Capítulo 13 - Os últimos dias comuns

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Sam

Acordei sentindo o cheiro de Luzia diretamente da fonte, totalmente satisfeita com a deliciosa sensação de tê-la em meus braços toda a noite e também quando vinha o dia. Era como meu motivo para me despertar pela manhã, para abrir os olhos e ir trabalhar, ou melhor, fingir que trabalhava.

Era para ser um dia comum como todos os outros que eu tinha desde que começamos a ficar sério, uma rotina gostosa, sem grandes sustos, regada a beijos apaixonados mesmo nos corredores da nossa loja na Tijuca.

Eu apontava lápis e jogava Pet Rescue, Mon cuidava para que nosso patrimônio crescesse e se algo saísse do controle ela me consultava para que intervisse depois de reclamar cerca de duzentas vezes.

Funcionava bem para nós duas que assim fosse e eu acabei me acostumando com aquela vida e querendo com ela acordar todos os dias para viver a minha nova realidade junto com ela.

Eu passava a entender Mauro e o odiar menos quanto mais amava Mon: Ela era um raio de sol no meio da chuva, um dia quente de verão ou até mesmo um picolé em plena praia da Barra: Mon era alívio e cura para mim como foi para o velho.

— Bom dia — Falei dando muitos beijos nela para que acordasse, mas não adiantou. Seu sono estava tão pesado que só não me preocupei porque lembrava perfeitamente das pérolas e das algemas.

Mon estava exaurida. Fiz ela passar muito bem na última noite e a consequência era esse sono que a abateu de maneira tão pungente que não pude fazer a maldade de acorda-la, não quanto mantinha o seu dedo sobre a boca.

— Amo você — Falei aproveitando do seu dono. Não estava preparada para dizer aquilo com ela perfeitamente consciente e correr o risco dela não dizer o mesmo. Era precoce e não queria tornar meus sentimentos uma questão entre nós duas.

Com isso, me levantei da cama e finalmente tomei um banho, com todo cuidado para driblar alguns indícios da noite anterior: Em meus braços pareciam duas pulseiras vermelhas, em meus seios marcas redondas de mesma cor, provocadas por sua boca e pela intensidade da massagem com as pérolas que ainda se mostraram também em minhas pernas.

Era assim que eu gostava e me sentia bem com que ela não só percebesse como embarcasse nos meus pensamentos mais libidinosos. Tinha impressão, pele maneira como ela me entendia dentro e fora da cama, que não havia outra para mim, a minha mulher tinha que ser Mon. Por quanto tempo fosse permitido.

Desci as escadas como quem pisa em nuvens depois de conferir o Chai no quarto e outra vez descobrir que a mania de deixar sua porta aberta no momento do sono se perpetuava. Outra vez teria que conversar disso com Mon, pois ele já se machucou uma por essa irresponsabilidade, duas vezes e eu realmente ia ficar muito irritada.

Estava terminando de me espreguiçar passando da sala para cozinha, cogitando a possibilidade de levar o café de Mon na cama e imaginando como pedir isso a Armênia uma vez que não tinha ideia nem de como se montava uma bandeja.

Porém, algo me travou antes que eu concluísse o caminho. Algo loiro, alto, com cabelos lisos e ondulações nas pontas. Terno de alfaiataria branco de caimento perfeito, ajustado e de fina marca. Em seus pés um típico salto alto de mesma cor. A única coisa que diferia daquele tom branco que havia até mesmo no platinado do seu cabelo eram os óculos negros que tirou assim que percebeu minha presença.

Abaixou as lentes e enfim os olhos verdes estavam em mim. Os mesmos verdes que eu tinha, mas preenchido por uma frieza que eu não tive nem em meus momentos mais obscuros.

— Acha adequado andar assim por aí? — Foi o primeiro que me disse depois de anos afastadas. Claro, um julgamento é sempre o primeiro que se quer ouvir de sua mãe assim que a encontra.

A família que eu herdei (Versão Freenbecky)Where stories live. Discover now