24º Capítulo

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Eu e o Harry separamo-nos de imediato, olhando a pessoa que entrou sem autorização, com as pupilas dilatadas. Ambos temos a respiração acelerada, e as minhas faces estão coradas do beijo e a única coisa que consigo proferir no momento é “Mel?”. Esta pergunta sai-me quase como um sussurro, por entre a expiração irregular.

“Mas o que é isto?” ela grita movendo os olhos entre mim e Harry. O cabelo dela está despenteado do vento e o casaco pende nos seus ombros, como se não precisasse dele. “Só podes estar a gozar comigo, Alexa!” exclama irritada e aponta-me o dedo.

“Mel, calma. Podemos falar.” Tento arrefecer o ambiente, que esta a perder o controlo.

Harold continua encostado à parede, assistindo ao episódio como um fantasma.

“Tem calma?” ela explode em gritos desesperados. “Como queres que eu tenha a merda da calma, quando tu estás aqui com o rapaz, de quem EU gosto, aos beijos?” abana as mãos no ar, os seus olhos transmitem raiva e eu decido deixa-la expulsar toda essa fúria sob forma de palavras, sem interpelar. “Como pudeste? Ainda há poucos dias me disseste para eu o convidar a sair e agora estás aqui com ele? Tu estiveste este tempo todo com ele" pergunta num tom de voz ofensivo.  "Ah! Vocês agora andam juntos é?” Grita. A sua voz irrompe pela casa de Harry, e o mesmo luta para manter a calma, algo que vejo pelos seus punhos cerrados.

“Mel, nós não…”                        

“Cala-me essa boca Alexandria!” ela esforça as cordas vocais rudemente e um sorriso malicioso aparece nos seus lábios. “Oh.” Começa e a minha respiração acelera, o meu sangue inicia o processo de ebulição. “Foi por isso que acabaste com o nosso plano?” esta foi última gota.

“O quê? Tu estás louca só pode Melissa!” Junto-me á batalha dos gritos, algo que Harry não estava à espera, julgando pela sua expressão surpresa. Ou talvez ele esteja surpreendido com o facto de ela ter mencionado o plano? “Como é que tu podes gostar tanto de uma pessoa que nem conheces? Tu nunca falaste com ele! Isso é uma paixoneta infantil, Melissa! E eu não posso escolher de quem gosto e aquilo que o meu corpo faz, sem que lhe dê permissão! Porra Melissa! Todo esse plano foi uma grande merda desde o início! Tu querias manipula-lo!” As palavras escapam os meus lábios a 100 quilómetros à hora, sem parar para abastecer. Devo estar corada por ter admitido, ainda que indiretamente, que sinto algo por Harry.

“Paixoneta infantil?” ri-se sarcasticamente. “Tu não te queixaste quando alinhaste no plano, só que depois enrolaste-te com ele e decidiste ser santinha outra vez, para não o magoar!” ri-se novamente e eu já não estou a gostar desta situação, mesmo nada.

“Sai Mel! Sai! Tu és louca! Estás obcecada por ele e nunca lhe falaste, criaste um plano para descobrir os seus segredos, quando podias tentar descobri-lo a ele. Eu alinhei, sim, mas acordei a tempo, acho… Tu é que andas iludida na tua obsessão!” grito indicando a porta com o dedo irritada. Os meus dentes prendem-se uns nos outros, os meus olhos queimam os dela. Estou no meu limite. Nunca. Nunca na vida eu cheguei a gritar tanto com alguém. Parece uma nova dimensão de mim. E devo dizer que soube bem descarregar a raiva num grito, que queima os pulmões que deixa a calmaria no interior. Agora, respiro pesadamente, mas sinto-me mais calma. Porque é que eu não gritava antes?

“Vocês são incríveis.” Uma voz rouca e sarcástica soa atrás de mim. Ambas as nossas atenções, a minha e a de Mel, viram-se para o rapaz de caracóis, que sorri para o chão, abanando a cabeça.

No calor da nossa batalha de argumentos, esqueci-me por completo de controlar aquilo que fluía da minha boca, esqueci-me de ele estava mesmo atrás de mim, e que toda esta situação o poderia afetar. Assim que me aproximei mais dele, e o jovem partilhou comigo uma parte de si, tinha de aparecer Mel para levar-me ao limiar e cortar a linha que nos unia, cada vez mais, com o passar das horas. Agora, não sei quando voltarei a tê-lo tão perto, quanto tive a noite passada e esta manhã. Portanto, olho o jovem, com o cabelo despenteado, camisa larga e calças pretas, com tristeza e arrependimento.

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