03 - Lei de Murphy

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A primeira coisa que tirou o bom humor de Mika foi o alarme. E não era nem o dela.

Ouviu Raquel descendo pela escada do beliche segundos depois, e, em seguida, o barulho de uma topada. Sua amiga até tentou reclamar baixo, mas acabou se desequilibrando e caiu na cama de Mika. Foi o suficiente para fazer Mika desistir de voltar ao sono e tirar a coberta felpuda do rosto.

— Qual é o seu problema?!

Precisou pegar o celular e ligar a lanterna para ver o rosto de Raquel, que lhe dava um sorriso sem graça.

— Foi mal. Bati o mindinho na quina da cama e perdi as forças.

Mika bufou enquanto sua amiga se levantava.

— E precisa acordar tão cedo assim? — questionou.

— Quem tem o cabelo curto aqui é você. Se eu não ajeitar o meu antes, fica horrível o dia todo.

Como não conversavam tão baixo quanto deveriam, despertaram Yandra e Maely também.

— Calem a boca — Maely resmungou na parte de cima do outro beliche. — Ainda tenho direito há cinco minutinhos...

— Vocês que sabem. — Raquel deu de ombros e pegou sua toalha no guarda-roupa. — Mas eu é que não vou enfrentar aquele banheiro quando estiver cheio de garotas apressadas, que nem ontem. Boa sorte pra vocês depois.

Quando a amiga fechou a porta, Mika se permitiu pôr a coberta no rosto e grunhir. Ainda estava com sono. E duvidava muito que alguém acreditasse caso mentisse que estava doente para faltar.

Nem essa opção você tem mais, garota!, ela pensou, ficando pior que antes.

Um péssimo início de primeiro dia de aula.

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Com a cara fechada, Mika apenas focava em tomar seu café da manhã. Não que a comida estivesse ruim. Na verdade, chegava a ser espantoso que aquela fosse a única parte boa que lhe aconteceu na última hora.

Como no dia anterior, o refeitório estava cheio e barulhento. Suas amigas nem sequer se importavam com seu estado de espírito naquele momento, conversando animadas. Mika precisava urgentemente de um tempo sozinha para colocar as emoções negativas no lugar.

Talvez estivesse exagerando em sua carranca. Não era como se aquela não fosse ser sua futura rotina: acordar cedo, batalhar por uma cabine para banho, depois uma pia para escovar os dentes, se arrumar e ir comer no refeitório. E depois... bem, muitas aulas. Aulas demais. Aulas que ela cogitava matar. Sabia que não conseguiria, mas sonhar era de graça.

— Qual é o seu primeiro tempo, Mika?

Ela encarou Yandra, que lhe fitava em expectativa.

— Sei lá. Acho que é sociologia. Deixei meu papelzinho no quarto.

— A gente tem que ver em quais salas conseguimos ficar juntas — Maely disse. — Espero que ao menos em uma matéria fique nós quatro.

— Acho difícil — Raquel retrucou, fazendo um careta ao dar um gole em seu café. — Já viram o tanto de gente neste internato? A chance de cairmos juntas é mínima, e olhe lá. Me contentei com a realidade e estou feliz que ao menos dormimos no mesmo quarto. Tudo bem que teve um custo extra, mas valeu a pena.

Yandra suspirou.

— Se não ficarmos juntas, quem vai me ajudar nas aulas? Ou passar cola?

Mika conseguiu soltar uma risadinha e logo respondeu:

— Arranja uma nova amiga que faça isso. Põe teu eu extrovertido em ação. De nós quatro, você é a mais provável de conseguir uma amizade nova.

— Ah, mas eu quero vocês. — Yandra fez biquinho.

Raquel rolou os olhos com força, apenas para irritá-la.

— Se eu tivesse mais olhos, eu revirava — Yandra falou com voz infantil, imitando o que Raquel sempre dizia.

Sem prestar mais atenção ao que as amigas discutiam, Mika levantou da mesa e pegou sua bandeja. Yandra lhe dirigiu a atenção, parando de brigar com Raquel.

— Mas já? Não vai nem repetir?

— E enfrentar aquela fila ali de novo? — Mika apontou com o queixo para lá e balançou a cabeça. — Nem morta. Vejo vocês no quarto.

As meninas acenaram enquanto ela saía, como criancinhas que se despediam do novo amigo do parquinho. Contudo, suas expressões mudaram segundos depois, apontando para algo atrás de Mika. Como olhava por cima do ombro para as amigas, Mika não sabia o que exatamente podia estar à sua frente. E nem teve chance de descobrir antes de tudo acontecer.

Talheres caindo, pratos e xícara quebrando, o metal da bandeja batendo contra o piso de porcelana. Em seguida, silêncio. Ele foi tão profundo que, se uma agulha caísse no chão, todos poderiam ouvir.

Segundo mico em menos de vinte e quatro horas. Que sorte, Mikaely!

O esbarrão havia resultado na queda da bandeja, o que quebrou as louças que Mika tentava levar com tanto cuidado. Sentiu também respingos de algo quente no braço, mas nada preocupante para seu uniforme. Contudo, o enfurecido garoto à sua frente não teve a mesma sorte.

O (amor) Assassino Está Entre NósWhere stories live. Discover now