29º Capítulo

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Harry é quem vejo assim que saio da loja, algo que me impede de distrair-me com a diferença de temperaturas. A sua figura alta e esbelta, longas pernas cobertas com calças pretas e um cardigã, igualmente, preto, sai do carro, com uma expressão concentrada. Sorrio ao vê-lo. De acordo com uma razão desconhecida, os meus lábios esticam-se, involuntariamente, e o meu coração acelera. Harry dá largos passos até à mala do carro, olhando pelo ombro, como da primeira vez que o vi, obsessivamente.

Penso como tudo mudou desde então. Mas assim que os meus pensamentos começam a encadear-se, como o fumo fresco lançado para o ar, são obrigados a dissipar-se, como se alguém abanasse a mão, em aborrecimento.

"Todos para aqui! " ouço a voz grossa de Amélia.

Reviro os olhos e, com um suspiro, caminho até ela, ficando sem oportunidade para ver o que tinha Harry na mala do carro e, impedindo-me, portanto, de criar hipóteses para justificar a sua presença, aqui na cidade. Amaldiçoo-a mentalmente. Ainda me pregunto como quer que a ouçam o seu grito ditador, quando a maioria fora para o café, a duas ruas daqui.

"Os que aqui estão comecem a levar as caixas para aqui. " ordena, apontando o veículo que nos trouxe até à cidade, com as portadas da mala abertas.

Com os braços pendentes ao lado do corpo e passos pesados, avanço até ao amontoado de caixas destinadas a serem movidas.

"Olá" alguém diz atras de mim, e salto ligeiramente. "Calma" ri e viro-me para trás vendo Edward.

"Olá!" Retribuo com um sorriso amigável, e pego numa das caixas, começando a caminhar.

"O que se passou para andares tão ausente?" Pergunta curioso, e noto alguma preocupação na sua voz, enquanto se move ao meu lado.

Baixo os olhos, concentrando-me naquilo que estou a fazer, e formo uma linha reta com os lábios, que se encontram roxos, devido ao frio, que me cerca.

Como lhe posso contar tudo o que tem acontecido? Que trabalho para um assassino que me confessou o crime? Que eu e Harry nos beijamos múltiplas vezes e eu não faço ideia daquilo que sinto perante ele? Que os meus pais me escondem algo, que eu quero descobrir? E acima de tudo, que eu já não sei quais são as minhas convicções? Todas aquelas que a minha cabeça compunha ainda há poucos meses, parecem ter-se misturado, como açúcar e sal - indiferenciáveis.

"Nada," respondo colocando a caixa no seu lugar, e dirijo-me para a segunda, após fazer fricção entre as minhas mãos cobertas com luvas, para as aquecer mais um pouco.

Ele assente com a cabeça, "já percebi que não queres falar sobre isso. Mas talvez se contasses seria mais fácil..."

"Não é preciso" interrompo-o, apressando-me para mais uma caixa, oferecendo-lhe um sorriso fugaz.

Eu não iria partilhar com ele, mesmo sabendo que me contou sobre a sua namorada falecida. Eu continuo a não confiar nele.

Aos poucos o resto das pessoas chega, a correr, batendo os pés um no outro, combatendo o frio e juntam-se a nós.

"Hey Alexa!" grita Violet e pega no cartão, entulhado de alimentos, que seguro entre as minhas pequenas mãos. "Eu levo esse!" diz sorrindo e, num meio andar, meio correr, encaminha-se até ao destino do objeto que carrega.

Com mais alguns exercícios vai e vem, risos divertidos e um ambiente leve e acolhedor, que contrasta com as condições atmosféricas, todos juntos, fizemos aquilo, para que viemos até à cidade.

Pousada a última caixa, olho o céu. Alguns, pequenos, flocos de neve caem no meu nariz e sorrio. Temos de admirar as pequenas coisas! Um suspiro satisfeito escapa os meus lábios e viro a cabeça para o lado, vendo o carro do Harry, agora estacionado mesmo em frente à pequena loja que me encantou há pouco tempo atras. O que fará lá? Do mesmo, aproxima-se um corpo, alto mas um pouco mais baixo que o Harry, sendo, no entanto, mais medonho, em termos de estrutura. Semicerro os olhos e reconheço Max, que move os seus lábios de forma impercetível. Eles conhecem-se?

Glass Masterpiece || h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora