29 - Um teste

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Uma das piores partes daquele internato era a internet — ou, no caso, a falta dela. E isso complicava demais os trabalhos, principalmente para João, que estava acostumado a usá-la para poupar tempo e esforço. Só que ali não tinha essa opção. Então se viu obrigado a ir, após aquela atividade idiota da tarde — ao qual obviamente perdeu com Raquel —, à biblioteca pegar livros do assunto que a professora de Geografia havia passado.

Pelo horário mais tarde — quase seis e meia da noite — o local estava bem vazio. Felizmente, a senhorinha que ficava no balcão ainda estava ali e viu João chegar, logo, sem chances de ficar preso naquele lugar.

João respirou o ar empoeirado e sentiu uma leve coceira na ponta do nariz. Então andou pelos corredores, ajeitando o óculos no rosto para conseguir enxergar os títulos nas prateleiras. Procurou também por alguma placa que conseguisse guiá-lo até o que procurava.

Dobrou uma esquina, travando em seguida.

Mikaely estava ali, lendo o título de um livro em mãos. Antes que João conseguisse sair dali sem ser notado, ela olhou para o lado, sobressaltada. Como não queria parecer um covarde, João ergueu o queixo e entrou no corredor. Parou a alguns metros da garota, começando a analisar os títulos da prateleira à sua frente. Para seu desespero, era ali que ficavam os livros sobre globalização.

Talvez um minuto tivesse passado, talvez mais. João não sabia. Estava nervoso demais para perceber o tempo à sua volta. Contudo, o que voltou a lhe chamar atenção, e o fez desfocar da sua falsa leitura dos títulos, foi a repentina fala de Mikaely:

— Não fui eu que gravei aquilo e mandei.

Encarou a garota, franzindo o cenho. Ela não o fitava de volta, mexendo nervosamente em algumas lombadas dos livros na prateleira.

João apertou a boca, sem saber exatamente o que dizer. Contudo, seu coração teve uma resposta mais imediata, palpitando acelerado. Pelos segundos de profundo silêncio que se seguiram, não duvidou que a garota conseguisse escutá-lo.

Ainda encarando Mikaely, viu ela suspirar enquanto balançava a cabeça. Em seguida, a garota parou de mexer nos livros e fez menção de sair do corredor. João, por sua vez, não pensou muito. Quando deu por si, havia agarrado o braço dela e a trazido para perto. Bem mais perto.

Notou que Mikaely arfou com a repentina proximidade. Seus narizes estavam a centímetros de se encostarem, e era possível sentir suas respirações se misturando. Contudo, João Pedro não a largou ou fez menção de se afastar. Na verdade, olhou no fundo dos olhos da garota. Um tom tão profundo de castanho que João se sentiu afogado neles. Seu coração continuou a responder com o contato, batendo cada vez mais rápido.

Era apenas ele e Mikaely naquele corredor silencioso. Só os dois.

João engoliu em seco, tomando coragem para questionar:

— O que você sente?

A garota parecia nervosa, passando o olhar entre cada canto do rosto de João.

Pela demora, nem mesmo esperava alguma resposta dela, até que Mikaely sussurrou:

— Medo.

João Pedro não pensou muito naquela palavra.

Talvez fosse medo do que acontecia na escola, talvez medo do que acontecia ali, talvez medo do que qualquer um deles poderia começar a sentir, e talvez o medo de já estarem sentindo algo, mesmo em pouco tempo. Mas não importava qual era o real motivo. Seria apenas dançar em volta das dúvidas.

Outra vez, João não se permitiu pensar muito. Não deu ouvidos à racionalidade, mas permitiu que as emoções se tornassem seu guia naquele momento.

Tudo aconteceu rápido. Em um instante ele e Mikaely ainda se encaravam, no seguinte, seus lábios se grudavam aos da garota. Mesmo com alguns segundos em choque, a garota findou correspondendo ao beijo.

João não sabia por que fazia aquilo, mas se havia uma coisa que sabia era que não queria parar.

Uma parte sua tentava se convencer que aquilo era apenas um teste para Mikaely; queria saber o quanto ela podia estar escondendo dele e enganando seu primo junto. Porém, ele mesmo estava falhando no seu próprio teste, entregando-se àquele beijo mais do que deveria.

De repente, Mikaely se afastou. As bochechas estavam coradas, os lábios entreabertos e vermelhos, e os olhos arregalados. Em seguida, ela saiu correndo do corredor, deixando um zonzo e confuso João Pedro para trás.

O (amor) Assassino Está Entre NósWhere stories live. Discover now