23 - Pazes

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João ignorou por toda a aula de História a presença de Mikaely ao seu lado. Felizmente, ela fez o mesmo com ele.

Contudo, mesmo focando toda sua atenção na professora Danielle, uma parte de si ainda percebia cada respiração mais forte da garota ao seu lado, ou mesmo um mínimo movimento na cadeira.

Não ligue para ela.

João Pedro por pouco não suspirou de alívio assim que o sino tocou, indicando o fim de todas as aulas daquela manhã. Levantou-se quase em um pulo, sendo um dos primeiros a sair da sala. Não se preocupou em conferir se Mikaely também fazia aquilo.

Pelas conversas com Clara, sabia que o último tempo dela naquele dia era física, com o professor Janildo. Então se apressou até a sala 21, onde poderia encontrá-la. Passou entre os corpos de alunos que se dirigiam apressados às escadas, e ignorou também o barulho de conversas paralelas. Seu foco principal era encontrar Clara e falar tudo o que havia planejado enquanto tomava banho.

Quando enfim chegou perto do corredor das salas a partir do número 20, começou a prestar atenção nos alunos que passavam. Reconheceu algumas das amigas de Clara, que passaram cochichando entre si e não notaram sua presença. Nada da própria Clara...

João decidiu ir até a sala, apenas para confirmar que a garota não havia ficado para trás.

O professor Janildo, um homem parrudo e com rosto um tanto estranho, arrumava seus materiais na mesa. Após conferir que realmente não havia mais ninguém ali dentro, além daquele professor, João dirigiu uma rápida atenção a ele. Não conseguiu conter uma careta de desgosto. Desconhecia qualquer pessoa que se agradava daquele homem.

Sabendo que poderia ter sofrido um grande desencontro com Clara, João suspirou e caminhou em direção à saída. Talvez tivesse sido mais prudente procurá-la logo no refeitório. Era um local cheio e não muito aconselhável para conversas importantes, mas ao menos seria mais fácil de reconhecer as pessoas de longe. Porém, poderia tentar aquilo na hora do almoço.

Terminava de descer as escadas, apressado para chegar ao quarto e largar sua bolsa ali, quando notou Armando no bebedouro daquele andar. Parou por um momento e cogitou o que fazer.

Seu primo não havia surtado. Na verdade, nem mesmo trocara qualquer palavra com ele desde a noite anterior. E apenas isso dava um pouco mais de certeza a João de que Armando havia recebido o vídeo também, mas optara por não falar nada.

João respirou fundo e mudou sua rota, indo em direção ao primo.

Não queria que a situação ficasse ainda pior. Tinha que se resolver com Armando.

— Ei!

Seu primo se virou para ele, o cenho se franzindo.

— Ocupado? — João questionou, apenas para ganhar tempo e juntar sua coragem.

Armando passou seu olhar confuso entre o bebedouro e João, como se questionasse o que mais poderia estar fazendo ali senão bebendo água.

— Hm... Não? — ele respondeu, por fim.

João respirou fundo.

Vamos. Coragem. Você precisa falar pra ele.

— Eu...

— O vídeo. É sobre isso que quer falar, não?

Não conseguiu conter de arregalar os olhos. Com sua reação, Armando suspirou.

— Eu recebi. Acho que você e a Mikaely também. Sei lá quem mais. — Ele mordeu o lábio inferior por um segundo, seu olhar desviando para uma das torneiras do bebedouro. — Não sei se quero falar sobre isso.

— Mas nós precisamos. Eu quero que saiba, mesmo que no vídeo não pareça, que eu e a Mika nunca tivemos nada. Não tenho motivos para fazer uma merda dessas, sabe? — João soltou ar pela boca, nervoso. — Sério, essa situação já deu muita besteira. E não quero que fique esse clima chato entre nós, então...

— Tudo bem, Pedro.

João parou de falar, um rápido gaguejo escapando de seus lábios.

Tudo bem?

— O quê?

— Eu disse que tudo bem. — Armando voltou a encará-lo enquanto tampava sua garrafinha. — Eu acredito em você. Só não quero mais tocar nesse assunto. Por favor.

Precisou de alguns segundos para se recuperar do choque.

Tão fácil assim falar com seu primo?

Talvez Armando seja mais maduro do que você pensa.

João abriu um pequeno e assentiu.

— Obrigado. — Colocando as mãos no bolso, questionou: — Então? O que acha de andarmos de skate depois das aulas da tarde?

O (amor) Assassino Está Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora