18º Capítulo

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Mel revira os olhos, claramente aborrecida. Eu olho para ela atónita. Começo a duvidar da sua sanidade mental.

“Eu paro de o seguir, mas tu. Tu continuas!” diz numa voz triunfante.

Arregalo os olhos. Eu não o vou seguir.

“Não” contrario a minha amiga louca, levantando-me da cama. Dou uns passos, os poucos, que permite a área do pequeno quarto, com as costas voltadas para Mel. Massajo os meus lábios, em concentração. “Ouve, Mel. Tudo isto tem de acabar. Há coisas nas quais não nos devemos intrometer. Deixa lá o rapaz.” Penso por mais uns segundos e acrescento: “Se gostas tanto dele, convida-o para sair!” estas palavras sabem-me amargamente e não consigo decifrar a razão. Talvez porque quero que ele seja o meu segredo?

Contente com o meu pequeno discurso, viro-me para Mel, esperando a sua resposta. A rapariga revira novamente os olhos. Perdi a conta da quantidade de vezes que ela o fez esta noite.

“Ok” soa monocórdica. “Estragas sempre a diversão!” faz beicinho como uma criança e eu tenho de me relembrar que esta rapariga tem 18 anos.

Melissa levanta-se da cama, com a toalha à sua volta e desaparece na casa de banho.

Pondero toda a nossa conversa. De facto, se o Harold reagiu daquela forma à sua pequena perseguição, é porque tem algo a esconder. Mas por outro lado, é difícil obriga-lo a expressar-se como sugeriu Mel e a “agarrar” o pulso da rapariga, tendo em conta o seu medo do toque. Penso que a minha amiga, de cabelos negros, só contou metade da história. E, também, não é de desvalorizar o facto de Harold “cheirar” a mistério a quilómetros de distância. “Ou simplesmente não gosta de ser perseguido, tal como qualquer outra pessoa…” acrescenta a voz dentro da minha cabeça e dou-lhe parte da razão. Levo as mãos ao cabelo e volto a sentar-me na cama. Parece que se eu arrancar todo este cabelo, arranco também todos estes pensamentos confusos. De repente, parece-me que tudo isto está terrivelmente mal. Tudo fora do lugar, uma grande confusão. Como se uma enorme quantidade de neve caísse em cima de mim, e, apresar de conseguir respirar, não me consigo mexer e sacudir este monte de neve, que me envolve. A neve não gela, apenas impede-me de tentar qualquer tipo de movimento e isso leva-me à loucura. Não sei o que fazer. Não sei quais são as perguntas certas, as tais que me permitirão sair da neve, graças às respostas. Não se hei de fazer perguntas, em primeiro lugar.

Solto um grunhido de rendição.

Talvez eu siga Harold só uma única vez. Talvez uma vez só não fará mal, e talvez consiga--- “Não! Tu não o vai seguir. Vais parar com a palhaçada que é este plano. Isso é o que vais fazer!” a voz dentro da minha cabeça grita e sou obrigada a dar-lhe ouvidos. No meio da confusão, ela parece a única sóbria. Decido então que tentarei esquecer toda esta história.

Entretanto, Mel sai da casa de banho, já vestida. Levanto a cabeça das mãos.

“Vamos para a cozinha, já quase hora para o jantar.” Afirmo, gesticulando para ela me seguir.

Nenhuma de nós fala enquanto percorremos o corredor. Ouço vozes vindas do compartimento ao qual nos dirigimos e isso significa que a minha mãe, e o meu irmão, já voltaram há bastante tempo.

“Mel” sauda a minha mãe numa voz alegre, assim que entramos na cozinha. “Não sabia que cá estavas.”

“Olá, SrªMoore.” Cumprimenta Melissa, sentando-se à mesa. Eu dirijo-me para o armário, de modo a retirar os pratos para a nossa refeição.

“O pai janta?” pergunto.

“Não. Ele vem tarde.” Responde a minha mãe, concentrando-se na salada, que está a fazer.

Glass Masterpiece || h.sWhere stories live. Discover now