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Narração por Gael. 

Mulher, bebida, mais mulher, balada, já disse mulher? Curti a vida é bom demais, tenho que curtir enquanto tenho tempo. 

Cheguei da academia morto, tenho que ficar gostoso pra mulherada, tomei um sheik e fui tomar banho. Coloquei uma bermuda de ficar em casa e me joguei no sofá. Era dia do Bruno fazer o nosso jantar e limpar a cozinha. Liguei a TV só pra ouvir o barulho mesmo, porque fiquei mexendo no meu cel. 

Atualizei o feed do Facebook e apareceu uma foto da Luna. Ela estava linda, tempo que eu não a vejo. Bateu uma sensação estranha, uma sensação que eu senti que era saudade e logo na minha mente veio o som da risada dela, seu sorriso, quando ficamos pela primeira vez e quando fizemos sexo. Porra mano aquela morena linda rebolando em cima do meu pau como esquecer, puta que pariu, meu filhote chega ameaçou ficar aceso. Aqueles gemidos, aqueles lábios, aquele sorriso que ela deu depois que gozou... 

Bloqueei a tela do meu cel e coloquei a almofada no meu rosto, tentando sufocar esse tipo de pensamento. Eu estava tão bem sem nem lembrar dessa garota, mas como mente ociosa é oficina do diabo. 

—Está passando mal mano? –Era a voz do Felipe. Tirei a almofada do rosto e olhei pra ele que estava parado ao lado do sofá. 
—Não cara, só pensando. –Respondi com um sorriso sem graça. 
—Eu vi que você estava olhando a foto da Luna. –Ele riu e sentou no sofá ao lado. 
—Cala a boca seu viado. –Taquei a almofada nele. 
—BRUNO! CORRE MANO! –Lipe chamou o Bruno e ele saiu da cozinha olhando assustado. 
—Que foi caralho? —Ele disse. 
—Peguei o Gael olhando a foto da Luna e com aquela cara “porra mano perdi uma mina dessas” –O Lipe falou me zoando e eu mandei dedo pra ele. 
—Vai tomar no seu cu, caralho, não foi nada disso. –Expliquei. O Bruno começou a rir. 
—Bora puxar o coro, Lipe. –O Bruno falou.
—Minha pele sente frio sem você. Teu cheiro ainda está em mim. No ar. E o que fazer então pra suportar essa vontade? Sofre o meu coração. Volta pra mim, meu corpo clama por você. Meu amor, não consegui dormir direito. Por favor, diz que vai voltar pra mim. Telefona, nem se for pra dizer que acabou. Já não posso mais viver. Não aguento mais sofrer. De amor. –Os dois imbecis cantaram e eu rolei os olhos. Se eu saísse da sala daria o braço a torcer pela situação. Sentir saudade é normal ué, sinto falta até da coxinha que comi mais cedo quando sai da faculdade. Enfim eles pararam de cantar aquela música rídicula. 
—Acabaram? –Perguntei com cara de cu. 
—Tem mais uma mano, bora aquela mesmo Brunão. –O Lipe falou. 
— Sonhei contigo, ooooh! Agora eu sei. Era você e eu não enxerguei. Como no velho ditado eu falhei. Só dei valor quando eu te perdi, vacilei. Vem me perdoar! Estou perdido, ooooh! 
Meu coração, quer se vingar de tudo o que passou. Quer maltratar, me fazer sofredor. Não deixa eu pensar em mais nada a não ser nesse amor. Mande um Sinal. Da um alo, da uma chance pro amor, pois eu não to legal. Mande um sinal. Se a saudade aumentar vai ser golpe fatal. Mande um sinal. Eu preciso dizer que a minha vida parou sem você, tá um caos. –Os dois cantaram. 
—Vão tomar no cu, por favor, obrigado. –Falei e levantei do sofá, enquanto calçava minhas havaianas os dois riam. 
—Mano leva ela no show do Jorge & Matheus e se declara. –O Bruno falou rindo. 
—Está na cara que você está apaixonado. –O Lipe disse. Antes de sair de casa eu virei e falei. 
—Não adianta correr atrás e nem se declarar quando eu já estou conformado que eu não sou bom o suficiente pra ela e que eu sou filho da puta demais pra alguém como ela. –Sorri irônico e sai do apartamento.

O que a Maia me disse aquela vez era certo, eu nasci pra farra e não pra amar uma mulher. E a Luna está muito bem sem mim, certeza que ela nem lembra mais do que rolou entre nós dois. 

