10 - Vingança

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Mika observava as tentativas de Yandra se manter equilibrada na bicicleta. Não conseguia segurar a risada, principalmente pelos gritinhos da amiga. Raquel e Maely também riam, paradas em cima de suas próprias bicicletas emprestadas do instituto.

A tarde havia sido tirada para o lazer dos alunos. Alguns escolheram fazer trilhas pela floresta que circundava o internato, enquanto outros preferiram optar por andar de skate ou bicicleta.

— Vai, Mika! — Raquel gritou. — É a sua vez de andar. Só está aí parada, tem que fazer algo.

Ela revirou os olhos, mas seguiu as "ordens" da amiga. Voltou a subir na bicicleta e pedalou atrás delas. Como estava na parte mais distante, não havia tantas pessoas para atrapalhá-las.

Yandra desequilibrou e por pouco não caiu de lado. As meninas gargalharam, e apenas Maely foi ajudá-la. Mika e Raquel se sentaram na grama, ainda rindo enquanto as outras duas se aproximavam.

— Você é realmente péssima — comentou Maely.

Yandra fez biquinho e usou sua vozinha de choro:

— A culpa não é minha. Vocês que não acompanham o meu ritmo! Aí não consigo ir tão estável como vocês.

Raquel balançou a cabeça, em seguida encarando Mika com um sorriso sugestivo.

— E por que não está com seu namoradinho?

Ela revirou os olhos.

— Ele não é meu namorado — enfatizou.

— Ele vive perto de você, quase não deixa você sentar do nosso lado e quando fica, é só naquele chamego. — Maely fez uma careta. — Tenham pena da gente.

Mika voltou a revirar os olhos. Porém, enquanto o fazia, escutou o resmungo da Raquel:

— Falando nos diabos...

Olhou por cima dos ombros, por pouco não fazendo uma careta.

Armando não mentira quando disse que tentaria ir também. Mas, infelizmente, João Pedro o acompanhava, assim como Rikelmy. Yandra se animou com a chegada do outro garoto, sua nova obsessão. A menina acenou em direção a eles, mas Mika permaneceu quieta.

Era pedir demais só querer um momento a sós com as amigas?

Armando sentou ao seu lado e deu logo um beijo no pescoço. Suas amigas tentaram disfarçar as risadinhas com tossidas falsas.

Ao olhar de esguelha para o primo de seu ficante, abriu um sorriso satisfeito ao perceber sua careta de desgosto. João Pedro preferiu ficar em pé, de braços cruzados, enquanto Rikelmy sentou ao lado da sorridente Yandra.

— Se divertiram muito? — Armando indagou.

— Até vocês chegarem, sim — Maely respondeu. Ao menos era a sinceridade do grupo. — Não vão andar de skate?

— Vamos sim — Rikelmy disse. — Só que o emocionado ali queria chamar a namorada também.

Mika precisou segurar outra careta. Quando as pessoas entenderiam que eles não eram namorados?

Esperou que o garoto negasse, mas tudo o que ele fez foi sorrir de maneira sugestiva para ela.

Droga.

— Sabe andar de skate, Mikaely? — A pergunta de João Pedro chamou sua atenção.

Ela franziu o nariz. Aquele moleque parecia gostar de lhe irritar ao chamá-la pelo nome.

— Não, eu não sei.

Esperou que ele caçoasse dela. Porém, foi surpreendida pela resposta:

— Deixa que eu te mostro como é.

Mika semicerrou os olhos, desconfiada. Fitou Armando, que deu de ombros. Não parecia ver mal algum naquilo.

Esse é o momento de você ser ciumento e dizer que não.

— Vamos, Mikaely. Está com medo de quê? — João abriu um sorriso desafiador. — Não me diga que vai arregar...

A expressão debochada daquele garoto a fazia querer socar sua cara.

Mika estufou o peito e levantou da grama.

— Vamos ver se você é um bom professor.

João Pedro sorriu ainda mais, mostrando o caminho que ela devia seguir.

Ambos precisaram se afastar dos demais, saindo da grama e indo para um caminho de concreto no meio dela. Um pouco mais a frente havia uma inclinação, onde Mika não pretendia chegar.

João Pedro colocou seu skate no chão e apontou para ele, dizendo:

— Sobe.

Mika arqueou uma sobrancelha.

— Só subir? Sem nenhum preparo?

Ele revirou os olhos.

— Só põem um pé logo e depois eu explico o resto — insistiu.

Mika bufou, mas decidiu fazer como pedido. Apoiou um pé no skate e deixou o outro no concreto. Respirou fundo e perguntou:

— E agora?

Para sua surpresa, João colocou as mãos em sua cintura. Mika ficou tensa e o fitou de esguelha. Ele parecia ainda normal, nada preocupado com a repentina ação. Então Mika olhou por cima dos ombros, vendo Armando franzir o cenho.

Vamos, impeça isso.

— Você vai precisar manter o equilíbrio e pegar impulso com o outro pé. Quando tiver velocidade, os dois ficam aqui em cima. — Ele apontou com o pé para a parte superior do skate. — Se perder velocidade, use o pé de novo. E para freiar, só coloque ele no chão. Simples não?

Não, não era. Mas nunca daria aquele sabor ao garoto.

— Sim — mentiu.

— Vou começar te dando apoio, para você não se espatifar no chão.

Mika apenas assentiu, ainda desconfortável com seu toque tão próximo. Mas tudo piorou quando começaram a testar suas habilidades.

Uma das mãos de João Pedro ainda ficou em sua cintura, a outra indo para seu braço estendido em busca de equilíbrio. Mas o pior foi ele estar perto. Mais perto do que deveria. Sentia sua respiração no pescoço.

— Vai, é só tentar.

Mika assentiu e pegou um suave impulso, saindo devagarinho do lugar.

— Isso aí — João sussurrou, mais próximo dela. — Flexiona os joelhos também.

E assim ela fez. Conseguiu sair alguns metros do lugar, até contente por sua evolução — mesmo que tivesse braços lhe segurando a todo instante.

João Pedro quase parecia alguém legal.

Quase.

Assim que se aproximaram mais da inclinação no concreto, Mika quis parar:

— Acho que já deu por aqui, né?

Mas João não parou, sussurrando em seu ouvido:

— Ah, não, não. Agora é sua vez de ir sozinha. — E soltou sua cintura e braço, a empurrando pelas costas em direção a descida.

Mika nem sequer teve tempo para pensar em algo. Poucos segundos depois estava gritando enquanto descia, seu corpo indo direto ao chão. Os outros que assistiam a eles gritaram seu nome, sem entender o que havia passado exatamente.

Tudo ardeu: seus cotovelos, joelhos e um dos pé latejou de dor. Por um momento desejou ficar eternamente ali no chão. Porém, havia uma motivação para querer levantar dali: matar aquele maldito garoto.

O (amor) Assassino Está Entre NósDonde viven las historias. Descúbrelo ahora