25 - Pesadelos reais

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A notícia se alastrou como fogo.

João mal conseguia acreditar nela, mesmo tendo visto o corpo.

Clara estava morta. Morta. Ou, como ouviu nos murmúrios pela escola: assassinada.

Mesmo tendo um "relacionamento" com a garota, não a amou. Contudo, aquilo tampouco significava que não se importava com ela. Nunca desejaria sua morte. E nem mesmo faria sentido alguém querer matá-la. A menina era risonha e não parecia tratar mal as pessoas. Então a única opção era que estava em um local ruim, numa hora ruim, o que a levou a ser escolhida como alvo.

O restante do dia passou nublado para João. Não sabia exatamente o que fazia, principalmente por estar agindo no automático. Talvez fosse choque. Talvez fosse medo. Negação. Enfim, não sabia.

Uma reunião com todos os alunos da instituição foi convocada para antes do almoço, no refeitório. E para lá João seguiu com Armando e Rikelmy, que passaram boa parte do tempo tentando confortá-lo da perda. Diziam que ele podia chorar, que ele não precisava comparecer naquela reunião. Só que João queria ir. Queria saber o que realmente passara e se a instituição faria algo.

Chegaram no refeitório abarrotado de alunos, funcionários e pessoas da coordenação pedagógica. A tensão era quase palpável no ar. Algumas conversas paralelas soavam no ambiente. João conseguiu captar pouco delas enquanto procurava com seus amigos alguma mesa livre.

— Parece que foi um...

— Eu escutei que ela tinha...

— Não é aquele menino que vivia com ela?

Quando enfim alcançaram lugares para ficarem, João se acomodou com seus amigos e tentou ignorar cada um dos cochichos ao redor. Nem mesmo entrou na conversa que Rikelmy e seu primo começaram para afastar um pouco da pressão do ambiente.

Fitou a frente do refeitório, onde a maioria dos funcionários estava, assim como Paulo Albuquerque, o diretor. O homem conversava sério com duas secretárias, o cenho franzido com força e as mãos apertadas atrás das costas.

Se não fosse pelas circunstâncias daquela reunião, João poderia sorrir e recordar do seu primeiro dia ali. Parecia estar de volta no tempo. Contudo, a ansiedade presente entre todos os alunos já não condizia com o começo das aulas, senão com o que aconteceria a partir dali; a antiga animação, substituída pela apreensão.

João se apoiou na mesa e abaixou a cabeça por um instante.

Poderiam ter passado horas. Minutos. Mas, para ele, não foi mais que segundos em busca de paz.

Morta. Ela está morta.

— Boa noite, senhores alunos. — A voz grave do diretor soou pelo ambiente, sendo amplificada com a ajuda do microfone que ele usava. João se obrigou a levantar a cabeça e encarar o homem. — Sei que todos estão preocupados, assim como ansiosos por alguma retratação nossa pelo caso que aconteceu e foi descoberto hoje à tarde. Bem, para os que ainda possam estar alheios à situação: uma aluna, Clara Silva, foi encontrada morta no armário da estufa da escola. Trabalhamos para investigar o caso, procurar vestígios dessa barbaridade, além de contactarmos com a família da garota. Os familiares já estão cientes e sabem sobre o que passou. Também devo informar que encontramos o responsável disso e ele já foi levado pela polícia, sem muito rebuliço para não assustar os senhores. Pelos casos anteriores e reclamações de alguns alunos, soubemos que Jean Paulo, zelador da escola, foi o culpado. Então peço que os senhores fiquem despreocupados e saibam que todo esse problema já foi combatido. Agradeço a compreensão de todos. E, como sinal de respeito, peço um minuto de silêncio pela vida da Clara Silva.

Como ordenado, o silêncio recaiu sobre o ambiente.

João Pedro respirou fundo, sentindo o coração pesado.

Só queria voltar para o quarto e dormir. Então acordar, descobrindo que tudo foi apenas um pesadelo.

O (amor) Assassino Está Entre NósWhere stories live. Discover now