Capítulo 28 - Um beijo como benefício

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Sam

Apertado. Quente. Pessoas esbarrando umas nas outras. Cheiro de carne de segunda. Cerveja barata. Música ruim tocada de forma estridente. Passos nada sutis. Tons de voz alto tentando ser mais que o som. Vontade de ir embora assim que cheguei. Incômodo. Horrível.

— Primeiras impressões? - Mon perguntou depois de me olhar de maneira demorada. Nada como fez ao me ver de pijama, no entanto. A morena queria saber se gostei do clube onde fomos para participar daquele pagode.

— Preciso de mais tempo — Menti. Eu tinha certeza definitiva que odiei o lugar, mas não diria isso se no fim ela me convidou por querer estar comigo. Foi o que ela deu a entender, certo?

— Leve o quanto for preciso... — Ela falou com um tom animado — ...Mas enquanto isso compra uma cerveja para gente. Eu estou indo até a Tee que eu já avistei daqui — Completou levantando o braço na multidão e depois apontando para a amiga para que eu soubesse para onde ir depois de comprar as bebidas.

Nesse momento procurei Giovanna, mas ela mal tinha chegado e já estava no meio do lugar dançando com uma mulher negra de tirar o fôlego. Ela definitivamente não perdia tempo.

Ao chegar perto do balcão de bebidas quase tive um colapso interno: Estava absolutamente cheio de gente. E não que eu já não tivesse ido para baladas com semelhante aglomerado, mas havia uma específica maneira de se comportar que tornava aquela experiência nefasta: As pessoas não paravam de invadir o espaço pessoal umas das outras.

Havia uma pseudo-fila que ganhavam ramificações a esquerda e à direita, bem como pessoas cedendo autorização para que outras entrassem em sua frente sem o menor pudor de que outros vissem sua falta de educação.

Era uma gritaria que fazia meu ouvido zumbir e era quase insuportável estar ali, me fazendo até cogitar a possibilidade de ir embora antes de pegar a cerveja requerida. Olhei para direção da mesa e Monestava fazendo o mesmo para mim, seus lábios sibilavam uma proposta de ajuda.

Eu precisa? Certamente, mas não demonstraria que era incapaz de pegar uma cerveja para aquela mulher. Ao menos pagar uma cerveja eu tinha que conseguir depois de sua oferta em me chamar.

Ela tinha pisado na bola comigo. Havia sido enxerida e tentou invadir lugares aos quais não gostaria de dar acesso, mas ao mesmo tempo foi quem ergueu uma bandeira de paz e silenciosamente me convidou a estar perto dela. Eu deveria levar uma cerveja e mostrar que eu não odiava totalmente o que estava fazendo.

— Uma gin tônica e uma cerveja, por favor — Consegui pedir depois do que pareceu uma eternidade naquela fila. Fiz isso quase gritando, pois percebi que o homem não me ouviria de outra forma.

— Aqui não vende essas coisas caras não, madame. Para beber só tem pitú, vodka, sminofre e cerveja — Ao menos a maldita cerveja.

— Então uma grade de Stela — Seria o menos pior dentro das opções. Eu nem gostava de cerveja, mas parecia o menos terrível para não se envenenar.

— Não tem essa também não — Ele falou e sinceramente eu estava um pouco chateada. Uma fila enorme e estressante para chegar na minha vez e não ter nada que se adequasse ao meu paladar.

— Não tem nada cuja baixa qualidade não vá me fazer espumar se eu tomar? — Acabei soltando sem querer e quase tentei engolir minhas palavras de novo quando o rapaz me olhou com uma cara de poucos amigos.

— Uma grade de Itaipava — Ouvi uma voz conhecida atrás de mim, colocando a mão sobre meu ombro. Era Monme salvando de um constrangimento.

— Mon? Quanto tempo, garota! Agora que enriqueceu não pensei que voltaria a um pagodinho na comunidade. Fico feliz que não tenha mudado totalmente as suas companhias — Ele falou me cutucando. Tudo bem, eu até merecia por ter começado a ser ríspida primeiro.

A família que eu herdei (Versão Freenbecky)Where stories live. Discover now