O (amor) Assassino Está Entre Nós

20 - "Abra seus olhos."

Minutos se passaram enquanto Mika ainda encarava a tela do celular, procurando uma justificativa plausível para o que acontecia.

Por quê? Como? Quem?

Somente pelas três batidas seguidas na porta despertou de sua profunda análise sobre pessoas em potencial para conseguir os vídeos da câmera de segurança e espalhar a ela, João e a tal Clara, ficante dele.

Um tanto desnorteada, abriu a porta sem pensar muito. Arrependeu-se em seguida, preferindo ter fingido que dormia.

Armando esperava do outro lado, o rosto corado e as sobrancelhas franzidas com força. E mesmo com o olhar dele carregando raiva, Mika também percebeu a mágoa que se acumulava ali. Pela maneira como eles começaram a brilhar, sem dúvidas formavam lágrimas.

Sem dizer nada, seu antigo ficante levantou o celular com a tela desbloqueada e lhe mostrou. Era o mesmo maldito vídeo, pausado em uma parte que ela e João riam e se encaravam. Fora enviado pelo mesmo email. Contudo, a mensagem abaixo dele era diferente.

"Eu vi eles. Abra seus olhos."

Se não fosse por João Pedro ter sido prejudicado naquela situação, ali seria o momento em que desconfiaria que ele mesmo havia planejado aquilo. Uma forma do garoto conseguir afastá-la ainda mais de seu primo. Só que João estava raivoso demais para ter arquiteto aquela situação toda.

— Armando...

— Sabe qual é o pior, Mikaely? — Armando logo a cortou. Sua voz era suave e baixa, carregada de uma dor que Mika não gostava muito de perceber. — O pior é que eu realmente gosto de você. Quando recebi esse vídeo, eu juro que tentei não acreditar. Nem mesmo sei quem ia querer me mandar isso. Mas acho que não importa.

Ele piscou rapidamente, desviando o olhar por um segundo.

— Eu pensava em como conquistar você de novo. O que eu poderia ter feito de ruim, ou como melhorar como namorado. Só que isso aqui, Mika? — Armando tomou ar com força, levantando o celular com o vídeo ainda na tela. — Isso aqui dói. E eu não me importo se você me achar um idiota por sentir muito. Mas a verdade é que eu queria me aprofundar com você.

Mika engoliu em seco.

Podia não querer mais nada com Armando, mas aquilo não significava que desejava causar dor na vida do garoto.

— Armando, por favor, eu...

— Eu só quero ficar longe de você. Ao menos, por agora. — Ele suspirou, limpando rapidamente os olhos marejados. — Vou fazer aquilo que você pediu antes, lembra? Deixar você em paz.

Ele se virou, fazendo menção de ir embora. Desesperada, Mika segurou seu braço, o fazendo encará-la. Antes de falar qualquer coisa, respirou fundo. O perfume amadeirado do garoto chegou ao seu nariz. Era uma das poucas coisas que realmente gostava nele.

— Eu juro que não aconteceu nada entre seu primo e eu. Sim, nós conversamos e rimos bastante. Mas foi só isso. Sem beijos, sem carícias, sem mãos dadas. Eu nem sei quem poderia ter gravado isso e mandado para todos nós. Mas eu juro, Armando. Acredite em mim, por favor.

Respirou fundo, seu coração acelerado de nervosismo.

Armando a fitou nos olhos. Parecia lutar contra a raiva e mágoa. Por fim, balançou a cabeça negativamente.

— Só quero ir embora. Não tenho a pretensão de me magoar mais ou fazer isso com você. — Ele se desvencilhou, andando pelo corredor antes que Mika pudesse impedi-lo outra vez.

Fechando a porta atrás de si, Mika se recostou na madeira e fechou os olhos.

Não era porque antes planejava uma maneira de prejudicar João Pedro e afastar Armando que queria que fosse de uma maneira tão brusca. Céus! Como resolveria uma situação tão merda?!