Capítulo 10 - Retirada do testamento

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Mon

Aquele lugar não era para mim. As pessoas que circulavam nesse meio, seus comentários, suas posturas, tudo era o real avesso da pessoa que eu era e tentava ser no futuro.

Que eu não era uma madame não era novidade. Nunca ansiei por luxos, nunca tive os olhos brilhando por bens materiais e sempre vi na possibilidade de ter mais dinheiro a segurança que meu filho precisava.

Entendi que dinheiro era bom para deixar meu filho comer o que quer e ter brinquedos, uma saúde de qualidade e uma boa educação, mas perceber ele chegando perto do meu peito de madrugada com os olhinhos cheios de lágrimas me cortou o coração.

Ele provavelmente sentiu a rejeição que eu senti, percebeu os olhares maldosos em sua direção e eu não ia admitir que aquilo acontecesse de novo sob nenhum aspecto.

Eu amava Mauro e respeitava sua última vontade como se respeita a autoridade de um pai que era bom e benevolente, mas com o meu filho no assunto não tinha discussão.

No momento em que o Chai se sentisse mal em estar aqui não estaríamos e não havia bilhões de reais que me convencessem que o melhor era ficar. Teríamos uma conversa franca e se ele me confirmasse que essa era a razão do seu choro Sam sequer me veria no café da manhã.

— Bom dia pequeno — Eu disse cheirando seu pescoço. Era o meu ponto de paz no mundo bem ali. Não importava se eu chorasse, não importava que eu me sentisse mal ele sempre seria o meu pilar em qualquer ocasião.

— Bom dia mamãe — Falou me dando um beijinho gostoso na bochecha — Você está melhor? — Emendou o menino daquele seu jeitinho sentimental que me derretia.

— Se você estiver melhor eu estou melhor também — Eu falei para ele que pareceu pensar por uns segundos sobre o que eu estava dizendo. Eu não mentiria para ele, pois ele me viu chorar, mas não deixaria também que ele soubesse que aquilo tinha me abalado profundamente.

Assim eu teria que explicar para ele as razões pelas quais naturalmente não deveríamos estar ali. Os preconceitos, as divisões, as coisas que ameaçavam separar as pessoas como se todas as pessoas não fossem iguais e sentissem o mesmo calor, alegria e dor.

— Eu estou triste — Ele disse fazendo meu coração ficar apertadinho — Mas quem sabe se eu pudesse tomar sorvete no café eu ficaria feliz — Completou como um pequeno pilantrinha.

— Chantagem? Eu não te ensinei essas coisas feias não. Está aprendendo isso com a sua "Tia" Sam? — Brinquei colocando as aspas. Era a maneira como ele a chamava.

— Ela não é minha tia — Falou e fechou a cara de uma maneira que eu não tinha visto antes para nenhuma pessoa. Era bom que ele entendesse, mas a sua reação não era compatível a pessoa que ele era e isso me intrigou muito.

Eu não perguntaria a ele sobre, mas Sam não escaparia de um certo interrogatório. Com as poucas palavras de Chai descemos as escadas para o café da manhã. Era sábado e depois de tudo tínhamos combinado de ir comprar meus materiais escolares.

Depois de tudo a herança serviria para me ajudar a retornar aos meus estudos. Havia conversado disso com Kirk tinha um tempo e ele disse que seria ótimo me especializar mais. Seria bom para os negócios e bom para mim de uma maneira pessoal.

Um dia, talvez, eu seria uma grande administradora como Mauro era. Ele não estaria aqui para ver, mas certamente isso o deixaria feliz de onde quer que ele estivesse.

— Bom dia — Sam falou num tom baixo. Suas olheiras em volta dos olhos verdes denotavam que a manhã poderia ser boa, mas certamente a noite foi terrível.

A família que eu herdei (Versão Freenbecky)Where stories live. Discover now