5º Capítulo

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Talvez a noite se demore só mais um pouco hoje. A lua nunca esteve tão brilhante. Um arco de luz rodeia-a, iluminando toda a sala. O meu quarto não possui janelas, é por isso que sou obrigada a ver a lua da sala de estar.

Preciso de mais tempo para admirar este luar.

Hoje o jantar foi estranho. A voz da minha mãe estava trémula e os olhos corriam de um lado para o outro, não sendo capazes de encarar ninguém. O meu pai estava, estranhamente, silêncioso, tentando decifrar o olhar da sua esposa.

Tento não pensar nisto, para evitar preocupar-me.

Calço as botas e visto o casaco. Silênciosamente, saio de casa, encaminhando-me para a floresta. 

O luar ilumina o caminho, ainda assim, acendo a lanterna para ver melhor. Os meus passos são rápidos, como se soubesse para onde vou, embora não faça a menor ideia acerca do meu destino. Corujas e roxinóis enchem os meus ouvidos com sons, à medida que arrasto os meus pés pelas ervas selvagens e ramos partidos. Não sei para onde vou.

Após passar por, pelo menos, oito árvores, as quais marco com uma navalha, de modo a conseguir voltar para casa, encontro uma clareira.

Aqui, apago por completo a lanterna. Avanço. Deito-me na suave erva, encarando o céu.

Averiguo acerca da quantidade de estrelas existentes por cima de mim, pensando em nuvens de números absurdos, acabando por rir para a lua. A lua. Continua mais bela que algumas vez vira. Cinzenta, com um arco de luz branca em redor e outro de luz amarela pálida, dando a sensação que estamos a ver o sol à meia noite. Percebo que o importante não é a quantidade de estrelas guardadas pelo céu. Mas sim a quantidade de segredos guardados pela lua e suas subditas.

Quantas são as pessoas que falam para o luar, porque não sobra ninguém para as ouvir? Quantas as que se deixam hipnotizar pela beleza do luar e vaguear, durante a noite? Quantas mortes presenciou a lua? Penso que o peso que suporta é infinito, tal como o universo. O que acontecerá quando não puder aguentar mais? Quando o mundo se deixar cair no abismo para o qual caminha. O abismo da crueldade, desumanidade, superficialidade. Cairá a lua com ele?

Lembro-me da rapariga morta. Quem terá sido? Passou uma semana. Não descobriram nada. Penso que não se deram ao trabalho de procurar. A polícia da vila não é competente. Eles fecham os casos sem cavar até à verdade, raramente convocam a polícia da cidade para apoiar a investigação. Para quê gastar tempo, esforço e dinheiro, se a rapariga não ressuscitará? É deste tipo de crueldade que falo.

A natureza também é cruel. Mas apenas tenta restaurar o balaço, interrompido por NÓS.

Suspiro.

Pelo menos hoje é uma noite quente. Setembro ainda reserva o calor do verão, que nos deixará por completo no início de outubro.

Na livraria, Mr.Clarks decidiu deixar de falar comigo. De manhã sou saudada com um papel na secretária, e desta forma são me trasmitidas as tarefas para todo o dia. Ele olha para mim, ocasionalmente, com olhos tristes e expostos. Penso que é por estar a ler o livro. Será que a personagem principal, Mia, é sua irmã? Decidi que quando acabar de ler, vou tantar saber quem são estes dois jovens.

Suspiro mais uma vez, lembrando-me que amanhã (ou deverei dizer hoje?) é o aniversário de Mel. Fiz um cesto de bolinhos, tendo um deles uma mensagem importante. A sua tarefa é comer todos até encontrar o bolinho especial. Será a prenda dela. Eu, Edward, Liam e os amigos dela, do bar, preparámos uma festa. Ed ofereceu a sua garagem para organizar tudo.

Depois de ter fugido do bar, no domingo passado, ela veio gritar comigo para a livraria. Não percebi porquê. Ela estava a divertir-se, sem mim, não faria diferença se eu fosse embora. Não estava a gostar de estar lá, de qualquer modo. 

Glass Masterpiece || h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora