Quando entrei no quarto a sensação que tive foi de uma queda sem fim. Meu estomago doía. Senti a dor ainda maior quando voltei para o quarto e fechei.
Nikolai roncava na cama, ainda com a roupa que usou para se casar.
As malas que eu deveria ter embarcado, estavam no canto do quarto.
O quadro daquele casal não me saia da cabeça. A sensação de já ter visto aquela mulher batia na mente como uma teimosia chata.
Eu não queria estar aqui, só queria ter nascido em outra família, ter tido amigos e experiências de alguém da minha idade.
Andei até uma das malas. Estavam vazias. Não encontrei nada para vestir. Nenhuma peça de roupa que eu havia enfiado em minhas malas.
Entrei no que deveria ser um closet, mas elas também não estavam lá.
Voltei para o quarto.
Nikolai dormia como um porco.
Sentei-me em uma cadeira confortável que tinha, e em poucos segundos percebi um cheiro esquisito. A janela estava aberta e andei até ela. Foi quando eu vi uma fogueira lá fora, quando me inclinei reconheci que tinha partes das minhas roupas sendo consumidas pelo fogo.
Sai do quarto e corri para o andar de baixo o mais rápido possível, atravessei os empregados que terminavam de colocar tudo em ordem depois do jantar, e acho que vi Vladimir entrando em sua casa quando cruzei o jardim.
Dei a volta para o lado esquerdo e foi quando eu tive certeza, a fogueira foi feita com todas as minhas roupas.
Eu não sabia o que fazer. Não era necessário pedir ajuda, seria um pedido em vão, também não havia uma única peça de roupa que pudesse salvar.
Escutei passos atrás de mim. Eu sabia que era ele, Vladimir, tinha observando meu desespero e me seguiu.
— São suas? — ele indagou, atrás de mim.
— São.
Ele andou até mim, depois mais um pouco e quando notei ele estava com uma mangueira do jardim, ligou a água e começou a apagar o fogo, em segundos empregados vieram e ajudaram a ele conter a fogueira.
Dei as costas e sai do lugar.
Eu não tinha dinheiro e não pediria nada para Nikolai.
— Espere Irina — Vlad pediu, mas eu não estava com cabeça para mais discussões, eu apenas queria desabar em uma cama, sozinha, e chorar tudo que ficou engasgado em mim, com a cabeça enterrado no travesseiro para o peito parar de doer tanto. — Por favor, me espere. — Ele segurou meu braço, encarei sua mão me detendo então me soltou. — Eu sinto muito. Nikolai fez isso?
— Nikolai está dormindo e babando. Ele não fez isso.
— Kira então...
Não disse nada. Com toda certeza Kira estava por trás daquela destruição, mas eu não poderia acusá-la sem provas.
— Preciso entrar — avisei voltando ao meu caminho.
— Eu tenho roupa limpa, se quiser...
Olhei para Vladimir, ele era extremamente alto, uma camisa se faria vestido em mim.
Mas também estava cansada e odiando aquele vestido branco. Para não aceitar de imediato, falei:
— Acho melhor ficarmos longe um do outro. Tudo termina de uma forma muito drástica e intensa. Não estou com energia para mais uma discussão.
