O (amor) Assassino Está Entre Nós

27 - Juntos? Nunca mais.

Um pouco mais de um mês se passou desde o assassinato de Clara.

Todos esperavam que o clima na instituição fosse retornar ao normal com o passar dos dias. Mika esperava por isso, do fundo do coração. Queria a certeza de que estava bem naquele ambiente. Mas então novos corpos começaram a aparecer. Outras quatro meninas mortas. Mika não conhecia nenhuma delas.

Nem mesmo sabia se Jean realmente fora o culpado da morte de Clara. Contudo, ela e suas amigas ainda desconfiavam se tratar de algum funcionário da escola. Era a única explicação plausível para o assassino conseguir passar ileso por todas as câmeras de segurança, às vezes até apagando algumas imagens. E Mika duvidava que a coordenação pedagógica chamasse a polícia. Pelos boatos que escutava, o diretor pagou para comprar o silêncio das famílias das vítimas e inventou outra história para as mortes. A cada novo corpo descoberto, um novo funcionário era mandado embora e tido como o culpado do crime, até que um novo corpo aparecia.

Tudo o que Mika queria era uma internet para pedir socorro aos pais ou ao menos sinal para conseguir ligar à polícia. Todos os dias tentava as duas coisas. Nunca alcançava algum resultado.

Com um suspiro pesado, afastou os pensamentos ruins e focou no caminho até a aula de química. Não sabia se Raquel ou Maely já tinham chegado, mas queria ter certeza que sentariam próximas.

Ao entrar na sala de aula, franziu o cenho. Armando sentado na mesa onde ela e suas amigas preferiam ficar. Mika olhou rapidamente ao redor, em busca de algum outro local que as três pudessem ficar. Porém, assim que fitou outra vez Armando, percebeu que ele parecia querer falar com ela.

Assim como com João Pedro, Mika não conversava mais com Armando. Poucas vezes se cumprimentaram no refeitório, nas aulas ou nos corredores. Ignorava a presença dos dois. Porém, talvez não pudesse fazer isso naquele dia.

Suspirando com pesar, sentou-se de dupla com Armando.

Nos primeiros minutos, o garoto não disse nada, e Mika seguiu o exemplo. Se ele queria conversar, seria no seu tempo. Ela que não puxaria assunto só para o clima não ficar estranho.

Suas amigas entraram segundos depois, franzindo a testa para a cena. Como a mesa ao redor dela e de Armando já estavam ocupadas, Raquel e Maely sentaram como duplas no outro lado da sala, ainda os encarando com confusão. Sem muito o que fazer, Mika abriu um rápido sorriso a elas.

O professor Maciel começou a aula, obrigando Mika a prestar atenção nele.

O tempo passou, o quadro foi preenchido por átomos de carbonos e nomenclaturas, mas Armando não dirigia nenhum sussurro a Mika. Teria interpretado mal o olhar do garoto?

Para seu maravilhoso alívio, os quarenta e cinco minutos de aula não duraram uma eternidade. Quando o sino tocou, soltou um suspiro e começou a guardar seus materiais. Só mais uma aula e poderia ir almoçar. Só mais uma aula e estaria livre daquele sufoco que era estudar.

Antes que levantasse e seguisse com os demais alunos, Mika sentiu uma mão em seu antebraço. Olhou para o lado, percebendo que Armando a segurava. Como no início da aula, seu olhar era profundo, sedento por conversar com ela.

Mika olhou para a porta, vendo suas amigas passarem arqueando uma sobrancelha em sua direção. Em resposta, Mika assentiu, deixando que elas fossem à frente. Então olhou para o professor, que se ocupava com algo no notebook.

— Podemos conversar?

Suspirou, logo respondendo:

— O mais rápido possível. Não quero chegar atrasada.

Armando assentiu.

— É claro.

Mika o encarou, esperando pelas palavras dele. Armando, por sua vez, gaguejou um pouco. Parecia não saber as palavras certas para dizer. Em seguida, o garoto suspirou e simplesmente soltou:

— Estou preocupado com sua segurança.

Mika engoliu em seco.

— Todos estamos assim.

— E-eu sei, mas... mas eu estou com medo do que pode acontecer. E queria uma maneira de poder te proteger. Realmente temo pelo que pode passar no futuro. — Armando engoliu em seco. — As coisas estão muito incertas por aqui.

— Olha, Armando, não precisa se preocupar comigo. Tenho tomado cuidado e estou atenta a tudo que acontece ao meu redor. Não preciso que cuide de mim.

Outra vez, Armando engoliu em seco, nervoso.

— Não foi apenas para dizer que me preocupo com você que te segurei. Eu...

Mika arqueou uma sobrancelha.

— Você...?

— Eu queria pedir para voltarmos.

Não conseguiu evitar arregalar os olhos.

Certo, aquilo era bastante inesperado.

— E-eu sei que isso é estranho, mas usei essas semanas para pensar e colocar tudo no lugar. E percebi que, bem, ainda gosto muito de você. Pra cacete. E sei que não terminamos muito bem, mas tenho fé que ainda podemos dar certo.

Mika fechou os olhos, respirando fundo.

— Por favor, Mikaely. Juro que vou ser ainda melhor. Serei um bom namorado e ainda farei de tudo para te proteger, mesmo sabendo que você é muito capaz de fazer isso sozinha. Só... por favor, me dê outra chance. Diga que ainda sente o mesmo.

O coração de Mika palpitou, só não sabia dizer se por nervosismo ou outra emoção.

Encarou o garoto à sua frente. Na mente, Mika conseguia escutar o tique-taque do relógio para chegar à sua última aula. O tempo estava passando e ela precisava ir embora.

— Olha... eu vou pensar a respeito, tá? — Antes que o sorriso de Armando se alargasse ainda mais e o brilho de ânimo se tornasse intenso no olhar do garoto, acrescentou: — Mas não estou prometendo nada. Só disse que vou pensar.

Armando assentiu, ainda sorridente.

— Está bem. É melhor que nada.

— Ótimo. Agora eu realmente tenho que ir.

— É claro. Até logo, Mika.

— Até. — Esforçou-se para sorrir.

Levantou apressada da mesa e quase correu porta afora.

Seu coração ainda batia descompassado, pois sabia que ela não fora sincera com o garoto.

Não precisava pensar em nada. Já sabia que sua resposta seria negativa e não queria tentar mais nada com ele. Contudo, tampouco desejava uma discussão àquela hora da manhã, tão perto de se atrasar.

Em algum momento oportuno falaria com Armando e faria ele entender que eles nunca mais ficariam juntos.