38º Capítulo

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O chá quente, que bebo pela manhã, queima a minha garganta. Um ardor agradável, que aquece todo o meu, confundido, interior e traz alguma segurança,

“Mãe?” chamo e a mulher, que acabou de acordar, entra na cozinha. “Eu vou dar uma volta, ok?”

Ela assente com a cabeça, ainda não completamente acordada, e eu tomo isso como a minha oportunidade para sair. Pego no meu casaco e fecho a porta atrás de mim.

Na rua, inalo o cheio a verão que se prolongou, enquanto caminho pela rua sem algum rumo evidente.

Observo as casas que se erguem de ambos os meus lados e olho o céu – azul e poderoso. Poderoso e capaz de nos obrigar a gritar com ele, permanecendo imóvel e autoritário, como se soubesse o que nos espera e a gritaria fosse inútil. O céu que se ocupa de nos fazer sentir o que é real e o que não passa de um sonho, ou talvez deveria fazer sentir.

Suspiro e viro a cabeça para a direita, apenas para encontrar a casa abandonada. O familiar caminho de pedra, a árvore, as escadas e a porta. Tudo exatamente igual ao meu sonho. Os meus pés guiam-me até à familiar casa. A correr, empurro o portão, percorro a pedra que cobre a terra, mais uma vez, entre as inúmeras vezes que o fiz nos últimos meses, ou horas. Subo as escadas, ainda no ritmo da minha corrida, desprovida de motivo. As escadas, nas quais permaneci sentada várias noites. No entanto, detenho-me diante da porta. Lentamente, observo todo o jardim, nem sinal daquele vidro que era suposto estar ao pé da árvore.

Finalmente, encontro forças para empurrar a pesada porta, e assim que entro dentro de casa, a única coisa que se mexe são os meus olhos espantados e a caixa torácica, com pulmões acelerados.

Vidro partido cobre o chão da casa. Vidro normal. Não o colorido com diferentes formas e texturas, mas sim apenas vidro transparente e letal. As janelas sentem falta do elemento transparente, para corresponderem ao nome original. A casa está totalmente vazia. O sofá velho, no qual dormi, desaparecera, juntamente com todos os outros elementos de decoração e mobiliário. O lugar das bancadas da cozinha é ocupado pelo pó e pelo vidro.

Devagar e de forma receosa, dou um passo, pisando o vidro, e ouço-o esmigalhar-se por baixo dos meus pés inseguros. Com passos lentos e cuidadosos, caminho pelo vidro em direção ao quarto de Harold, ou suposto quarto do mesmo.

Sou surpreendida com o facto de não existir porta, mas apenas a abertura para a mesma. Todavia, o que mais me surpreende e deixa-me boquiaberta são os espanta espíritos. Os espanta espíritos continuam presos ao teto.

Ao som do vidro por baixo dos meus pés, caminho até eles. Agito um de cada vez, com o dedo, fascinada com o que vejo e hipnotizada pelo seu movimento pendular.

“Continuo sem saber quem eras tu no meu sonho e essa era a única incerteza que não me assustava. Gostava de poder conhecer-te de verdade…” confesso aos espanta espíritos. Um destes fantásticos objetos cai no chão, devido a um vento mais forte que penetra a janela sem vidro, provocando a minha atenção vira-se para o outro quarto enigmático.

A sala onde, no meu sonho, se encontravam as pinturas é a única que não tem vidro. As paredes estão vazias, segundo aquilo que vejo desta divisão. Com o sobrolho franzido, decido que quero entrar naquela sala. Começo por virar o meu corpo, mantendo os pés estáveis, depois diu aoneas um passo, Mas quando estou quase a começar a caminha normalmente, ouço um som.

Vidro a partir-se. Passos.

“Quem está aí?” grito e ouço mais passos até uma figura aparecer na entrada para o compartimento onde me encontro assustada e imóvel.

“O que fazes aqui?” pergunta espantado e um suspiro de alívio escapa os meus lábios. Encaro, novamente os espanta-espíritos.

“O que é que tu fazes aqui?” falo enquanto balanço o objeto pendente mais uma vez.

Glass Masterpiece || h.sDonde viven las historias. Descúbrelo ahora