21 - Quarto escuro

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Sozinho no quarto escuro, apenas a luz do celular de João Pedro se destacava.

Não sabia o que mais sentia em seu peito: raiva, confusão ou desespero. Raiva pela situação. Confusão por não saber quem teria motivos para prejudicá-lo — por mais que ainda apostasse bastante em Mikaely. Desespero pelo que Armando faria se visse aquele vídeo.

Será que a pessoa mandou para ele também?

Grunhiu ao chegar à conclusão que provavelmente seu primo estava a par da situação. Se Clara havia recebido, nada impedia que Armando também. E isso significa que a pessoa que enviou aquilo estava bastante ciente do relacionamento de cada um deles.

Deu play outra vez no vídeo que havia salvado do email.

Ele e Mikaely conversando e rindo. Próximos. Felizes. Alheios à desgraça que passaria uma semana depois.

Mesmo sem som, o cérebro de João conseguia escutar as risadas. A da garota era mais doce e alta. João lembrava como escutá-la tinha feito seu coração disparar e o estômago esfriar.

Bufou, querendo tacar a cabeça na parede por culpa daqueles pensamentos.

Mikaely era uma desgraçada, isso sim. Mesmo se não tivesse sido ela a enviar aqueles emails, continuava sendo uma pessoa ruim. Devia manter distância dela, odiá-la, repudiar qualquer coisa que a envolvesse.

Contudo, o dedo de João agia por vontade própria. Outra vez deu play no vídeo e admirou a cena. Por mais que quisesse relutar contra o pensamento, sabia que algo naquela noite mexia consigo. Era como se uma nova camada tivesse sido acrescentada à Mikaely que conhecia; uma camada que a deixava com o rosto mais bonito, a risada mais agradável e a voz atraente.

Outra vez João bufou, conseguindo encontrar forças para desligar a tela do celular.

Mikaely era chata, feia e repugnante. Uma desgraçada, uma piranha, uma vagabunda.

Era melhor deixar sua raiva se sobressair sobre qualquer coisa.

Na manhã seguinte iria procurar por Clara, pedir outra chance e fazer juras de amor. Então falaria com seu primo e explicaria toda a situação. Tudo o que Armando precisaria fazer era acreditar nele, mesmo com aquele vídeo que não lhe ajudava.

João deitou na cama e se escondeu sob a coberta.

Contudo, naquele momento, só queria fugir da realidade.

O (amor) Assassino Está Entre NósWhere stories live. Discover now