24 - Estufa

9 2 8
                                    

João Pedro admirava o céu coberto de nuvens quando percebeu alguém se aproximando dele. Olhou para o lado, notando ser uma das amigas de Mikaely. Sabia que Raquel fazia parte do seu grupo de aulas de jardinagem, mas ignorava sua presença na maior parte das aulas. A garota fazia o mesmo, poucas vezes lhe dirigindo alguma atenção maior que alguns segundos. Contudo, talvez por estar ao ar livre e caminhando em direção à estufa — onde seria a aula naquela tarde —, Raquel se sentiu mais confortável para se aproximar.

— Nada a declarar?

João arqueou uma sobrancelha para ela, que começou a andar ao seu lado e no mesmo ritmo calmo.

— Eu devia? — ele retrucou.

— Claro. Xingou minha amiga e ainda acusou ela de algo que não fez. O mínimo é explicações.

Ele revirou os olhos.

— Se eu tivesse que me explicar a alguém, sem dúvidas você não seria essa pessoa.

— Pois eu acho bom se desculpar com a Mika. Pois foi muito idiota da sua parte o que fez. — Raquel cruzou os braços, encarando-o com seriedade.

— Escuta, garota. Você não tem mais o que fazer da vida, não? — João Pedro grunhiu, segurando-se para não revirar os olhos outra vez. — Sei lá, vai com aquelas tuas colegas daqui ou então acompanha a professora ali na frente. Tô com paciência pra aguentar ladainha não.

A garota arqueou uma sobrancelha.

— Sua imbecilidade não me afeta. Só acho bom que não pense que pode fazer o que bem entender com a minha amiga. E isso também serve para aquele seu primo. — Ela apressou os passos, se afastando para perto da professora.

João aproveitou aquele momento para revirar os olhos.

Garota chata.

Olhou por cima dos ombros, fitando Beatriz, uma das amigas de Clara. Não mantinha contato com ela, mas sempre a via acompanhada de seu antiga ficante. A garota mexia freneticamente no celular, seu cenho franzido. Talvez digitando uma mensagem.

João desejou se aproximar para questionar o motivo dela e suas amigas, assim como a própria Clara, não terem comparecido no refeitório na hora do almoço. Outra vez tinha planejado como abordar a garota e o que dizer. Contudo, outra vez, também não a encontrou. Parecia um complô para que ele realmente nunca mais olhasse em sua cara.

Encarou o caminho à sua frente e logo encontrou a estufa da instituição. Grande, feita de vidro e cheia de plantas diversas no interior. O verde das folhagens era o que mais se destacava, contudo, também havia muitos outros tons de vermelho, rosa, azul e amarelo entre as espécies presentes.

Naquele dia, era o momento de conhecer as plantas carnívoras, e estava animado para isso.

Apressou o passo para alcançar o grupo que seguia e conversava com a professora Lorena, Raquel entre eles. Não demoraram para abrir a porta da estufa, o ar quente acumulado os abraçando no mesmo instante. Assim que João inspirou, o cheiro de terra e típico de plantas lhe invadindo as narinas em seguida. Então fez uma careta, sentindo um odor estranho no ar.

— Pessoal, com cuidado e organização, vão ali no armário amarelo pegar as pás e um par de luvas para quem não quiser sujar as mãos hoje — a professora disse, dirigindo-se à grande mesa retangular que havia no meio da estufa, onde os alunos se reuniam para a aula. — Está abafado aqui dentro, né? E um cheiro diferente.

— Deve ser algum sapinho morto, professora. — Um aluno comentou, fazendo todos rirem. — Lembram daquela que a gente encontrou na última vez?

— Aquilo não era um sapinho não, era um sapão — outra garota retrucou, rindo.

João acompanhou o clima descontraído com um sorriso, seguindo logo atrás de Beatriz e alguns outros alunos que se dirigiam ao armário. Distraiu-se por um momento, passando a mão pelas pétalas de uma begônia rosa que desabrochava. Aquele rápido segundo foi o bastante para assustá-lo com o grito que veio em seguida, alguns metros à sua frente.

Todos se espantaram, encarando Beatriz e o grupo de pessoas em frente ao armário.

— O quê foi, pessoal?

— É, o que aconteceu?

— Tá tudo bem?

João ignorou os questionamentos dos demais alunos e se espremeu para ver o armário. Da última vez, Beatriz também tinha encontrado um sapo ali e feito um escândalo.

Sua boca escancarou, o olhar passando por cada canto da cena.

Sangue seco, um corpo morto e algumas moscas rondando ele. A boca estava aberta, assim como os olhos. Olhos opacos e sem vida. Na garganta, era notável o corte profundo que fora feito. E, com o corpo deitado desajeitadamente no espaço livre que havia no armário, também era óbvio que a pessoa tinha sido jogada ali para esconder a cena.

E não era qualquer pessoa.

Era Clara.

O (amor) Assassino Está Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora