3º Capítulo

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O vento acariciava suavemente a minha cara, enquanto os meus pés rodavam os pedais da antiga bicicleta. Como uma seta a cortar o vento, eu estava a caminho da livraria, dando as bem-vindas ao dia em que iria, finalmente, ler o "sagrado livro", tão protegido por Mr.Clarks.

Passou uma semana e três dias desde o incidente no beco. Não falei com nenhum dos rapazes desde então. Esta quarta-feira, abordei a Mara acerca do seu irmão, ela convenceu-me de que não o vira, era como se tivesse evaporado. Também não tive qualquer contacto com o rapaz, cujo nome desconheço. E, muito sinceramente, não tenho qualquer desejo.

Hoje, em vez de ir pela rua principal, escolhi ir pelas vias secindárias, para evitar a multidão. A nossa vila é pequena e, portanto, na hora de ponta a estrada principal não é o precurso ideal.

O vento trazia agradáveis arrepios ao meu pescoço. Fechei os olhos por alguns segundos para disfrutar da perfeição deste momento. Abrio-os, de novo. Do meu lado esquerdo, tal como do meu lado direito, havia apenas casas. De todos os tamanhos e feitios. Contudo, uma em particular prendeu a minha atenção.

Os vidros das janelas tinham fraturas, a porta da frente parecia não ter fechadura, as paredes precisavam, urgentemente, de uma pintura e o jardim parecia ter sido, primeiro, atacado por plantas expontaneas e, logo de seguida, por uma manada de bois.

Parei a bicicleta em frente ao pequeno portão, que cedeu ao mínimo empurrão. Os meus pés pararam num caminho de pedras brancas e cinzentas, que nos encaminhava até a porta principal, após a subida de um par de escadas. 

Os meus olhos viajaram por todo o jardim da frente e pousaram no chão, ao lado de uma velha árvore. Nesse lugar jaziam pedaços de vidro partido de diferentes cores, tendo a mesma textura que o vidro do meu próprio jardim. A minha cabeça preencheu-se de imagens do malicioso objeto, enquanto a minha respiração se tornava irregular.

"Peço desculpa, posso ajudá-la com alguma coisa?" uma voz rouca, num tom educado, desbloqueou o meu sistema.

Lentamente, movi a cabeça de modo a encarar, completamente, quem falara para mim.

"Tu vives aqui?" questeonei, mal o meu cérebro fez corresponder a imagem que vi, a alguém que conhecesse. A grande paixão secreta de Mel estava encostada a porta da casa, aparentemente, abandonada.

O jovem decidiu ignorar a minha pergunta e continuou a olhar para mim. Enquanto isso, os meus olhos encontraram, novamente, os vidros, que continuavam no mesmo lugar que anteriormente. As mihas mãos massajavam-se uma a outra numa tentativa de acalmar-me e evitar conclusões, evidentemente, precipitadas. "De quem era o sangue naquele pedaço de vidro? Aquele objeto foi usado para matar alguém? Este rapaz tem algo a ver isso?" mais imporante: "O que fazia aquilo no MEU jardim?" todas estas perguntas passaram num flash pela minha cabeça.

"É a antiga casa dos meus avós. E aqueles vidros já aí estavam quando me mudei" explicou calmamente o rapaz. Ele parecia estar sempre muito tranquilo, sem emoção alguma nas palavras. "Ainda não tive, nem tempo, nem vontade para os tirar daí." finalizou, não se mexendo do sítio. Quando reparou que eu estava completamnte paralizada, tendo me transformado num nó de nervos, sem capacidade para proferir palavras coerentes, voltou a falar:

"Eu não quero ser mal educado, ou rude, mas penso que deverias ir embora. Eu tenho muito trabalho a fazer. E... uma rapariga inocente, como tu, não se deve aventurar por casas abandonadas com vidro suspeito no jardim"

"Certo." foi a única coisa que consegui dizer antes de lhe virar costas e apressar-me para a minha bicicleta. Quase tropecei ao passar pelo pequeno portão, novamente. Os meus movimentos eram frenéticos, sem pensar muito neles. Os mesmos pararam bruscamente, quando pegava no volante da bicicleta. Virei-me, de novo, para o rapaz. E como à segundos trás, também agor, não pensei nas minhas palavras, e proferi:

Glass Masterpiece || h.sWhere stories live. Discover now