Estava olhando para o fundo do meu copo vazio. O crepitar da madeira ao fogo era um som que me tranquilizava, mas naquela madrugada nada estava fazendo minha cabeça relaxar. Nem o silêncio na biblioteca, o conhaque ou o som do fogo consumindo a madeira.
Nada até a lembrança daquele beijo macio nos lábios de Irina em meus lábios, do cheiro suave cobrindo meu lar.
Peguei a garrava, que estava ao pé da cadeira posicionada em frente a lareira da biblioteca, coloquei mais conhaque em meu copo e bebi um gole lembrando do quanto ela é diligente no que deseja.
Ela é uma boa menina, pensei levando o copo a boa com um meio sorriso.
Alguém bateu na porta e dei a ordem que entrasse.
– Seu pai está dormindo – disse Anuva, esposa de meu pai.
Não cheguei a olhar diretamente para ela. Estava com os olhos vermelhos pelo álcool.
Anuva não se moveu. Acho que ela esperava alguma reação minha. O que eu deveria dizer? Michelly encheu o nariz de heroína, bebeu e em seguida teve mais uma overdose em menos de um ano. Ele era tão miserável quanto eu, mas sabia ser um pouco mais idiota.
Infelizmente agora está debilitado em uma cama. E não sabemos quando teremos Michelly de volta ao comando. Talvez seja isso que Anuva veio buscar de mim, ordens, uma direção do que fazer agora.
– O médico foi embora? – indaguei olhando para a fogo.
Ela demorou um pouco para responder. Quando meus olhos a encontraram, ela assentiu.
– Onde está o miserável do Nikolai e a noiva dele?
– Nikolai está com seu pai nesse instante. Acho que Irina finalmente foi dormir.
– Onde está a irresponsável de sua filha?
– Eu não sei – respondeu de forma cansada. Depois respirou fundo. – Não vejo Kira desde a confusão entre você e Nikolai.
Tomei o resto da bebida e coloquei o copo ao lado da garrafa. Depois fiquei de pé e andei até próximo a Anuva.
– Sugiro que dome sua cria.
– Vladimir...
– Ela queimou todas as roupas de Irina, sabia disso?
Anuva engoliu seco, parecia envergonhada. Ela sabia que havia criado uma peste.
– Não – ela olhou para seus dedos da mão, depois ergueu os olhos para mim. – Vou resolver esse problema, prometo.
Ela estava para sair, mas a peguei pelo pulso e a fiz ficar.
– Outra coisa que quero que você faça.
Senti Anuva nervosa.
– Sim – Anuva tinha um olhar assustado.
– Não entre mais no meu quarto, não se atreva a querer me trapacear.
Anuva ficou sem cor.
– Eu sinto muito – disse com voz emocionada. – Seu pai...
– Não importa, Anuva – falei mais severo. – Você me enganou.
– Perdoa-me, Vlad. Prometo que isso não vai mais acontecer.
– Não, isso não vai acontecer porque eu não quero você dentro da minha casa, me observando.
Ela estreitou os olhos.
– Não, eu não faço isso.
Ela puxou o braço, eu estava a machucando.
– Já lhe disse – Anuva esfregou o local onde eu apertei. – Não vai mais acontecer.
Anuva abriu a porta e saiu rápido.
O dia chegou sem o sol para aquecer. Eu ainda estava na biblioteca bebendo quando chegou um empregado para me deixar uma bandeja de café da manhã.
Peguei a xicara de café.
– Onde está Irina?
– Não há vi essa manhã, senhor.
Bebi o café e coloquei de volta a bandeja.
– Ela não desceu para tomar café?
– Não. Também não pediu. Tentei deixar uma bandeja para ela no quarto, mas Nikolai proibiu minha entrada. Só pediu o máximo de gelo que de conseguisse.
Isso ficou estranho.
– Onde está Nikolai?
– Ele saiu tem mais ou menos uma hora. O senhor me desculpe pelo meu intrometimento, mas quando ele saiu tentei entrar novamente e deixar comida para a noiva dele, mas encontrei a porta trancada, chamei a senhorita Irina e ela não respondeu.
– Quem tem a chave mestra?
– Anuva. Mas eu a peguei hoje para abrir alguns quartos – ele foi falando e tirando a chave do bolso.
A peguei imediatamente e saiu para o quarto de Irina.
Abri a porta e não a encontrei em sua saleta.
– Irina?!
Nenhuma resposta.
– Irina? – Entrei no cômodo onde fica sua cama, estava vazia.
Entrei no closet, vaguei pelo corredor e em seguida entrei no banheiro, passei pela pia principal e chuveiro, mas foi na banheira que a encontrei. Amarrada e amordaçada, nua dentro de água cheia de gelo, completamente inconsciente.
Tirei a amordaça de sua boca e a corda que a mantinha presa dentro da banheira. A coloquei em meus braços, ela parecia uma pedra de mármore frio.
– Irina, fala comigo? – Coloquei em sua cama, puxei os lençóis e cobri seu corpo, apertei em meus braços, foi quando notei uma mancha em sua boca, Nikolai havia batido nela. – Porra, Irina, fala comigo!
Ela não reagia.
O empregado que havia me falado do caso entrou no quarto e ficou espantado com o que viu.
– Chama uma ambulância, agora!
Eu não sentia o pulso dela, porra eu não a sentia em nada.
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