19 - "Eu vi vocês."

8 1 3
                                    

Mika se permitiu um pequeno sorriso ao clima do exterior.

Não fazia mais de alguns minutos que saíra do dormitório feminino, pensando no que poderia roubar da mesa de comida e levar sorrateiramente ao quarto. Graças ao casaco grosso que vestia, o vento de fora não lhe incomodava tanto.

Certa de que o caminho à frente era seguro para se seguir sem mirar, fechou os olhos por uns segundos. Respirou fundo o ar fresco. O cheiro de terra e grama molhada lhe invadiu no mesmo instante. Uma sensação bem de cidade do interior.

Quando abriu os olhos, franziu o cenho.

Uma pessoa caminhava apressadamente a alguns metros, parecendo ir em direção ao dormitório masculino. Os postes que iluminavam o caminho não eram ruins, contudo, tampouco lhe ajudaram a reconhecer logo nos primeiros segundos quem era. Apenas quando a pessoa olhou para ela e mudou a rota que seguia, indo em sua direção, Mika notou ser João Pedro. Um João Pedro bastante bravo.

Parou de caminhar, colocando as mãos nos bolsos da calça.

Respirou fundo outra vez, desejando controlar seu coração que começava a bater descompassado.

Por que aquele garoto ficaria com raiva dela tão de repente?

— Sua vagabunda!

Mika arregalou com o xingamento gratuito.

A preocupação deu espaço também à raiva.

Quem aquele menino pensava ser para chamá-la assim?!

— Do que você me chamou?! — Aprumou a postura, principalmente por João já estar bem mais perto.

Era apenas os dois no meio daquele gramado. E era nítido que João fervilhava de raiva.

— De vagabunda. E poderia acrescentar muito mais, sua desgraçada. — Ele se aproximou, respirando com força. — Você pensou em tudo aquilo, né? Por isso escolheu as mesas do fundo. Por isso escolheu um horário tão tarde. Você sabia que tínhamos chances de ficarmos presos e sozinhos. E ainda conseguiu a ajuda de algum funcionário para nos gravar. Você é uma...

Mika deu alguns passos para trás, garantindo sua segurança, e franziu o cenho.

— O quê? Que merda você tá falando, garoto? Eu não fiz nada.

João Pedro soltou um riso sarcástico.

— Ah, então nega ter feito tudo isso só para me separar da Clara?

Por mais que não fosse bom para suas justificativas de ser inocente, Mika gaguejou.

— É a sua vingança por eu ter te derrubado, não é, imbecil? — ele rosnou.

Tomou uma longa lufada de ar, tentando recobrar a estabilidade.

Ainda era difícil saber do que estava sendo acusada, mas precisava entender a situação.

— Me explique que merda está passando.

Observou João Pedro tirar o celular do bolso, desbloquear a tela e colocar ela bem diante de seus olhos. Mika nem mesmo conseguiu dizer algo, pois o garoto deu play em um vídeo. Com os olhos se arregalando a cada segundo, Mika teve a péssima visão de uma versão dela e do garoto à sua frente de uma semana atrás. E, pior ainda, o vídeo dava a entender que algo romântico havia rolado naquele encontro.

— E-eu nem tenho motivos para fazer isso.

Quem teria conseguido aquele vídeo?

— Para fazer a Clara terminar comigo e nem querer mais olhar na minha cara. — João voltou a guardar o celular. Seus olhos ainda fitavam Mikaely, carregados de ódio. Parecia a um passo de partir para cima dela. — E meus parabéns. Você conseguiu.

Mika engoliu em seco.

Sim, antes havia planejado algo que fosse capaz de causar aquele acontecimento. Mas não havia sido ela que fizera aquilo. Até mesmo desistira de seguir com seu plano contra João!

— Armando sabe disso? Ele viu o vídeo?

— Pouco me importa meu primo agora, Mikaely! Eu só quero que você admita logo que...

— Eu não fiz isso — cortou no mesmo instante, muito séria. — Posso não gostar de você, mas não faria um rebuliço tão grande assim. E acha mesmo que eu teria acesso às câmeras da escola?

João soltou um riso seco, balançando a cabeça.

— Você é uma otária, Mikaely. — Ele começou a se afastar, indo em direção ao caminho que levava ao dormitório masculino. — Espero que Armando abra os olhos sobre você e acredite em mim. Pois eu sei que nada de bom aconteceu naquela noite na biblioteca.

Esforçou-se para permanecer impassível, resistindo ao desejo de engolir em seco.

Não gostou de como as palavras de João havia ferido seu coração.

Mika soltou o ar com força, em seguida correndo em direção ao seu próprio dormitório. Quando enfim alcançou seu quarto e destrancou a porta, procurou por seu celular que carregava na mesa de cabeceira. Tirou ele dali, desbloqueando a tela com a mão trêmula de raiva.

Sentou-se na cama, esperando com sua parca paciência o vídeo carregar

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Sentou-se na cama, esperando com sua parca paciência o vídeo carregar. Demorou, mas enfim a internet decidiu lhe tirar aquela ansiedade. Como o que João lhe mostrara em seu próprio celular, o vídeo de poucos segundos que assistia era igual. Ela e João Pedro rindo e se aproximando.

Analisou a mensagem abaixo do anexo e o remetente.

"Eu vi vocês."

isakl3384@email.com

Quem era aquela pessoa? E como tinha conseguido acesso às câmeras?

Devia ser alguém importante no instituto. Era a única opção possível. E, ainda assim, não fazia sentido.

O (amor) Assassino Está Entre NósWhere stories live. Discover now