perguntei por pura teimosia. Sabia que aquela velha não iria me ajudar em nada.

— Em uma hora, vou lhe dar vitaminas. No jantar temos sopa de peixe.

— Onde ele estar? — Afastei a bandeja. — Onde aquele verme está?

A porta abriu e ele surgiu, como se eu tivesse encovado o diabo, e eu estava.

— Meu passarinho — ele sorria, com os braços abertos, aquele cabelo asqueroso molhado e peteado para trás.

A velha saiu do quarto tão rápido que quando me dei conta Nikolay estava encostando a porta.

Não conseguia sentir medo de Nikolay. Apenas nojo, ódio, desprezo. E temia por isso, o medo algumas vezes me ajudou a não piorar meus problemas.

— Me diz, você estava com saudades de mim, não era?

— Antes de qualquer coisa, como conseguiu me trazer aqui?

De um jeito irritante, ele sentou na cadeira e cruzou as pernas. Aquele ar de despreocupado me tira a paz.

— Ah, você não quer saber essas bobagens. O importante é que podemos ficar juntos.

— Quem lhe ajudou?

— Continua irritante — ele observou, saindo da cadeira. — Saiba que irei puni-la sempre que for teimosa, irritante e desobediente.

— Quem lhe ajudou? — Tirei a bandeja de perto de mim.

Nikolay andou pelo quarto. Foi até a única janela que tinha e abriu as cortinas, depois a janela e um vento frio e forte entrou no quarto.

— Foi Raquel, não foi? — insisti.

Ele gargalhou. O vento congelante começou a me incomodar, peguei a manta que tinha por baixo de mim e tentei me cobrir, mas ele puxou de mim.

— Raquel é uma puta fraca. Acredita que ela seria capaz de morrer pelo meu sobrinho a ter que me ajudar a atingi-lo?

— O que significa? — Fiquei confusa.

— Que quando eu a peguei de jeito ela não ajudou em nada, além de me dizer exatamente eu poderia ferir alguém e não lhe causar dano algum.

— Ela estava no quarto! — Tentei sair da cama, mas minhas pernas pesavam. — Eu a vi com meus próprios olhos.

— Talvez uma mistura de sonho e realidade. Enquanto você dormia foi administrado alguns sedativos. O corte foi feito com você dormindo, não acordada. Minutos depois, você acordou atordoada, mas apagou novamente.

— Quem me feriu?! Você?

Nikolay foi até a porta e abriu, olhou para o corredor e fez um gesto para alguém se aproximar. Ele estava cheio de felicidade e pronto para fazer coisa contra mim.

— Eis aqui minha melhor secretaria! — Ele disse como se se apresenta uma celebridade.

E para somar a minha tristeza, Sofia surgiu como se tivesse lisonjeada. Ela tinha acesso exclusivo na casa, sabia tudo sobre mim, conseguia todos os piores e momentos ao meu lado. Entendia o funcionamento da casa como ninguém. Para piorar, ainda tinha o papel de minha amiga.

— Oi, Irina. — Acenou com a mão.

— Sofia foi meus olhos todos esses tempos. Quer dizer... — Ele a olhou com admiração e abraçou a desgraçada. — Desde que você colocou os pés na mansão. Não é mesmo?

— Sim. Foi um prazer lhe ajudar. Irina é destinada a você, mais ninguém.

— Desgraçada! — Eu tentei pular da cama para cima da vagabunda, mas Nikolay me agarrou e me jogou na cama no mesmo segundo. dei um soco no colchão cheia de ódio. — Então foi essa vadia que falou para você no dia que beijei Vlad e você quase me matou.

— Sim, foi eu! — Sofia se manifestou. — Foi eu quem entrou pela passagem secreta e fez o corte, assim como Nikolay orientou.

— Juro, Sofia. Que assim que ficar de pé, eu vou matar vocês! — Fiz uma promessa não apenas por ódio, mas por honra.

— Não fique tão agitada, passarinho. Precisa descansar, se alimentar e dormir o máximo que conseguir. Vladmir nunca vai nos encontrar. — Ele pegou de cima do gaveteiro, uma agulha. — Agora, você sempre estará comigo! E se tentar fugir, consequências graves iram começar acontecer.

— Prefiro morrer a te que sofrer nas suas mãos.

Nikolay se aproximou de mim e com sua agulha ele fez a sua ameaça.

— Deveria ter se casado com meu sobrinho, passarinho. — Aquele sorriso diabólico abriu em seus lábios. — Essa hora ele estaria em cima de você, e não eu.

— Se afasta de mim! — Cuspi na cara dele e levei uma bela de uma bofetada.

Senti a agulha perfurar minha pele.

— De agora em diante, pense bem o que vai fazer ou falar... — A agulha entrou mais um pouco. — Porque você não está mais sozinha para se defender. O filho na sua barriga precisa da mamãe dele, não é?

Meu coração disparou no mesmo instante, fazendo meus pulmões pararem.

— Um filho? — Minha voz se arrastou.

— Se tentar alguma coisa, Irina — Sofia falou. — Vamos tirar a criança de sua barriga.

Olhei para Sofia, depois para Nikolay. Eles não estavam brincando. 

BONECA RUSSAWhere stories live. Discover now