Desci até a orla da praia e fui caminhar, abri minha mente um pouco, acendi um cigarro e fiquei andando. Meu cel começou a tocar, atendi e sentei em um banco. 
Era a minha mãe.

Início da Ligação 
“Oi filho” —Andréia. 
“Oi mãe, tudo bem?” —Gael. 
“Estou bem sim e você? Está sumido ein!” —Andréia. 
“Muitas coisas pra fazer, mas vou aparecer. Estou bem.” —Gael. 
“Então, estou ligando justamente pra você aparecer no almoço que vai rolar na casa do João sábado” —Andréia. 
“Logo sábado?” —Gael. 
“Poxa filho, mamãe está com tantas saudades. Não se afasta de novo poxa” —Andréia. 
“Vai mexer com o meu psicológico?” —Gael. 
“É o único jeito de te convencer” —Andréia. 
“Eu vou, mas não prometo nada. Tenho que comparecer a uma super festa sexta” —Gael. 
“Porque de todas as festas do mundo eu larguei tudo pra carregar você durante 9 meses, trabalhei duro, com você na barriga ainda cuidava dos seus irmãos e do seu pai” —Andréia. 
“Mãe! Ta bem eu vou, que coisa, não precisa apelar” —Gael. 
“Obrigado, mamãe ama você” —Andréia. 
“Também amo a senhora” —Gael. 
“Beijos filho, vou desligar” —Andréia. 
“Beijos mãe” —Gael. 
Fim da Ligação 

Minha mãe quando quer tirar proveito de mim sempre apela, porque sabe que é o único jeito. Mas essa festa eu não perco nem fudendo, foda vai ser ir com ressaca pra esse almoço. Sábado não é dia de almoço em família, eu hein, esse povo não tem o que fazer não? 

Fiquei ali por um tempo e depois voltei pra casa. Os meninos estavam jogados no sofá, ainda bem que não disseram nada sobre a Luna, não estava a fim. 

Fui até a cozinha, lavei minha mão, fiz meu prato e comi por lá mesmo. Depois de comer, fui ao banheiro, escovei meus dentes e fui deitar na sala com os moleques. 

—Porra viado, tem nada pra fazer. –O Bruno reclamou. 
—Tem nada mesmo não. –Respondi-. Não tem nada na rua.
—Eu tenho um monte de coisa da faculdade pra fazer. –O Lipe disse-. Mas eu não vou fazer nada. 
—Começou a aula hoje mano. –Falei-. Que tanto de matéria é essa? 
—Vai saber mano, várias fitas. –O Lipe falou e o celular dele começou a tocar. 
—Hmmm é a Mirella, aposto. –Zoei. Sabia que ele estava de treta com a minha irmã desde quando ela chegou aqui. 
—Claro que não seu zé bosta, é a Luna. –Ele respondeu e saiu pra atender. 
—Aiai. –Falei e deitei a cabeça no chão. 
—Ciúmes ativado com sucesso. –O Bruno falou com voz robotizada. 
—Não fode aff. –Levantei do chão e fui para o meu quarto. No caminho a porta do Lipe estava aberta e a ligação no viva-voz, enquanto ele estava no chão mexendo na sua mochila. 

“Para de ser gorda mano, falou que ia malhar e agora está se acabando no BK?” —Lipe. 
“Eu já até jantei se você quer saber, meu pai que mandou eu sair e comprar batata pra gente. Ai eu comprei logo um shake e um hamburguer” —Luna. 

Entrei no meu quarto sentindo meu coração acelerado. Como pode apenas uma voz dando risada me fazer ficar assim? Como uma foto que eu olhei pode despertar tantas coisas que eu nem sabia que existiam em mim? Por que logo ela mexia tanto comigo?
 
Logo ela tão boa para mim, tão linda, inteligente, carinhosa e charmosa. Independente, carismática, pé no chão. E companheira para todas as horas... Mostra que é mulher de verdade, independente do que dizem ou que a sociedade impõe.

Pensamento formado, educada, tudo o que a minha mãe quer como nora. 
Me arrependi de ter apagado as nossas fotos do meu celular, mas na hora da raiva a gente faz tanta coisa e se arrepende depois. Raiva de mim mesmo que apenas em um momento Gael e não Gustavo, perdi a mulher mais importante que entrou na minha vida depois da minha mãe. E eu a perdi. E o que mais me machucou naquele momento foi saber que aquela risada gostosa seria de outro cara e não minha. O jeito era se conformar e seguir em frente.

MIL RAZÕES (F!)Where stories live. Discover now