Capítulo 19 - Inimigas com benefícios

686 86 6
                                    

Mon

Naquele dia Sam não veio trabalhar e mesmo que não estivéssemos exatamente próximas depois de nosso beijo eu notei sua ausência. Não era a mesma coisa perambular por aquela loja sem saber que uma hora ela sairia do escritório atrás de um café ou de simplesmente trocar um olhar com o meu.

A ausência do seu olhar, aliás, era outra coisa que estava em falta. Eu tinha minha parcela de culpa em não procurar conversar, mas o seu ânimo para querer isso também era indicativo de que não deveríamos insistir. E no final o que eu diria?

Não deveríamos ter nos beijado, mas ainda podemos ser amigas?

Não éramos amigas, nunca fomos nem perto. Havia uma atração perigosa entre nós que estava borbulhando tinha um tempo e naquela noite fatídica finalmente atingiu o seu mais alto ponto.

E como tinha sido bom... Beijar Sam era como me encontrar com a dose de uma bebida muito requintada. Era algo que eu nunca tinha experimentado é que tinha um gosto quase alcóolico, pois me inebriava a cada gole.

Ela sabia o que fazer com a sua língua. A maneira impetuosa que tocou a minha, como a envolveu com habilidade e sôfrego foi o motivo de que eu não estivesse dormindo bem há duas semanas.

Sentia que a tendência era continuar dali para pior então se não tomasse a atitude de dividir aquelas inquietudes com alguém eu enlouqueceria mais cedo ou mais tarde. Assim, quando fui possível chamei Maria Tee para um almoço.

— Confesso que fiquei surpresa com seu convite assim no meio da semana —Ela falou depois de me cumprimentar com dois beijinhos.

— Não posso querer colocar o papo em dia com a minha amiga? — Questionei fazendo cara de paisagem para olhinhos apertados de desconfiança.

— E o que pode ter acontecido de tão interessante em tão pouco tempo para exigir um almoço assim num lugar tão chique? — Tee falou sedenta pela fofoca.

Tee era uma ótima amiga. Esteve comigo nos meus momentos mais difíceis e sempre foi uma pessoa em que eu podia confiar. Exceto pelo meu saudoso Mauro era com quem eu poderia contar em qualquer ocasião e ela sabia que tudo aquilo era muito recíproco.

— Eu beijei uma pessoa — Eu disse de maneira rápida, quase juntando o final das palavras com os inícios. Tee arregalou os olhos prontamente.

— Bem, se eu soubesse que era esse o evento teria fechado uma rua ou decretado um feriado nacional que seria mais compatível. Mon do céu tem uns dois anos que não ouço você dizendo que deu uns amassos em ninguém e do nada você me surge com essa — Tee disse exagerando tanto quanto achava possível. Fazia parte do seu jeitinho.

— Não é para tanto. Foi só uma coisa sem importância que eu prefiro esquecer — Esclareci antes que fizesse mais alarde do que era necessário.

— E quem foi o felizardo ou felizarda? Eu por acaso conheço? — E foi aí que o meu rosto começou a arder de vergonha. Foi ficando vermelho e mais vermelho, situação que eu conseguia medir somente conforme ele esquentava — Eu conheço a pessoa? — Tee nem esperou que eu confirmasse — Claro que conheço, essa cara está entregando tudo — Concluiu sozinha dando uma boa risada. Pedi que gargalhasse mais baixo ou então todo restaurante viraria as atenções para nós.

— Foi a Sam — Falei como se tivesse tirando depilação na cera. Rápida, seca e sem preâmbulos desnecessários. Por um momento Tee tentou lembrar de quem era, mas quando constatou sua mão foi a boca.

— Sam, Sam? Sam a tua irmã? Mon tu beijou a boca da tua
irmã? — Tee falou tão chocado que a mulher da mesa do lado nos direcionou um olhar mortífero de quem nos condenava a uns três fogos do inferno sem direito a mudança de regime por bom comportamento na pena.

A família que eu herdei (Versão Freenbecky)Where stories live. Discover now