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Narração por Mirella. 

Eu fui casada com o Murilo por 6 anos e namorei com ele por 4 anos. O conheci no RJ e depois que terminamos a faculdade de gastronomia, nos casamos e nos mudamos para Santa Catarina.

Apesar de eu e ele termos uma condição financeira favorável, com nosso esforço e trabalho abrimos nosso restaurante. Nesse meio tempo veio o amor da minha vida, a Sara. 

Com o passar do tempo ele começou a vacilar, não aparecia no restaurante, eu comecei ter que aguentar a parte financeira e comandar a cozinha sozinha. Ele começou a receber telefonemas estranhos e então ele acabou me contando que tinha outra mulher. Eu tentei fazer de tudo pra gente voltar a ser uma família feliz, porém ele não estava disposto e aquela mulher já havia o dominado. 

A gota d’água foi quando eu cheguei no nosso restaurante e ele estava tomando café da manhã com a vagabunda lá. Então sem pensar duas vezes, fui pra minha casa, arrumei minhas coisas e da Sara. Comprei duas passagens para o RJ, busquei a Sara na casa da babá e fui com ela pra casa de uma amiga. De lá fui para o aeroporto e agora cá estou eu no apartamento do grosso do meu irmão e com seus dois amigos estranhos. E pra completar minha mãe chegou desesperada lá. 

—Você é maluca Mirella? –Ela disse. 
—Mãe! Ele me desrespeitou! Eu fiz de tudo pra gente voltar, fui uma mulher fiel, companheira, fiz de tudo por ele e como ele me compensou? –Falei. 
O Bruno e o Felipe levaram a Mirella em uma sorveteria para eu e a minha mãe conversarmos. 
—Não interessa Mirella. Você nem conversou com a Sara antes, o que a menina deve está pensando agora? 
—Que estamos de férias aqui no RJ. –Falei e dei de ombros. 
—Mirella, você não é mais criança. –Ela me deu bronca. 
—Mãe, eu sei que não sou. Mas eu não podia lá fingindo por mais um mês que tudo estava bem, só faltava ele me expulsar de casa pra colocar ela lá. Se você não sabe, mas a casa está no nome dele. E do jeito que ele estava me tratando feito uma cachorra qualquer da rua¸ me esculachava, faltava com respeito comigo dentro da cozinha. É assim agora? Mãe eu não podia mais poxa. –Falei chorando.
—Eu entendo seu lado filha. –Ela sentou do meu lado e me abraçou-. Eu só quero que você entenda que a Sara tem apenas 5 anos, uma criança esperta e que logo vai entender que isso não são férias. E que o Murilo vai vir atrás dela, tem direito como pai independente do que ele fez, processo de separação não é fácil. Você precisa amadurecer, Mirella, ver que até Sara crescer e ficar independente, ela vai precisar de você pra tudo. E até mesmo depois disso, você vai ter que ser o ponto referencial dela. 
—Eu sei mãe, eu faço tudo pela Sara. Eu quero sair da dependência do Murilo, largar aquele cachorro e educar minha filha longe de tudo isso. –Falei soluçando. 
—Para de chorar filha, já acabou, esquece o Murilo. –Era difícil esquecer alguém que você amava. Ela ficou do meu lado, me abraçou e me aconselhou. Eu estava mesmo precisando de um colo de mãe-. E o que você acha da gente ir pra cozinha e fazer um almoço bem gostoso? 
—Eu não vou cozinhar para o idiota do Gael, ele gritou comigo. –Falei e fiz bico. 
—Não é só para o Gael, tem os meninos e a Sara. –Minha mãe rolou os olhos-. Você tem 26 e Gael tem 20, já chega de brigar né? 
—Ele que é um ignorante. –Falei e levantei do sofá. 
—Você também não é flor que se cheire Mirella. -Ela falou. 
Eu e a minha mãe fomos pra cozinha, não tinha nada pra comer ali direito. O que esses meninos comiam? Só havia comida congelada e em lata. 
—Melhor a gente ir ao mercado. –Minha mãe disse-. Esses meninos devem está com uma anemia profunda, isso sim. 
—Nem me fala. –Rolei os olhos. 

Eu já nem conhecia mais o RJ direito, mudou tanto desde que fui embora. Eu e a minha mãe fomos em um mercado, compramos o suficiente para fazermos um almoço e para deixar já algo para aqueles meninos comerem. 
Voltamos para o apartamento, fomos pra cozinha e começamos a cozinhar. 

