Capítulo 27 - A canja como forma de unir-se

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Mon

Nunca pensei que me sentiria culpada em relação a Sam na minha vida. Como poderia ser eu a errada diante de alguém que parecia ter nascido totalmente equivocada? Mas mesmo assim eu fui e não estava feliz com isso.

Alguns dias se passaram desde o comercial e eu não precisava trocar três palavras com Sam para saber que ela conteve a situação. O telefone da casa sem tocar o dia todo de maneira estridente já demonstrava o óbvio.

Apesar da confusão aparentemente desfeita ela não havia voltado a falar comigo direito. Saia com Giovanna, brincava com Chai, mas deixava um pouco claro que sua questão era comigo.

Ela nem mesmo me observava pela persiana do escritório mais, coisa que eu sabia que ela gostava de fazer quando eu começava a circular pela loja. A morena estava, oficialmente me ignorando.

— Você que é um menino bem sábio... — Perguntei para Chai quando ele estava brincando o Peixoto. Era uma tarde tranquila e o havia trazido para a loja comigo, pois sua babá viria apenas a noite em razão de um compromisso meu.

— Lembrando que eu tenho seis anos — Ele disse parando o que estava fazendo para me olhar.

— Do auge da sua meia dúzia de idade, claro — Eu concordei com ele que somente assim me dedicou toda sua atenção.

— O que fazemos quando alguém está magoado com a gente? — Questionei pensando alto demais.

— A gente pede desculpas para pessoa. Fala que não queria magoar com sinceridade. Essa manhã eu estava correndo no recreio e sem querer esbarrei na Margarida. Ela caiu de bunda no chão e todo mundo riu dela. A Margarida ficou muito brava, mas eu dei o meu pirulito para ela e pedi que me desculpasse. Funcionou para mim — Ele relatou sendo muito específico em sua abordagem infantil, trazendo exemplos e tudo.

— Eu dei uma canja para ela e não funcionou — Contrariei o método infalível apresentado e ele negou balançando seus cabelos loirinhos.

— Mas você pediu desculpas antes? Quem sabe nem era a canja que ela queria — Ele aconselhou. Quem sabe, no fim, nem era o pirulito que a Margarida queria, mas uma desculpa genuína e um gesto de afeto.

Errei na forma de falar com Sam. Procurei-a na curiosidade de saber o que houve, mas não de saber como poderia de fato ajudá-la e por essa razão coloquei meu pé pelas mãos com ela, ameaçando toda a evolução em nossa convencia.

E eu não gostava de estar assim. Meu peito doía na ausência de suas manias insuportáveis e o silêncio sem sua voz irritante parecia normal demais. E o normal não estava mais tão bom quanto esteve antes.

— Já pensou em ser psicólogo? — Questionei e ele negou.

— Já falamos sobre isso mamãe, eu quero ser jogador de futebol e pronto — Ele falou parecendo um homenzinho de novo, me obrigando a uma única ação: Um interminável festival de cosquinhas que só acabavam quando ele dizia chega.

Assim que cheguei em casa naquela noite deixei as especificações com a babá e fui tomar meu banho. Me depilei, passei um bom hidrante e ainda coloquei um shortinho e uma regata da coleção nova da minha loja.

Ainda era meio inacreditável falar minha loja, ainda mais quando o espírito da minha comunidade não saia de mim de maneira alguma, afinal, mesmo hoje, muito rica eu ainda ia curtir um pagodinho in loco.

Sim, eu sei, poderia organizar até um show do Belo no quintal da minha casa, o que nem seria má ideia, mas nada superava a energia única de um pagode bem feito na comunidade.

O espetinho vendendo na frente do lugar, as pessoas botando todas as energias nos passos, as músicas lentas as vezes fazendo chorar da dor que nem existia, tudo tinha uma mágica que só existia lá.

A família que eu herdei (Versão Freenbecky)Onde histórias criam vida. Descubra agora