05 - Primeiro dia

42 4 36
                                    

Os primeiros horários foram típicos de primeiro dia de aula: apresentação dos professores, como cada um trabalhava e suas didáticas. Mika precisou repetir seu nome e o que gostava de fazer tantas vezes que até mesmo se enjoou da resposta. Realmente alguém se importava com o fato dela gostar de ler, ouvir música e assistir doramas e animes?

Assim que chegou à última aula, sua barriga roncava como se não comesse havia séculos. Esperava que o almoço fosse tão bom quanto o café da manhã.

Sentou-se na primeira mesa que avistou. Como eram de dupla, torceu para que ninguém decidisse ficar ao seu lado. Apenas em uma das aulas uma garota ficou com ela, mas não trocaram qualquer palavra.

Infelizmente, não teve a sorte de cair em alguma sala com suas amigas. Contudo, ainda existia esperança para os demais dias da semana. Além disso, em duas atividades complementares elas decidiram ficar juntas, já que dividiram gostos parecidos: clube de leitura e cozinha. Além das opções de atividades, também decidiram por andar de bicicleta em seus tempos livres. Mika esperava ter disposição para tantas tarefas diárias.

Como ainda restavam alguns minutinhos para o começo da aula de História, olhou para o restante da sala. Assustou-se ao perceber como enchia cada vez mais. Pelo andar das coisas, alguém teria que sentar com ela...

Mika fez uma suave careta.

Contato que a pessoa não falasse com ela, estava tudo bem.

Enquanto tirava da bolsa seu caderno e uma caneta, sentiu alguém sentando ao seu lado. A pessoa tampouco prestava atenção nela, tirando apressada o fone de ouvido e guardando na bolsa. Outra sortuda que passara ilesa pela revista de mochilas e conseguiu ficar com seu celular.

Assim que se encararam, Mika perdeu o ar.

O garoto à sua frente fechou a cara no mesmo instante que a reconheceu.

Um péssimo azar cair na sala daquele menino.

Ele a encarava com tanta raiva que Mika não duvidou que começasse uma discussão logo ali. Engolindo a própria vergonha, aprumou a postura e o encarou em desafio.

Não se intimidaria com um bostinha irritado.

O tal João Pedro olhou ao redor, bufando ao perceber que as demais mesas já estavam ocupadas. Se também não se sentisse incomodada com sua presença ali, Mika debocharia. Mas era melhor evitar intrigas. Seu primeiro dia de aula já estava ruim demais.

A professora tirou o olhar de seu livro e fitou cada aluno. Em seguida assentiu, levantando-se da mesa e falando:

— Sala cheia. É assim que gosto. Sejam bem-vindos à última aula da manhã. Espero que ainda tenham disposição não só para esta, mas às nossas demais também, pois gosto de debates, trabalhos em grupos, atividades fora de sala, seminários, enfim. Não vejo motivos para lhes encher com tanta informação agora. Já devem estar cansados de ouvir.

A professora alargou seu sorriso.

— Sou a professora Danielle e os acompanharei até o fim do ano. E, para ficarmos animados para os demais dias, tenho um pedido a vocês: não mudem de lugar, tampouco de dupla. A partir de hoje, a pessoa que está ao seu lado na mesa será sua companheira fiel. Tornem-se amigos, ou, ao menos, evitem uma rivalidade muito forte. E se forem ficar de namoro, saibam fazer isso escondidos. Mas não digam que fui eu que falei.

Enquanto os demais alunos riam, Mika só sentiu seu estômago se contorcer.

Se antes desejava zombar João Pedro por ter feito a pior escolha de mesa para sentar, agora sentia o desejo de socá-lo por não ter feito direito. Teriam que se suportar. Ou então faziam uma troca discreta com outra dupla insatisfeita na sala, sem que a professora percebesse.

Para sua surpresa, a professora não questionou o nome de ninguém, tampouco pediu para que falassem sobre si. Somente se voltou para o quadro e começou a escrever.

Os minutos foram passando, o primeiro assunto de História do ano preenchendo o quadro. Primeira Guerra Mundial. Falar de guerra naquele momento não parecia a melhor escolha, principalmente com a tensão que crescia entre Mika e João Pedro. Se não dessem um jeito de se darem bem ou trocar de lugar com outras pessoas, uma guerra entre eles também passaria.

Mika fingia prestar atenção no que a professora Danielle falava. Mas a verdade era que apenas se sentia nervosa. De esguelha olhou para um garoto da sala e pensou se ele não aceitaria uma mudança de dupla.

Precisou sair de seus pensamentos assim que ouviu "trabalho em dupla". Ao seu lado escutou João Pedro resmungar um xingamento.

Sem dúvidas aquela professora era louca de passar um trabalho logo no primeiro dia. Mesmo irritada, anotou cada parte necessária dele. Pelo menos não era algo complexo. Nada mais que um trabalho escrito. A pior parte era a entrega: dali dois dias.

— Professora, não podemos só pegar na internet? — um dos alunos perguntou.

Ela riu.

— Internet? Que internet, meu filho? E quem disse que aceitarei algo vindo da Wikipédia ou do Toda Matéria? Há biblioteca na escola exatamente para isso: suas pesquisas. Quero as fontes bibliográficas vindas dos livros que temos aqui, e deixo claro que conferirei cada uma. E não se preocupem, há livros o suficiente para todos.

Certo, o trabalho acabou de dobrar de dificuldade.

No restante do tempo que seguiu, Mika e João Pedro se ignoraram. Enquanto as demais duplas conversavam sobre encontros nos horários livres ou na biblioteca, os dois apenas se mantinham calados. Faltaram suspirar de alívio ao escutarem o sino tocar.

Enfim, livre daquele sufoco. Ou quase. Em algum momento Mika teria que lidar com a realidade de trabalhar em dupla com o garoto irritadiço ao seu lado.

Saiu apressada da sala, sem olhar para trás. Apenas queria chegar em seu quarto, largar a bolsa ali e correr para almoçar. A fome parecia triplicar.

Por conta dos passos rápidos, acabou não conseguindo desviar de um garoto que surgiu de repente na esquina do corredor. Pelo menos o trombo não foi pior do que o do café da manhã. O menino agarrou seus ombros para que não caísse. Então a encarou por alguns segundos.

Ele franziu a testa, em seguida apertando os lábios. Parecia querer rir.

— Vai ficar agarrado com a garota mesmo, Armando?

Mika se desvencilhou do garoto que ainda segurava seus ombros, completamente na defensiva. Em seguida olhou João Pedro, que os encarava a alguns metros com certo deboche. Mika empinou o queixo e revidou:

— Não precisa de ciúmes. Não estou tentando roubar seu namoradinho.

Preferiu não esperar por alguma reação ou resposta. Apenas virou as costas e seguiu seu caminho, mais apressada que antes.

Não viu João Pedro revirar os olhos, tampouco o interesse que se formou na expressão do tal Armando.

O (amor) Assassino Está Entre NósDove le storie prendono vita. Scoprilo ora