17 - Receio

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Mika passou uma semana aguentando os bombardeios de perguntas sobre o que aconteceu na biblioteca. Já não aguentava mais. Não importava se falasse que ela e João Pedro só haviam terminado o trabalho e conversado. Suas amigas insistiam que alguma coisa fora do comum havia acontecido.

Pensou que ficaria um tempo em paz com a confraternização que aconteceria, o que levaria suas amigas a saírem do quarto. Também faria aquilo, mas não tinha planos de ficar muito tempo no exterior. Seu maior desejo era sair apenas para roubar algumas guloseimas na mesa que ouviu que teria no luau, em seguida voltando ao dormitório.

Todavia, nem tudo acontecia como ela queria.

Enquanto Yandra e Maely já se dirigiam à festa, Raquel permaneceu no quarto com a desculpa de terminar de arrumar o cabelo ondulado. Contudo, algo dizia a Mika que aquela não era a verdade completa da amiga.

Folheou seu caderno de química, buscando saber se fizera todas as suas tarefas, quando Raquel cortou o silêncio:

— Já está arrumada?

Mika deu de ombros.

— No máximo eu troco de blusa. Não vou ficar muito tempo lá.

Sua amiga lhe lançou um rápido olhar através do espelho na parede.

— E isso teria a ver com o João Pedro, o Armando ou o professor Janildo?

— Um pouco dos últimos dois. Armando pode até não estar falando comigo, mas não quero ficar com ele me encarando com cara de cachorro sem dono ou, às vezes, com raiva. E Janildo... bem, não quero mais casos de assédio.

Raquel grunhiu de raiva.

— Nem me lembre disso. Ainda não acredito que a coordenação não vai fazer nada a respeito, só porque não temos provas. — Mika a viu revirar os olhos pelo reflexo do espelho. — Como se mais de quinze meninas reclamando disso não fosse o bastante.

Mika soltou um som de asco, em seguida falando:

— Suspeito que esse povo da diretoria não queria levantar notícias ruins sobre a instituição, principalmente por ser a inauguração dela aqui. Não consigo nem imaginar o que eles não fariam para manter uma boa imagem.

Não conseguiu conter um profundo suspiro. Enquanto deixava o caderno de volta em sua bolsa, Raquel questionou, o tom de voz com certa sugestão:

— E o Armando não perguntou nada sobre o que você e o primo dele fizeram na biblioteca?

Encarou sua amiga pelo reflexo, vendo-a arquear uma sobrancelha em sua direção. Mika permaneceu séria.

— Não aconteceu nada, garota.

— Você já repetiu isso a semana inteira e ainda não soa convincente.

Mika revirou os olhos.

— Acho que o problema está no ouvido de vocês, isso sim.

— Olha, tu pode mentir pra quem for, Mika. Mas pra mim? Ah, não. Isso eu não aceito. — Raquel virou o corpo em sua direção, cruzando os braços. — Se não tivesse acontecido nada fora do comum, sua rinha com João Pedro teria continuado igual. Só que nunca mais vi vocês trocarem olhares raivosos, nem insultos. Você nem mesmo voltou a reclamar com a gente sobre como ele é insuportável nas suas aulas de História. — Ela suspirou de maneira dramática. — Tem noção que eu cogitei questionar ele sobre isso nas aulas de jardinagem?

Mika fez uma careta, desviando o olhar para sua bolsa em cima da cama.

Pelo menos Raquel não era capaz de ouvir ou sentir como seu coração batia acelerado.

Não, nada havia acontecido entre ela e João naquela noite. Mas algo havia mudado entre eles.

Como poderia olhar aquele garoto, sendo que conhecera uma versão tão mais legal e interessante dele? O fato de terem tanto em comum a assustou muito. E, por culpa disso, decidiu abrir mão do que seria sua vingança. Não valeria a pena tentar fazer João sentir algo por ela só para atrapalhar o relacionamento dele com a outra menina.

Ou você tem medo do que pode sentir.

Mika grunhiu, irritada com o próprio pensamento inconveniente. Ao voltar a encarar sua amiga, percebeu que Raquel a observava com atenção, como se fosse um quebra-cabeça a ser resolvido. Antes que falasse algo, sua amiga tomou a frente:

— Vou indo. Torça para mim ou as meninas não encontrarmos com aquele professor maldito na festa. — Ela andou em direção à porta. Antes de abri-la, olhou por cima dos ombros e sorriu. — Te vejo lá?

— É claro.

Mika esforçou-se para retribuiu e deu um tchauzinho.

Mas sua mente se voltava a João e a Armando.

O (amor) Assassino Está Entre NósWhere stories live. Discover now