Capítulo 02 - Os termos de uma surpresa inesquecível - Parte II

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Mon

Fiz um delicioso frango com os suprimentos que encontrei no barco e, além disso, também peguei um vinho que havia escondido na parte debaixo. Peguei tudo e no fim subi até o convés onde havia uma mesa a qual decorei com umas flores de plástico que encontrei na embarcação e até acendi umas velas. Tudo simples e improvisado, mas bem organizado.

— Parece delicioso — Ela falou se aproximando e eu, como uma mulher fina que agora era, puxei a cadeira para que ela se sentasse à mesa.

Em seguida, ainda sendo a própria imagem da etiqueta, peguei as asinhas e servi no meu prato, começando a comer com as mãos sem nenhum receio. Sam parecia levemente incrédula com o ato.

Fui abaixando os dedinhos rapidamente com receio do julgamento, mas antes que pudesse concluir o ato vi uma cena que não achei que ia na vida: Sam Bragança Duarte-Leão comendo com as mãos. Dei uma risada interna. Se eu tinha dúvidas de que o "meu amor" que ela proferiu verdadeiro eu tive certeza naquele momento.

Aliás, eu quase entrei em estado de óbito quando aquilo me escapou. Foi na emoção, sem pensar, mas ela não me deixou arrependida em nenhum momento. Parecia confortável e eu tinha alguma esperança de que era bom sentir aquilo na maneira e na medida em que eu estava. Era bom chamá-la como eu sentia.

— Um brinde — Ela disse alçando sua taça e eu fiz o mesmo com a minha, tomando cuidado para que não terminasse com da outra vez. Ela tinha me tirado o peso de qualquer futuro acontecimento, mas eu ainda queria que naturalmente acontecesse.

— A nós duas — Eu falei e ela concordou batendo os Chaitais e produzindo aquele som agradável para os ouvidos. E por falar em carinho aos tímpanos, assim que terminamos de comer e lavar as louças, eu mais do que a senhora capitã, subimos com nossos cobertores para ver o mar.

Estava ficando um pouco tarde, mas uma garrafa de vinho e a temperatura de três cobertas mais um abraço gostoso eram o suficiente para nos manter cálidas, o coração principalmente.

Eu sentia o de Sam palpitar contra as minhas costas conforme observávamos a imensidão a nossa frente. Tantas gotículas, tantas histórias, o Rio de Janeiro correndo em nossas veias e em cada parte daquele azul que nos cercava.

— Você pensa em ir embora depois do contrato? — Perguntei sem querer, sentindo em meu peito o pesar de saber que o meu lugar não seria o mesmo se não houvesse Sam nele. Ela deixou tudo a sua cara e eu não queria que depois deixasse com cara de saudade.

— Não sei. Você quer que eu fique? — Ela questionou com uma risada vindo do seu âmago. Ela não parecia séria, mas o seu jeito que ela me olhava era uma súplica.

— Você disse que odiava estar aqui — Eu relembrei as suas próprias palavras fugindo da simples afirmativa. Eu perguntei, mas tinha medo da resposta.

— Eu tinha e tenho todos os motivos para querer ir embora depois desses meses Luiza. Nunca quis estar aqui, como te disse, mas de nada adianta vários motivos contra se o único que tem a favor me faz ficar como uma tonta. E você faz. Não tem você em outro lugar do mundo, eu teria achado por onde andei — Sam falou e eu a beijei de maneira profunda. Seu beijo tinha um resquício ainda do vinho consumido, o que trazia a avidez e a fome que combinava com a essência daquela declaração.

Era ela dizendo fica, era ela dizendo que valia a pena e nada dava mais sabor a um beijo que a esperança de que não fosse o último. Assim, envolvi sua língua na minha com a languidez de alguém com uma súbita febre causada pela paixão, aquelas que infelizmente só a própria alivia.

Uma mistura de cura e veneno, eu me inebriava e saciava na mesma sede, no mesmo espaço, no mesmo entrelaçar que começava dentro das bocas e as vezes se fazia presente sob a luz da lua que era testemunha daquela mútua descoberta.

A família que eu herdei (Versão Freenbecky)Where stories live. Discover now