42 - Ele soube

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Enquanto se arrumavam para a festa, a conversa no quarto era constante.

Mika não prestava atenção nos assuntos. Sua mente distraída se voltava para sua rápida interação — se é que podia chamar assim — com Armando na aula de Química. Obviamente havia sentado com Raquel, ainda sentindo a falta que a presença de Maely fazia na sala de aula. Foi no meio dessas suas divagações sobre a amiga que jogaram um bilhete em sua direção. Quando olhou para o lado, percebeu que Armando havia feito aquilo. Um Armando com expressão séria.

Esperava que ele fosse ficar magoado com o término. Mas aquela raiva gélida no semblante do garoto não havia sido cogitada antes.

Mika abrira o papel e por pouco não engasgou com a mensagem presente.

Mika abrira o papel e por pouco não engasgou com a mensagem presente

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Quando voltou a encarar Armando, ele já não a fitava mais. Mika esperou que ele a parasse no final da aula. Esperou que tentasse iniciar uma discussão quando ficassem sozinhos. Até mesmo esperou que ele fizesse um escândalo ali mesmo. Porém, o garoto somente voltou a ignorar sua presença e continuou assim pelo restante do dia. E, agora, Mika estava ali, com a cabeça zonza e o coração preocupado.

Armando havia descoberto do beijo.

Como?! Outro vídeo enviado pelo email desconhecido?

Não... Eu teria recebido também. Ou Armando teria feito questão de mostrar.

Então, qual poderia ter sido o motivo?

Como uma luz sendo acesa em uma sala escura, o nome de João Pedro brilhou na mente de Mika. A única pessoa que poderia saber do beijo era o próprio João. E não duvidava que o garoto tivesse inúmeros motivos para querer colocar Armando contra ela. Devia ser por esse motivo que, no dia anterior, João a havia perturbado com um bilhete. Ele era um falso, isso sim. Um desgraçado! O que ele não disse para Armando? Quantas mentiras inventou para seu primo não ficar com raiva dele? Talvez até tivesse insinuado que Mika o havia agarrado!

Mika bufou de raiva, afastado do olho a máscara de cílios e o espelhinho que segurava. Era melhor não deixar que suas emoções a fizessem borrar a maquiagem.

Conversaria com João Pedro na festa. Iria colocar um ponto final naquela briga toda. E, talvez, até esmurrar a cara daquele imbecil.

Voltou então a atenção às amigas, que conversavam.

— Eu teria dado um tapa na cara daquele desgraçado. — Raquel parou de mexer no cabelo por um momento, sua careta raivosa sendo percebida no reflexo do espelho. — Não sei como a menina conseguiu se manter calma.

— Talvez não calma, mas em choque — Yandra retrucou, ajeitando com cuidado um cacho seu.

Mika franziu o cenho.

— Falando do Janildo?

— Quem mais seria? — Raquel retrucou, a voz carregada de raiva apenas pela menção ao nome-proibido.

Algumas horas após a discussão no bebedouro, sua amiga havia retornado ao humor comum. Contudo, não fez menção de citar o assunto da briga. Mika, não querendo despertar outra vez o clima chato, tampouco fez questão de voltar a ele, mesmo que não pudesse conter uma pontada de preocupação com o que sua amiga fazia.

— O que ele fez dessa vez? Quem foi o novo alvo de assédio?

— Uma menina do primeiro ano — Yandra respondeu. — Parece que tentou trancar a menina com ele na sala de aula, mas um aluno tinha esquecido uma caneta lá e conseguiu impedir.

— Levaram o caso à coordenação e, como sempre, inventaram mil desculpas — Raquel continuou, seu rosto transparecendo a raiva que sentia. — Pior é saber que ele vai estar na festa. Não sei qual é a necessidade de chamar os professores para lá.

— Festa de fim de bimestre. — Yandra deu de ombros. — Eles participaram disso e são os professores.

Raquel revirou os olhos para o tom de obviedade da amiga. Em seguida, sentou-se na beirada da cama e começou a amarrar os tênis. Mika, que ainda terminava de passar seu rímel, franziu o cenho em sua direção.

— Já vai? Ainda faltam dez minutos para começar.

— Vou passar em um local antes. Esqueci um negócio lá.

Mika semicerrou os olhos.

— Raquel...

— Pelo amor, Mika! Até parece minha mãe. — Raquel voltou a revirar os olhos. — Eu não vou demorar. Não são vocês e os outros que dizem que estamos bem de novo aqui na instituição? Então. Vou lá e chego na festa sem que nem percebam minha falta.

Continuou encarando-a com desconfiança, o que fez sua amiga suspirar de forma dramática.

— Se quiser, posso ficar enviando mensagens sobre onde estou e para onde irei.

— Vou ficar de olho no celular — foi a única resposta de Mika.

— Obrigada. — Raquel abriu um sorrisinho e logo levantou da cama. — Vejo vocês por lá. E guardem comida para mim, por favor!

Mika e Yandra soltaram uns resmungos de despedidas. Não demorou para escutarem a porta do quarto fechando. Mika esperava que o silêncio fosse prevalecer, mas Yandra possuía outros planos:

— Vai ficar com a gente na festa, né?

Franziu a testa.

— E com quem mais eu ficaria?

— Hm... com seu namorado? — Foi a vez de Yandra franzir a testa.

Mika arregalou os olhos.

— Ah... Bem, eu... — Desviou o olhar para o espelhinho em suas mãos. — Eu meio que terminei com ele de novo.

Ao encarar sua amiga, notou a surpresa dela.

— E só decide falar isso agora?! Meu Deus! Quando que foi isso?

— Tem mal alguns dias. — Mika suspirou. — Só não achei tão necessário contar de imediato.

— Pois a Raquel vai discordar. Ela era a que mais apoiava essa separação, só preferia não dizer para você. Na verdade, ela não gosta nem do João, nem do Armando e nem do Rikelmy. Disse que nenhum é confiável por ter sido amigo do Ismael. Eu discordo, obviamente. Não era como se algum de nós soubesse o que ele fazia.

Mika mordeu o lábio inferior por um momento.

— João pode ser muitas coisas, mas um ajudante de assassino? Não... Ele é idiota demais. Rikelmy e Armando ficaram abatidos e até em choque com a notícia do Ismael. Nunca saberiam disso.

Um fraco suspiro lhe escapou.

— Raquel está paranoica. Não acredita que o Ismael era o assassino, ou que ele agiu sozinho. Se duvidar, pode até acreditar que o Janildo é o assassino. — Um risinho lhe escapou. — Eu sei que isso que ela foi "buscar", na verdade, é alguma coisa na floresta. Parece que encontrou mais provas dos assassinatos.

Yandra arregalou os olhos.

— O quê?! E por que vocês não fazem questão de me contar isso, hein?

— Porque eu não acho que seja bom a gente remexer nessas coisas. Já pensou se a Raquel toca nesses panos ou até mesmo na arma no crime, fica com a digital ali e sai como a culpada?! Deus me livre. Não quero isso para nenhuma de nós.

Sua amiga soltou um sonoro suspiro.

— Talvez fosse bom a gente ir atrás dela.

Mika balançou a cabeça negativamente.

— Não, não. Raquel é grandinha e esperta. Vai saber se virar.

Encarou a tela de seu celular apagada, torcendo para em breve receber alguma mensagem dela.

Raquel precisava estar errada sobre suas paranoias.

O (amor) Assassino Está Entre NósDonde viven las historias. Descúbrelo ahora