15º Capítulo

1K 80 2
                                    

Sábado já fora esquecido à muito, por domingo, dando lugar a uma nova semana. Dando lugar a uma nova sequência de repetições. Acordar. Pequeno-almoço. Livraria. Almoço. Livraria. Casa. Jantar. Televisão. Ler. Dormir.

O telejornal deixou de partilhar, com toda a população da vila, o progresso da investigação e, por isso, estou de novo a criar teorias absurdas na minha cabeça, esperando que o assassino seja encontrado.

Torturo, também, a minha massa cinzenta, devido ao rapaz de olhos verdes que deixou uma marca ainda mais misteriosa, após o nosso encontro na floresta. Qual é o problema se ele me contar o seu nome? É apenas um nome. Talvez percebesse se ele não me quisesse contar o apelido, pois isso relaciona-o com a família esquisita e com a sua avó assassinada. Mas o primeiro nome?

Nesta rotina, misturada com vontade de finalmente conhecer o assassino e perguntas sobre Styles, chegou a quarta-feira. E eu encontro-me, como se tornou usual, a evitar Edward. Mas desta vez junto-me a Mel para observar Styles.

Melissa disse que o seu plano fenomenal está em construção e que mo dirá dentro de alguns dias. Eu não sei se deverei acreditar nela, mas finjo fazê-lo. Na minha opinião, ela não tem plano e já encontrou outro interesse amoroso. Ou será algo de que eu me quero convencer, de modo a sentir-me menos mal por ter um súbito interesse no seu amado? De qualquer modo, não acredito nela. 

De um momento para o outro tudo parece parar de novo. Há poucos dias, eu estava exaltada com os eventos que se substituíam uns aos outros. Agora estou de novo à espera que aconteça algo. Por acréscimo a esta paragem repentina, temos ainda o facto de eu querer desvendar segredos, mas não saber como, algo que me deixa extremamente frustrada.

Direciono-me para a carrinha, para arrumar a botija vazia, onde anteriormente estava a sopa. Quando me viro bato no peito forte de alguém, o que me deixa muito assustada. Com medo, levanto a cabeça e encaro Edward.

"Porque me estás a evitar?" atira quase de imediato.

"Eu... não..." engasgo-me. Basta olhar para ele para perceber que não vai engolir a minha mentira. Eu rendo-me: "Não sei." cuspo derrotada. Sento-me dentro da bagagem, deixando as pernas de fora. Não sei se lhe digo a verdade ou deixo o assunto em aberto, fazendo Ed ir-se embora. Não sei se ele quer saber a razão, na verdade. Aquela pergunta inicial parece mais um pretexto para falar comigo.

Edward senta-se ao meu lado:

"Teresa" respira.

Viro-me para ele com uma sobrancelha erguida. Não percebo do que fala.

"O nome dela". Ele não precisa de especificar mais, para eu perceber que se refere à rapariga cuja foto tem no quarto. Ofereço-lhe um olhar compreensivo, sendo um incentivo para ele continuar:

"Eu amava-a, Alexa. Amava mesmo." suspira, olhando para as mãos, com as quais brinca no colo. Percebo que lhe dói falar sobre ela. Cubro as suas mãos com a minha, num gesto reconfortante. Afasto todo o desgosto que sentia perante o rapaz, por momentos. Não me autorizo a pensar nisso agora. Também não quero pensar no facto de que alguém me está a observar, sinto-o com todas as fibras do meu corpo. Redireciono a minha atebção para Edward:

"Nós tínhamos planos juntos. Queríamos fazer tanta coisa e ela morreu." diz com fraqueza na voz. No entanto, não deixa as lágrimas caírem dos olhos. "Logo depois de um ataque de ciúmes meu!" finaliza abanando a cabeça violentamente. 

O meu coração aperta-se e olho-o com pena. Tenho de o fazer falar, contar tudo, assim, irá sentir-se melhor:

"Ataque de ciúmes?" pergunto.

"Sim. Um rapaz qualquer veio a minha casa para fazer o projeto daquele jardim horrível, e nós estávamos lá. Eu vi a forma como ele olhava para ela! Com olhos excitados!" eleva a voz no final da frase. "A culpa foi minha!" acaba por desabafar.

Glass Masterpiece || h.sWhere stories live. Discover now