Capítulo 09 - A sociedade

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Sam

Muitas coisas haviam sido planejadas essa noite: Apresentar Mon a sociedade quando ela não estava preparada, ver que ela ficaria desconfortável e se sentiria que aquele mundo não era para ela e, principalmente, provocá-la até que perdesse o juízo e decidisse que era uma boa ideia desistir de seguir o testamento.

Se ela não se importava com o dinheiro como dizia e eu tornasse as coisas suficientemente insuportáveis talvez ela só desistisse de uma vez por todas e deixasse o caminho livre para eu vender todos os bens e ir embora pelo mundo outra vez como era meu destino.

A única coisa que não estava calculada é que também estava dificultando muito o processo era o fato dela estar linda. E não era pouco, para me ajudar, era realmente exuberante.

Quando ela desceu as escadas meio desengonçada com seus novos saltos eu lembrava que até esqueci o sermão que estava passando no lerdo do garçom, pois não tinha como prestar a atenção em outra coisa.

Seus cabelos pretos estavam ainda mais cacheados, mas eram ondas bem delineadas que caiam com uma maciez evidente apesar de não estar sob meu toque. Era como se estivessem brilhando ao fazê-lo.

Seus saltos a deixavam ainda mais alta e as tiras abraçavam suas panturrilhas como o tecido do vestido o faziam com suas inúmeras curvas. O recorte na coxa era deslumbrante e as costas expostas provocavam aquela reação que eu compartilhava com toda sala: Ela estava muito bem.

Não era necessário procedimento estético, bastou um banho bem tomado, a roupa certa que ela passou de uma gata borralheira a uma princesa em uma questão de segundos.

Não podia negar: Queria vê-la pelas costas e bem longe das minhas coisas e questões, mas ela estava gostosa. Quem sabe em outro ambiente, se eu não a achasse intragável e um atraso de vida eu até investisse para levá-la para cama.

Era só ela gastar sua energia insolente de boca calada e em cima de mim, subindo e descendo em meus dedos enquanto eu chupava o seu pescoço e demandava que molhasse meus dedos. Sim, se ela fosse outra pessoa eu via isso muito possível.

Só pela razão dela ousar tentar desequilibrar minhas pretensões mesmo que por um segundo eu a provoquei, claro que com um certo fundo irritante de verdade, mas também por saber que isso começaria a encurtar o seu pavio que já não era muito longo.

Deixei que ela conversasse com Irene Sampaio, uma das melhores amigas da minha irmã e que eu sabia ser uma alienada de merda, tudo porque eu poderia confiar que aquela velha soltaria algum impropério digno de deixar Mon exatamente como ela saiu: Consternada e fingindo educação.

Somente por essa razão meus olhos não saiam dela naquela noite. Queria acompanhar seu olhar decepcionado, um certo desespero e raiva, pois aquilo deveria me dar um certo prazer.

A verdade era que aquilo não estava vindo na proporção que eu imaginava, eu não estava exatamente sorrindo, mas eu acreditava que a qualquer minuto vê-lá querendo sair ao máximo possível me daria uma sensação melhor que a de um orgasmo.

Prospectei que isso aconteceria, não ironicamente, na hora do prato principal. Como boa suburbana certamente Mon implicaria com o escargot, afinal além de não ser típico daqui era difícil de comer e tinha em seu entorno toda aquela mitologia associada ao caramujo, apesar de serem coisas distintas.

Alguma coisa sairia dali, eu só não imaginava ainda a dimensão do fracasso gerado por sua tentativa de comer aquele prato sem estar preparada para ele.

Quando veio a entrada ela até esteve tranquila. Parecia alivia ao descobrir que um carpaccio não era um carrapato ou coisa do tipo como toda a pessoa culturalmente vazia poderia. Seu alívio era quase cômico quando alçou uma colher e deu sua primeira colherada.

A família que eu herdei (Versão Freenbecky)Where stories live. Discover now