Capítulo 23 - O legado de reprimir os desejos

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Mon

Sam estava me olhando com aquela cara de cafajeste tinha vários minutos. Sua amiga não tinha voltado e não sei porque algo me dizia que ela não tinha qualquer intenção de fazê-lo. Talvez nem houvesse mensagem sua.

— Acho que é melhor eu ir também — Me adiantei em falar me levantando, mas Mon fez o mesmo freando meu ímpeto.

— Porque se a noite está tão linda? Senta aqui Mon, vem ver estrelas, garanto que não faço nada que você não goste — Ela falou toda marota batendo a almofada do seu lado. Parecia um convite amistoso, mas vindo de Mon poderia significar tantas coisas.

Se existia uma palavra no mundo que podia defini-la era ambígua. Hora parecia próxima, acessível e educada, mas em outras era tão impenetrável e arredia que eu não conseguia definir quem era aquela mulher.

Ela era cheia de camadas. Perigosa, envolvente e ao mesmo tempo vulnerável. Sam parecia uma pessoa colérica o suficiente para dar uma resposta atravessada e ao mesmo tempo alguém que poderia preferir resguardar silêncio.

Era imprevisível e para alguém que tentava manter minha vida no lugar depois de muitos vendavais parecia uma iminente ameaça de tempestade, o que era irônico uma vez que a primeira vez que nos beijamos foi durante a chuva.

Ficar ali era uma escolha. Algo assustador, algo que me desafiava e ao mesmo tempo prometia um desfecho que eu não poderia controlar. Estar sozinha com ela num ambiente com velas e bebida parecia o cenário perfeito para o caos e aquilo me intrigava.

Intrigava no ponto mais agudo da dúvida, aquele que te cutuca como se fosse uma faca no peito: Ir em frente e pagar para ver ou optar pelo seguro e resguardar minha própria estabilidade?

E sabe qual era o problema da segunda alternativa? Era que marcá-la não trazia consigo aquele beijo gostoso ou sua pegada irresistível. Era muito evidente que ela era uma péssima escolha, mas o corpo não nos ensina como evitá-las e por isso eu caí.

— Se está falando então já começou fazendo algo que não gosto — Fui ao chão, porém ainda atirando quando me sentei ao seu lado. De onde estava seu perfume importado me invadia, me fazendo lembrar do beijo na cozinha.

Uma loucura, se poderia dizer. Eu não tinha até agora uma boa justificativa para isso, mas começava a acreditar que aquilo era frequente perto de Sam. Eu tendia a ser incoerente, extremamente contraditória e fraca. Fraca, pois seu beijo me tirava os sentidos.

— Podemos não falar se preferir — Disse olhando para minha boca por vários segundos. Quando fechei meus olhos senti que seu corpo tinha se inclinado e só então percebi que era para pegar mais vinho.

Suas bochechas estavam rosadas do álcool e seus olhos muito mais escuros, era um verde mais , algo que se confundia com a noite e aquele ar de mistério que trazia. Mon queria algo, só não sabia o que e quanto.

— O que você quer? — Perguntei simplesmente quando seus dedos longos rodearam a taça com uma calma inquietante. Eles eram ávidos e só não pareciam mais sedentos em se mover que a língua para fora da boca com minha pergunta.

Ela lambeu seus lábios levemente avermelhados da bebida e deu um sorrisinho ao perceber que eu acompanhei com o olhar cada segundo do seu movimento.

Amanhã eu culparia as poucas taças de vinho, diria que eu não tinha costume de beber e que foi só um experimento mínimo que não iria se repetir. Seria convincente dizer que para mim era um erro, mas só no dia seguinte.

Hoje eu queria ver e queria, estranhamente, que ela percebesse isso. Queria os beijos que ela pudesse me dar e, outra vez, sem conversas.

— Eu quero muitas coisas... — Falou num tom mais baixo, incitando a minha curiosidade que decidiu aguçar ao me oferecer sua taça de vinho — Mas hoje o que eu queria mesmo era você — Completou fazendo um arrepio intenso percorrer meu corpo quando falou.

A família que eu herdei (Versão Freenbecky)Onde histórias criam vida. Descubra agora