15 - Presos

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Mika chegou primeiro que João Pedro, o que a fez se questionar por um momento se ele realmente apareceria. Já eram seis da tarde. Não havia praticamente ninguém na biblioteca. Nem mesmo viu a senhorinha que ficava na recepção.

Esperava que terminassem aquele trabalho antes do horário de jantar.

Sentou-se em uma das mesas mais distantes da biblioteca e cruzou os braços. Fechando os olhos por um momento, tentou controlar o sono que sentia.

Acordar cedo quase todos os dias não era nem um pouco fácil.

Escutou então passos apressados. Ao abrir os olhos novamente, viu o garoto se aproximando da mesa com um caderno em mãos e seu estojo.

Arqueou uma sobrancelha para ele.

— E você dizendo que eu me atrasaria — ela disse.

João Pedro revirou os olhos.

— O banheiro estava lotado. Mas eu cheguei. Isso não é o mais importante?

Por pouco não revirou os olhos também. Porém, como não era sua meta complicar ainda mais uma "amizade" entre eles, não o fez.

— Vamos logo nos apressar pra fazer esse trabalho. Acho que sei onde ficam os livros sobre a Era Vargas.

Mika levantou e foi surpreendida ao ser seguida por ele, mesmo sem ter que pedir.

Como ainda não sabia a maneira mais adequada de chamar a atenção de João Pedro da forma que planejava, ficou em silêncio na maior parte do tempo. Pegaram livros, voltaram para a mesa e dividiram o trabalho: um pesquisaria nos textos e faria o resumo e o outro copiaria, além de fazer a introdução e conclusão.

Tudo correu bem. Contudo, mesmo enquanto anotava alguns dos resumos já feitos pelo garoto, sua mente se distraía pelo outro motivo de estarem juntos ali.

Como faria João Pedro se apaixonar por ela? Ou, pelo menos, como atrapalharia a relação com a menina que quase sempre via perto dele?

Se Armando descobrir, vai ficar bravo...

Mika abriu um discreto sorriso com o pensamento.

Melhor ainda.

Depois do que João Pedro fizera, o mínimo era ter sua vida bastante complicada.

Estava na metade do segundo resumo do garoto quando, de repente, tudo ficou escuro e os ares-condicionados pararam. Mika franziu o cenho e ficou estática por um segundo.

— Mas que merda?! — João resmungou.

Mika passou o olhar ao redor, mas tudo o que enxergava era breu. Nem mesmo um palmo adiante ou o garoto à sua frente.

Mika tirou o celular do bolso e ligou a lanterna.

— Será que não viram a gente aqui? — perguntou, irritada.

— Pelo jeito, não. Merda, pior que ainda esqueci meu celular na cama.

Mika suspirou e tentou mandar uma mensagem para as amigas.

— Que horas são?

— Sete e dez — respondeu enquanto digitava.

O jantar devia ter acabado de começar. E nenhuma das meninas levava o telefone consigo. Contudo, o pior não foi ter consciência da demora para suas amigas verem a mensagem, e sim o fato de nem a internet estar funcionando ali.

— Mas que droga! — Mika largou o celular, deixando a lanterna para cima. A iluminação não era das melhores, porém, era mais favorável do que permanecer no escuro. — A internet não está pegando. Vamos ter que esperar alguém sentir nossa falta.

João Pedro bufou.

— E alguém sabe que estamos aqui? Pois eu não comentei com ninguém.

— Pior que não... — Mika resmungou em resposta. — Comentei algo sobre, mas acho difícil minhas amigas lembrarem. São todas meninas com memória de velhas.

Como conseguiriam sair dali?

— Vou ver se a porta está aberta — falou, já levantando da mesa. João também levantou, fazendo menção de segui-la. Mika franziu o cenho. — Não é melhor você ficar?

— Nesse escuro? Nem doido.

Enquanto pegava sua lanterna e seguiam em direção à recepção, Mika soltou um riso debochado.

— Então a margarida tem medo do escuro...

João Pedro revirou os olhos.

— Sim, sim — ele disse com sarcasmo. — Sou uma mulherzinha que nem você.

Mika o mirou por cima dos ombros, semicerrando os olhos.

— Machista.

Ele riu.

Ao chegarem à recepção, a encontraram vazia e tão escura quanto o restante do local. Mas ainda não se desesperaram. Somente ao tentarem abrir as portas da saída e constarem que sim, estavam presos ali dentro, permitiram-se tal sentimento.

— O.k., isso é bem ruim. — Mika fez um careta, apontando em seguida a lanterna para a cara de João, que fechou um poucos olhos para a luz. — O que faremos?

João Pedro suspirou e deu de ombros.

— Esperar, né?

Enquanto retornavam às mesas do fundo, Mika franziu o cenho.

Seria hora de aproveitar a oportunidade e se aprofundar no plano?

O (amor) Assassino Está Entre NósWhere stories live. Discover now