—E como você pretende se virar aqui no RJ? –Minha perguntou enquanto cozinhava.
—Eu tenho ainda 50% do restaurante lá em Santa Catarina, vou vender minha parte para o Murilo, já tenho um bom dinheiro guardado aqui. Vou procurar algum restaurante pra trabalhar, vender meus doces e salgados, enquanto vou juntando dinheiro pra montar meu próprio negócio. Não quero depender de nada do Murilo. –Falei. 
—Vem com a Sara lá pra casa. –Minha mãe convidou-. Aqui vocês vão ficar muito apertadas e você e seu irmão vão viver brigando. 
—Tudo bem, mãe. –Não queria ficar mesmo com o Gael, sabia que iríamos acabar nos desentendendo. 
Fizemos duas travessas de lasanha, arroz e salada. Os meninos chegaram com a Sara toda lambusada de sorvete, engraçado que eles também estava sujos de sorvete. 
—Que cheiro maravilhoso, bora comer bem hoje mano. –O Felipe chegou na cozinha rindo. 
—Vamos expulsar o Gael e deixar a irmã dele morar aqui. –O Bruno disse. 
—Eu e a minha mãe não vamos morar aqui. –A Sara falou e deu um soquinho no Bruno. 
—E você para de me socar. –Ele pegou ela no colo e a colocou em cima do seu ombro. 
—Meninos, vocês precisam comer comida de verdade. –Falei. 
—A gente até tinha uma moça que cozinhava e limpava pra gente, só que ela ficou doente. –O Felipe falou com uma cara que chega deu dó, ainda mais que ele tinha sorvete de chocolate pela camisa-. E ninguém aqui sabe cozinhar. 
—Isso se chama preguiça. –Minha mãe falou. 
—Ai tia a gente chega da facul mortão, ninguém tem saco pra fazer nada. –Ele falou. O Bruno voltou com a Sara morrendo de rir. 
—Vocês três precisam tomar jeito, vou acordar o Gael. –Minha mãe falou e saiu da cozinha. 
—Vocês três só vão comer depois que estiverem limpos. –Falei tirando as lasanhas do forno. 
—Meu estômago chega bateu palmas agora. –O Felipe falou rindo. 
—Vou até tomar meu banho. –O Bruno falou e saiu andando. 
—Sara, depois é você ein. –Avisei pra ela. 
—Ah mãe. –Ela reclamou e sentou na cadeira ao lado do Felipe.
—Tomar banho é chatão mesmo. –Ele falou-. Se eu não tivesse que pegar mulher ficaria sujo por uma semana. 
—Não fala essas coisas pra minha filha, garoto. –Bati nele com o pano que riu. 
—Mãe! Eu posso ficar então sem tomar banho? O tio Felipe também não gosta. –Ela falou rindo. 
—Claro que não filha, ele é porco e você cheirosinha. –Falei. 
—Sou nada, eu sou cheiroso e limpo. –O Felipe falou e fez cara de convencido. 
—Vai tirar esse sorvete de chocolate de você e depois fala comigo. –Falei e fui terminar de colocar a mesa. 
—Ela é sempre mandona assim? –Ele cochichou pra Sara. 
—É sim. –Ela cochichou de volta e eles ficaram rindo lá. 
Minha mãe apareceu na cozinha com o Gael, ele estava com uma cara de sono do caramba. 
—Tio Gael, o tio Lipe e o tio Nono me levaram pra tomar sorvete. –A Sara falou e pulou no colo do Gael. 
—Aé? E você já ficou amiguinha desses dois cretinos assim fácil? Me traindo é Sara? –Ele falou como se estivesse com ciúmes. 
—Mas eu amo só você. –Ela falou e deu beijos no Gael. 
—Qual foi desse rango? Caralho vocês capricharam. –O Gael falou. 
—Ne não mano, eu e o Bruno estamos pensando em até te expulsar pra sua irmã ficar com seu quarto. –Ele disse-. Ela e a sua mãe cozinham pra caralho. Fora que a sua irmã é gostosa e você não. –Dei risada do que o Felipe falou. 
—Fica com ela então seu gay. –O Gael deu um soco no Felipe-. Eu vou embora. 
—Vai morar com a Luna. -Luna pra lá, Luna pra cá, foto com Luna e blá blá blá. Nem a conheço e já estava cansada do nome dela. 
—Falando em Luna, o que você acha de sair eu, você e a Luna hoje a noite filha? –Minha mãe disse. Era só o que me faltava. 
—Ah mãe... –Já comecei a reclamar pra não ir e o Gael rolou os olhos. 
—Daqui a pouco a Luna vai vir aqui, ai vocês decidem se vocês vão sair. –O Felipe falou. 
—Ah que bom então. –Minha mãe disse.

MIL RAZÕES (F!)Where stories live. Discover now