Capítulo 02 - O picolé de milhões de dólares

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Mon

— Olha o picolé... — Gritei afundando cada pé na areia. Mais um domingo, mais um dia de sol, mais chinelo para gastar tentando descolar um dinheiro que provavelmente nem alcançaria pagar a conta de luz atrasada.

— Eu quero um... — Um homem disse deitado numa canga e eu prontamente me aproximei para fazer a venda. Era um rapaz musculoso deitado de barriga para cima. Usava uma sunga vermelha de marca e óculos escuros da Gucci que foram prontamente abaixados na altura do nariz quando estive perto — ...Será que a moça vem de brinde? — Questionou se levantando para estar em minha altura, terminando bem mais alto na verdade.

— Eu não estou a venda, mas se quer saber eu tenho um sabor que é a tua cara, se chama bananinha de macho escroto, tem só 2 centímetros, mas deve dar para alguma coisa, sabe? — Eu disse respondendo com deboche ao seu atrevimento de não só me assediar como ainda me secar com os olhos.
Estávamos numa praia e eu obviamente de biquíni, mas isso não dava a ele o direito de ser um babaca comigo e me olhar como se eu não fosse uma pessoa séria tentando ganhar a vida.

— Olha aqui sua abusada, quem você pensa que é para falar assim com meu namorado? — Ouvi antes que desse qualquer resposta. Foi de uma ruiva bonita que dava mais altura do que eu. Ela usava um biquíni de marca cara, seus cabelos pareciam tratados com produtos tão bons que a água salgada quase não parecia afeta-los e tinha pelo menos uns três procedimentos estéticos espalhados em lábios, seios e cílios.

— Eu não sou ninguém, agora teu namorado é um embuste do caralho que estava dando em cima de mim — Falei com meu jeitinho tão meigo e educado como poderia somente uma carioca.

— Isso é verdade Olavinho? — A ruiva questionou o cara. Ao julgar pelo apelido definitivamente acho que supervalorizei a banana. Olavinho era nome de homem com pau microscópico.

— Claro que não, amor! Acha que com uma mulher como você eu daria qualquer moral para uma suburbana qualquer vendedora de picolé? Ela que veio se oferecendo para cima de mim e quando neguei fez escândalo — Ele mentiu descaradamente. Mas que excelentíssimo filho de uma p...

— Tem razão. Isso só pode ter sido uma invenção maligna dessa morta de fome que pensou que poderia descolar alguns trocados dando em cima de você. Saiba mocinha que hoje não é dia de caridade — A mulher disse me deixando incrédula com tamanho elitismo gratuito.

O princípio clássico do atendimento ao cliente era de que ele sempre tinha razão, no entanto, era impossível dar qualquer mínimo de moral aquelas palavras tão pesadas. Eram dois idiotas sem um pingo de amor-próprio que achavam que poderiam julgar as pessoas pelo seu estrato social.

— Nem da mentira então antes de voltar ao trabalho eu deixo aqui o meu relato: Esse Olavinho é um mentiroso e você é no mínimo uma chifruda malcomida que acha que alguém quer esse pau pequeno do teu namorado — Disse sem receio algum. O meu defeito era que eu era uma pessoa muito educada apesar da pouca escolaridade, porém, se alguém se propunha a ser baixo comigo eu poderia me transformar no próprio subsolo.

— Como é que é? — A mulher perguntou e antes que eu pudesse repetir, tinha toda a intenção de fazer, ela veio para cima de mim como uma maluca.

Veio com a mão no meu cabelo, de um jeito nada atraente, e usou suas mãos para tentar me derrubar na areia. Surtiu efeito porque me pegou de surpresa, me fazendo cair por cima do isopor onde estava guardando os malditos picolés que caíram para fora da tampa e se espalharam pela mesma areia onde começamos a travar uma briga corporal.

Eu só me defendia num primeiro momento, mas passado uns dois golpes não teria como permanecer só naquilo sem que saísse toda arranhada então me adiantei em revidar seus tapas. Foi quando eu estava por cima que senti o bananinha me puxando.

A família que eu herdei (Versão Freenbecky)Where stories live. Discover now