26 - Distância

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A vontade de Mika era chegar em seu quarto, ligar para seus pais e pedir para sair daquele internato. Mesmo com a situação neutralizada, não conseguia se sentir segura. Tampouco conseguiu digerir o fato da ficante de João Pedro estar morta. Parecia irreal demais.

Contudo, a internet que já era ruim, foi desligada para os alunos. A única que permanecia era a que conseguia enviar mensagens de texto, mas apenas aos que também estavam conectados nela. Logo, não conseguia se comunicar com o mundo exterior. E isso preocupava Mika e suas amigas, que, no jantar, teorizaram os motivos daquela decisão. Chegaram no unânime consenso de que a coordenação pedagógica não queria que a notícia do assassinato espalhasse mais, manchando a imagem da escola.

Caminhou com as amigas à saída do refeitório, preferindo não participar da conversa. Por mais que as meninas tentassem parecer se recuperar do baque daquele dia — principalmente Raquel, que também vira o corpo —, não demonstravam muito sucesso na tarefa. Os ombros estavam tensos, as risadas fracas e os olhares assustados.

Preferindo ficar mais atrás do grupo, caminhou sem pressa. Aproveitou para inspirar e expirar com cuidado. Desejou a capacidade de esvaziar a mente e não pensar em nada. Não queria pensar em como João Pedro estava, ou no motivo do funcionário Jean ter feito aquilo, ou mesmo no fato de Jean ser o assassino.

— Mika?

Sobressaltou-se com o repentino chamado no corredor. Olhando para trás, avistou Armando e Ismael indo em sua direção. Voltando a mirar suas amigas, notou que elas também pararam de andar, alguns metros mais distantes.

— Hã... Oi — por fim, Mika respondeu, encarando de volta Armando.

Aproveitou os rápidos segundos, enquanto eles ainda se aproximavam, para analisá-lo. Armando não parecia raivoso, tampouco rancoroso com o que vira no dia anterior. No fim, ele parou a poucos metros de distância e colocou as mãos no bolso. Ismael ficou atrás dele, sem uma expressão específica no rosto.

— Algum problema? — Mika perguntou.

— Não. Eu só... só queria saber se você está bem. — Armando engoliu em seco.

Mika se segurou para não franzir o cenho.

— Sim, estou.

Os segundos de silêncio foram estranhos. Então Armando pigarreou.

— Bem... hã... se cuida, tá? Mesmo com Jean preso, prefiro saber que você ficará bem.

Mika desviou o olhar para o chão, seu estômago esfriando de uma maneira estranha com o tom carinhoso e preocupado do garoto. Mal parecia o mesmo Armando da noite anterior.

— Pode deixar. Vou me cuidar. Agora tenho que ir.

— É claro. Boa noite, Mika.

— Boa noite. — Ela abriu um pequeno sorriso.

Apressou-se para alcançar suas amigas, que tiveram a decência de não lhe questionar nada sobre aquilo. Com elas voltando para suas conversas, Mika respirou fundo e espiou rapidamente por cima dos ombros.

Armando conversava com Ismael, que parecia questionar algo a ele. Não conseguia escutar a conversa, culpa da distância que cada vez mais aumentava, mas viu seu antigo ficante fazendo uma cara de assustado.

Mika suspirou.

Manter a distância seria bom. Tinha que ser.

O (amor) Assassino Está Entre NósWhere stories live. Discover now