16 - Verdades mentirosas

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Mal parecia que uma semana havia se passado desde que ficara preso com Mikaely. E, para seu bem-estar mental, preferia ignorar aquele fato.

Infelizmente, não obtinha tanto sucesso naquela tarefa...

Enquanto enrolava em seu joguinho offline no celular, ao invés de estar se arrumando para a confraternização que teria com todos os alunos da instituição — algo como um luau —, sua mente se voltou para as horas que passou trancado com a intrigante garota.

Antes, Mikaely parecia alguém chato. Nunca daria uma qualidade àquela menina. Porém, com o passar dos minutos e sem sinal de alguém ir lá salvá-los daquele calor e escuridão da biblioteca, tiveram que arranjar assuntos para conversar. E foi ali que descobriram como eram bastante parecidos. Animes? Os dois gostavam. Músicas? Gostos bastantes parecidos. Séries? Assistiam as mesmas. O humor duvidoso? Compartilhavam também. Chegou a ser assustador encarar aquela garota que lhe fez rir tanto.

— João?

João Pedro piscou, levantando o olhar do joguinho que já nem prestava atenção e focando em Rikelmy.

— Oi.

— Não vai se arrumar não? — Rike franziu o cenho, terminando de abotoar sua camisa social.

— Vou sim. Só terminar aqui. — João abriu um ligeiro sorriso, não muito sincero.

Antes de voltar a encarar o celular, passou o olhar por Armando, que também terminava de se arrumar.

Infelizmente, desde que foi encontrado pelo funcionário Jean na biblioteca com a ex de seu primo, Armando insistia que algo havia passado entre eles. Obviamente João Pedro negava, o que era verdade. Mesmo tendo sido um momento mais descontraído, nada além havia acontecido. E, mesmo se tivesse passado, o que Armando poderia fazer? Ele e Mikaely já não tinham mais nada. Mas, enfim. Não passaria nada entre ele e Mikaely, pois havia Clara.

Clara..., pensou, fazendo uma suave careta enquanto encarava a tela apagada do celular.

Ela também havia ficado um tanto enciumada com a situação, por mais que negasse sempre que João tocava no assunto. Ela ria e dizia que não era nada demais. Porém, notava a raiva no olhar dela sempre que Mikaely passava minimamente perto deles.

E tudo culpa daquele maldito Jean.

As amigas de Mikaely haviam estranhado as horas que ela passou longe, e avisaram os funcionários. Então Jean, um dos zeladores que cuidava de trancar a biblioteca, foi com elas ali. Quase onze da noite ele e Mikaely foram encontrados nas mesas dos fundos, entre conversas e risadas.

Aquele fofoqueiro do Jean não ficou com a boca calada sobre o assunto — talvez irritado por levar bronca pelo fato ter trancado dois alunos ali sem conferir o local antes. O homem saiu comentando pela escola toda como os dois foram encontrados, dando a entender que haviam ficado trancados sozinhos de propósito. E por culpa disso seu primo e Clara desconfiavam de algo, o que era loucura. Por Deus, quando as pessoas iam entender que nada daquilo foi planejado?!

— Bom, se vocês vão agora ou não, eu não sei — começou Rike, o que chamou sua atenção de volta a ele —, mas eu já vou. Soube que vai ter mesa de comida e quero chegar antes que acabe. Vejo vocês lá.

João Pedro assentiu em sua direção, enquanto os outros dois garotos no quarto falaram tchau.

Sem querer voltar ao seu joguinho, fingiu mexer no celular — não ter uma internet boa era horrível! — e prestou atenção na conversa entre Armando e Ismael. Não podia negar que se sentia um tanto enciumado por seu primo estar se tornando tão amigo daquele estranho.

Por baixo dos cílios, analisou o dito-cujo.

Tirando o fardamento do dia-a-dia, era comum Ismael usar roupas mais escuras ou algo do próprio colégio. Daquela vez, havia optado por um moletom azul-marinho com a logo da instituição DulciVa, mas provavelmente usava também uma camisa por baixo. Devia ter comprado o moletom fora a parte das que todos receberam como brinde, que era um moletom cinza-escuro com a logo da escola, bem comum e usado nas salas de aula.

Como se sentisse o olhar sobre si, Ismael fitou João por cima dos ombros, franzindo o cenho. Para não ficar um clima estranho, João tentou sorrir para o garoto e levantou da cama. Seria bom tentar ficar apresentável e se apressar. Queria ao menos comer algo na confraternização.

Armando estava próximo do guarda-roupa, para onde João Pedro se dirigia. Preferiu não levar como uma ofensa quando seu primo se afastou abruptamente, logo andando em direção a saída.

— Vamos, Ismael. Quero aproveitar a festa.

Ismael conferiu algo em seu celular, logo depois seguindo Armando.

A porta fechou com um suave baque, deixando claro que João estava sozinho.

Respirou fundo enquanto pegava uma blusa qualquer da sua parte do guarda-roupa.

Não importava o quanto dissesse a Armando ou Clara que nada passara entre ele e Mikaely, parecia que nenhum iria acreditar nele. Seria um sonho desejar alguma maneira de mostrar aquilo a eles?

Contudo, no fundo da mente de João — em uma parte que evitava dar ouvidos —, uma vozinha tentava ganhar força. A voz dizia que ele não estava sendo sincero consigo mesmo e com os demais.

O (amor) Assassino Está Entre NósWhere stories live. Discover now