22 - Fofoca

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Suas amigas chegaram mais tarde do que imaginou.

— Mika! Tu foi pra lá? — Maely foi a primeira a entrar no quarto e dirigir palavras a ela.

Mika abriu um curto sorriso, deixando seu livro de lado.

— Não. Eu tive um... imprevisto.

Raquel, que foi a última a entrar e trancava a porta, franziu o cenho em sua direção.

Sabendo que a amiga questionaria sobre aquilo, Mika tentou mudar o rumo do assunto:

— E então? Como foi por lá?

— Ah, bem legal — Maely comentou, fazendo uma careta enquanto tirava o tênis.

— Sim. Teve bastante comida e música legal. — Yandra sorriu. — Alguns professores apareceram também. Aproveitei pra falar com o Maciel e tentei pedir pontos extras por conta das minhas piadas.

Raquel começou a tirar seu all star branco, sentando na cama de Mika.

— Eu disse pro professor fazer ela perder pontos de tão ruins que eram.

— Para de mentir, Raquel. Ele riu de algumas — Yandra retrucou, logo fazendo um biquinho exagerado.

— Ah, e nem te conto, Mika — Maely cortou as garotas. — Janildo apareceu também. Ficou de papinho com umas alunas e os monitores se fingiram de cegos.

A alguns metros de seus pés, Raquel bufou.

— Nem me lembre disso. Duvido muito que, se a gente fosse de novo na coordenação, eles iam dar algum resultado nessa situação. Então só espero que esse homem suma logo da nossa vida.

Mika esforçou-se para rir. Mas a verdade era que sua cabeça só estava em um local. Ou, mais exatamente, em uma situação.

Infelizmente, suas amigas a conheciam bem o bastante para saber daquilo.

— O que foi que aconteceu, hein? — Yandra se dirigiu para a cama de Mika também.

— É... Você tá estranha. — Maely cruzou os braços. — Aconteceu algo.

Mika encarou por um segundo Raquel, que a analisava com atenção. Em seguida, suspirou.

— Não é nada de mais — tentou desconversar.

— Ah, não, não. Nem venha com essa. — Yandra sentou ao lado de Raquel. — Fala logo.

— Isso mesmo. — Maely ficou em pé ao lado da cama, assentindo com firmeza.

Passou o olhar entre as três amigas.

Como poderia esconder aquilo delas?

Mika soltou o ar com força.

— Serve um resumo? Bem, eu ia para a festa. Mas aí o João Pedro se encontrou comigo, começou a me xingar e me acusar de ter planejado que ele e Clara, que é o nome da ficante dele, terminassem. Eu obviamente não entendi, até que ele me mostrou um vídeo. Então corri para o quarto, vi que também tinha recebido aquele email e fiquei desesperada. Minutos depois, Armando bateu aqui. Ele ficou muito chateado e não acho que queira olhar mais na minha cara. — Mika suspirou. — Enfim, é basicamente isso.

Raquel franziu a testa.

— Que vídeo, Mika?

Pegou seu celular e abriu o email. Precisou esperar um pouco para o vídeo carregar. Quando conseguiu, entregou o aparelho para Raquel. Suas três amigas se espremeram na cama do beliche de baixo e deram play.

Mika teve uma visão privilegiada dos espantos de cada uma delas. Sem que pudesse conter, seu rosto assumiu uma tonalidade mais avermelhada. Não queria que elas achassem que realmente havia rolado algo ali.

— Óbvio que João e eu não nos beijamos. Como disse e repito, não aconteceu nada naquela noite.

— Mas que bem que podia, né? — Yandra arqueou uma sobrancelha em sua direção.

Devolvendo o celular para Mika, Raquel disse:

— Mas quem fez isso? Não reconhece o email do remetente?

— Não... Acho que ele foi criado só para isso. — Mika grunhiu. — E ainda fui acusada pelo bostinha do João de ter feito isso. Achei que ele fosse me bater por culpa da Clara ter terminado com ele.

Todas suas amigas trocaram olhares, suas testas franzidas.

— O que foi? Não venham me dizer que eu...

— Não, Mika. Não é isso que tu tá pensando. — Maely interrompeu. — Mas... acho que a ficante do João superou bem rápido.

— É... — Yandra levantou da cama, espreguiçando o corpo. — A gente viu ela conversando com um menino. Pelas risadinhas irritantes dela, que dava para ouvir de longe, pareciam flertar.

Mika franziu o cenho.

— Viram quem era?

— Não — Raquel respondeu, o olhar perdido em um canto do quarto. Ainda franzia as sobrancelhas. — O menino estava de capuz levantado.

— Verdade — Maely concordou. — Era preto o moletom, né?

Raquel soltou uma risadinha, encarando a amiga.

— Não, doida. Aquilo ali é azul-marinho.

— Pra mim parece preto. — Maely deu de ombros, também levantando da cama.

— Enfim, o importante é que vimos Clara com outro e ainda seguindo para um local mais reservado. — Raquel arqueou uma sobrancelha de modo sugestivo. — Sabemos que algo aconteceu ali.

Mika soltou o ar pela boca enquanto balançava a cabeça.

— Isso não é da minha conta. O que a ficante do João faz ou não, pouco me importa. Eu só quero mesmo é esquecer esse assunto e seguir adiante.

Raquel suspirou.

— Você vai conseguir isso. — Ela deu dois tapinhas em seu pé coberto. — O que não falta é homem nesse internato.

— Difícil é achar um que preste — Yandra retrucou, fazendo todas rirem.

Mika se acomodou mais na cama e apertou a boca.

Queria perguntar se Armando apareceu na festa; se havia feito o mesmo que Clara e partido logo para outra. Contudo, acima de tudo, não queria que suas amigas pensassem que ela sentia algo. O melhor seria se afastar de tudo aquilo e virar a página.

O (amor) Assassino Está Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora