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Narração por Emilly. 

A segunda-feira já começou terrível. Hoje seria a apresentação do filho do meu chefe e minha mãe estava se sentindo mal. Já havia algumas semanas que a notícia de que seu câncer no estômago havia se espalhado para o fígado e pulmão. Eu tentava ser forte, ser a sua barreira, mas eu estava sem forças e sem ter o que fazer. 

Lúcia: Emilly. –Ela me chamou fraquinha enquanto eu preparava seus medicamentos. Olhei para ela enquanto minha tia acariciava sua cabeça. 
Emilly: Oi mãe. –Sorri para ela. 
Lúcia: Não vá se atrasar para o trabalho. 
Emilly: Não irei, mãe. –Coloquei seus remédios na bandeja e fui até ela. Minha tia segurou e a ajudou tomá-los. Sentei ao lado dela na cama e dei um abraço tão gostoso nela-. Te amo muito mãe. 
Lúcia: Também te amo muito filha. Agora vai trabalhar, anda. –Dei um beijo no topo da sua cabeça, peguei minha bolsa e sai de casa. 

Peguei o ônibus lotado sentindo-me exaurida, passei a madrugada inteira com a minha mãe vomitando e tentando vaga em algum hospital. Nenhum tinha atendimento de emergência e eu não podia pagar um particular. 

Meu pai nunca quis saber de mim e desde então somos só eu e a minha mãe. Quando ela descobriu do câncer, eu parei meus estudos e fui atrás de um emprego. Graças a Deus o Sr. Belluce abriu as portas para mim, se não fosse por ele, eu nem sei como estaria conseguindo manter tudo. Mesmo com tanta dificuldade ainda. 
Eu tentava não pensar na minha mãe daquela forma e de como um sentimento ruim me envolvia. Desci do ônibus e corri de saltos altos mesmo até a empresa. Assim que cheguei, tive que maquiar e subir de elevador até o andar onde trabalhava.

Eu era secretária do Sr. Belluce, juntamente com a Clarinha e a Luana. A Luana é muito espivetada, desde quando entrei aqui o nosso santo não bateu, ela vive me alfinetando, mas ela não me abala de jeito algum. 

Emilly: Bom dia meninas. –Sorri para elas.
Clarinha: Bom dia, Emilly. –Sorriu para mim, me abaixei na sua mesa e dei um beijo no rosto dela. 
Luana: Bom dia.-Respondeu seca e continuou mexendo no computador. –Fui para a minha mesa e iniciei o PC. 
Clarinha: Emilly, ficou sabendo? O filho do Sr. Belluce é um Deus grego, ou melhor, romano. –Ela falou como se estivesse apaixonada. 
Luana: Lindo, rico e gostoso, mas não é pra nenhuma das duas. Feito pra mim. –Ela soltou seu veneno e eu rolei os olhos. 
Emilly: Seja o que for ele é nosso chefe, ética de trabalho né meu bem? –Rolei os olhos sem olhar pra cara daquela cobra. 

As portas do elevador se abriram, levantamos as três da mesa e nos juntamos na lateral da passagem. O Sr. Belluce saiu com um homem ao seu lado que parecia ser sua versão mais jovem. 

João: Bom dia meninas. –Ele nos cumprimentou e também respondemos a ele com um ‘bom dia’-. Gostaria de apresentar meu filho mais velho, Caio. 
Caio: Prazer meninas. –Ele disse sério. A Luana foi logo estendendo a mão pra ele e se exibindo toda. Depois perde o emprego e não sabe porque. Ele apertou minha mão firme e da Clarinha também. 
João: Tenham um bom trabalho meninas e um bom dia também. –Em seguida entraram na sala.
Luana: Que gostoso. –Ela comemorou-. Eu quero e muito. –Rolei os olhos e fui fazer o meu trabalho. 

Minha mente vagava entre o trabalho e a minha mãe, queria que o tempo passasse logo para que eu pudesse sair daqui e ir ficar com a minha mãe. O telefone tocou e eu atendi. 

Ligação 
João: Srta. Emilly, por favor compareça na minha sala. 
Emilly: Ok senhor. 
Fim da ligação 

Meu coração se acelerou, tinha tanto medo de perder esse emprego. Era ele que pagava a fortuna em remédios da minha mãe e suas consultas. 

Levantei da minha mesa, fui até a porta da sala dele, bati e entrei. O Sr. Belluce estava em sua mesa, imerso de papéis, enquanto seu filho estava em outra mesa também analisando papéis. 

Emilly: Pois não Sr. Belluce? 
João: Vou precisar que você seja secretária exclusiva do meu filho. 
Emilly: Sem problemas, senhor. Mais alguma coisa? 
João: Não por enquanto. –Sai da sala e voltei para a minha mesa. 
Clarinha: O que ele queria? 
Emilly: Apenas que eu fosse secretária de seu filho. –Voltei a atenção para o meu trabalho. 
Luana: Como assim? Eu estou aqui há muito mais tempo que você. –Ela pareceu brava-. E agora do nada você vira secretária pessoal dele? 
Emilly: Sim, algum problema? –A olhei sério pra poder cortar o assunto. Voltei a atenção para o meu trabalho. 

Se ela quisesse melhorias e ser notada no trabalho, deveria parar de ser oferecida com todo homem rico que aqui entra. Fazer apenas aquilo que a mandam fazer e sem reclamações. 
Mais tarde, após meu horário de almoço, fui chamada a sala do chefe. Ao chegar, estava apenas o Caio.

Emilly: Licença, o que o senhor deseja? 
Caio: Eu tenho uma reunião agora e preciso que você me acompanhe, pra fazer algumas anotações. Pronta? –Ele disse levantando-se logo e pegando sua pasta. 
Emilly: Sim, claro. –O segui saindo da sala, parei apenas pra pegar minha bolsa. O segui até a saída da empresa, onde um carro executivo da empresa nos esperava. 
Caio: Eu quero que você anote cada detalhe da reunião e faça observações dos pontos mais importantes. Será uma reunião breve. –Eu apenas assenti e o carro deu partida. 

No meio do caminho, o meu celular começou a tocar. Abri minha bolsa e vi que era do número da minha casa. Meu coração se apertou logo, poderia ser a minha mãe. 

Caio: Atenda. 
Emilly: Eu... 
Caio: Atenda. –Eu peguei meu celular e atendi. 

Início da Ligação 
Nara (tia): Emilly, sua mãe. –Ela disse chorando e meu coração começou a bater forte, já senti o pior e meus olhos marejaram. O choro desesperado da minha tia já dizia tudo. 
Emilly: Minha mãe... –Não consegui ser forte e guardar minhas lágrimas. 
Nara: Vem pra casa. 
Fim da Ligação 

Guardei meu celular em prantos. Sentindo-me vazia, eu havia perdido a mulher da minha vida.

MIL RAZÕES (F!)Onde histórias criam vida. Descubra agora