6º Capítulo

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O ritmo da música podia ser sentido no meu peito, já que as batidas reproduziam-se dentro dele. O volume, extremamente alto, envadia todo o meu sistema. O meus pés andavam sozinhos, sem o meu consentimento, e as palavras pareciam ter a sua própria vontade, saindo da minha boca sem permissão.

"I will follow you and we both go missing. Yeah, yeah, yeah." canto para mim mesma Glowing dos The Script, enquanto me dirijo até às mesas com comida, pela milésima vez esta noite.

A minha mão arranca um uva, e de seguida leva-a à boca. Sinto que a minha cabeça já não tem capacidade para justificar as minhas ações. O copo com Jack Daniels é levado aos meus lábios. Mais uma justificação de que já não controlo o que faço.

Esta festa para Mel está a ser uma sucesso. Mais pessoas do que esperávamos estão presentes e elogiam o nosso trabalho sempre que nos cumprimentam.

"Alexa!" ouço a minha amiga gritar algures atrás de mim. "Já te disse que estás linda? Devias aproveitar a noite de hoje!" gritou de modo a que conseguisse ouvi-la, chegando mais perto de mim.

"Está a ser divertido." menti e ignorei aquilo que ela disse.

Eu estava sozinha ao pé da mesa das bebidas. Todos os outros estavam a dançar ou a conversar. Gritos e gargalhadas preenchiam o espaço, provando que os nossos convidados se estavam, de facto, a divertir e a aproveitar a companhia uns dos outros. Eu, por outro lado, permanecia sozinha. Penso que foi esta solidão que me levou a beber. Que fraca. O alcoól voltou a arder na minha garganta.

Quando olhei para o lado, Mel já deixara o meu lado há muito tempo.

O meu sangue era agora comporto, essêncialmente, por etanol. Tinha as pálpebras pesadas e, se a minha cabeça fosse um armazém com garrafas de vinho, todas estariam reduzidas a vidro estilhaçado. E o líquido encarnado cobriria todo o chão, transformando-o num campo escorregadio, onde, certamente, cairia para não me voltar a levantar.

Não percebo porque quis vir aqui, em primeiro lugar. Não percebo porque é que não me vou embora, em vez de ficar a observar corpos suados. E não percebo porque estou a beber. Também o estado em que estou, se percebesse algo, seria fenomenal. Rio-me. Amanhã tenho de ir trabalhar, lembro-me, fanzendo outra gargalhada escapar os meus lábios, com sabor a alcoól. 

"Do que te estás a rir, Alexandria?"

Saltei, assustada. Edward.

"Hey Ed!" disse abraçando-o. Ri-me das minhas próprias ações e respondi: "Amanhã tenho de ir trabalhar, e estou aqui completamente bebada."

Um soluço deixou a minha boca sendo pretexto para outra gargalhada. Estou mesmo no meu limite!

As mãos de Edward fixaram-se na minha citura, já que continuava agarrada a ele.

"Estes sapatos são muuuuito desconfortáveis" confessei. Com uma mão no seu pescoço, levantei o pé e tirei o sapato, repetindo o processo para a outra peça de calçado.

"Tu estás bebada?" perguntou quase a rir-se.

"Que tem? Eu não sou nenuma santinha! Consigo ser bastante atrevida..." disse piscando-lhe o olho e rindo-me de seguida. O meu cérebro não estava mesmo a funcionar.

"Vamos, Alexa. Já chega para ti hoje!"

Após ter dito isto, pegou-me ao colo e dirigiu-se para a porta.

Algumas cabeças viraram-se na nossa direção, enviando olhares questionadores, algo que não me preocupava na altura.

Encostei a cabeça ao peito de Ed, ouvindo o bater irregular do seu coração. Fechei os olhos por momentos, apenas para os abrir, quando o som de uma porta penetrou nos meus timpanos. Um quarto demasiado desarrumado preencheu a minha vista, que se apagou no momento em que a cabeça sentiu a almofada. Num estado de sonolência, senti uns lábios secos na minha testa e ouvi um murmurio, que falhei em decifrar. Logo a seguir tudo tornou-se negro.

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