O silêncio do quarto era agradável para João, principalmente após seu primo passar a maior parte do almoço comentando da "garota bonita que era atrapalhada pra um cacete". A cada nova frase de Armando, ele revirava os olhos, desejando enfiar a faca em si mesmo ou no próprio primo, para que ele calasse a boca.
Para buscar alguns minutos de paz, saiu mais cedo do refeitório e pegou sua farda limpa na lavanderia. Então, já no quarto, afundou um lado do rosto no travesseiro e respirou fundo.
Uma parte das aulas havia passado. Agora só faltava mais uma.
O que tinha na cabeça quando aceitou entrar no internato? Quer dizer, não que tivesse escolha. Ou era isso ou passaria o restante do ano longe dos seus únicos amigos. Mas começava a se arrepender. Talvez ficar sem ver Rikelmy e Armando fosse uma bênção divina.
Pelo menos tem a Clara, recordou-se, em seguida abrindo um sorriso de lado.
Sim, pelo menos aquela beldade tinha lhe trazido algum alívio naquela manhã conturbada. Ficaram juntos na aula de inglês, e somente nela. Porém, ainda existiam outras matérias na semana para lhe trazer a esperança de que poderiam ficar na mesma turma também.
A lembrança das aulas da manhã não trouxe apenas coisas boas. Lembrou-se da tal Mikaely, que, para seu azar, estava como sua dupla na matéria de História. Não tinha nenhuma vontade de encontrá-la para fazer o trabalho. Que ela o fizesse sozinha! Era o mínimo depois de ter sujado sua farda e o feito passar vergonha no refeitório.
E se ela não fizer?
João espantou o questionamento.
A garota precisaria de nota. Não era louca de não fazer por eles.
Escutou quando a porta do quarto foi aberta. João não fez menção de abrir os olhos e só se aconchegou mais na cama. Contanto que os meninos não falassem das garotas bonitas que viram só naquele primeiro dia, eram bem-vindos de volta ao quarto.
Um pigarro soou no quarto, seguido da pergunta:
— Com licença?
João não demorou para abrir os olhos e se sentar apressado na cama.
Definitivamente não conhecia aquele garoto.
Ambos ficaram se encarando por longos segundos. João analisou os cabelos bagunçados do garoto, assim como as roupas escuras e all star preto. Só então notou as duas malas que ele trazia.
— Acho que faço parte do quarto... — o menino disse, notavelmente hesitante para entrar.
— Ah, é claro. Imaginei que faltava alguém. — João desceu do beliche e apontou para a única cama sem dono. — Pode ficar ali. Meus amigos já escolheram o lugar deles ontem.
— Obrigado.
O garoto fechou a porta e caminhou para a cama do beliche apontado. João não era o tipo de pessoa que podia palpitar sobre a personalidade ou estilo de alguém, mas, sem dúvidas, aquele menino era estranho. Sentou-se então na cama de Rikelmy e analisou o que era tirado das malas. Roupas pretas ou de tonalidades escuras, fardas da escola, mangás de terror...
João torceu o nariz. Nem para aquele garoto gostar de One Piece?
— Perdeu algo nas minhas coisas?
João franziu o cenho.
— Hã?
— Não para de olhar para o que tiro daqui. — O menino lhe encarou, a testa franzida.
— Ah, não era nada demais. Só estava pensando em como se chama — João tentou desconversar.
Então ele tinha notado seus olhares?
O garoto o fitou por mais alguns segundos, até que balançou a cabeça e voltou a mexer em suas bagagens. João estava pronto para aceitar a antipática dele e sua falta de respostas, quando ele respondeu:
— Meu nome é Ismael.
João também assentiu, pegando sua toalha e farda.
— Eu sou o João Pedro. Sua parte do guarda-roupa não foi ocupada. Pode botar as roupas lá. — Preferiu não olhar por cima dos ombros enquanto saía do quarto e dizia: — A gente se vê por aí.
Caso aquele branquelo roubasse qualquer coisa dele ou de seus amigos, seria melhor para eles mesmo. Se tornaria uma ótima maneira de tirar o esquisito da sua futura convivência.
YOU ARE READING
O (amor) Assassino Está Entre Nós
Mystery / ThrillerMikaely e João Pedro tem seus caminhos cruzados com a chegada do renomado internato DulciVa na cidade que vivem, onde ambos cursarão o último ano do ensino médio. Após um esbarrão nada agradável, são obrigados a conviver com a existência irritante u...