17º Capítulo

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        «I don't live anymore. I try to survive. Every day I wake up to another battle, with my poisoned blood that rushes through my veins. Every day I wake up to a war. I wonder if it will ever end.

        Today I woke up with a wish – I wanted all my life, since a met her, to be a dream. I don’t need your fucked up amnesia. I need everything to be a damn beautiful nightmare. All of it: the touches, the looks, the smells, the eyes and the words. I don’t want to forget them, but neither have I wanted them to be real, so let them be a dream.

        And now, I sit on this bench and look at her. Oh her. I come back to the evil thoughts, to the insane desires. I come back to her. However, she doesn’t come to me.»

Ponho o livro de lado e sento-me no parapeito da janela.

Parece que o outono está em pleno esplendor. As folhas cobrem por completo o cimento, pintando-o em tons de laranja e castanho. A temperatura baixa todos os dias, preparando-nos para o gelo do inverno. Inverno – a última estação, o ponto mais baixo, o pico da decadência, após o qual se segue o recomeço.

Salto do parapeito. Lembro-me que hoje é segunda e também que Mr.Clarks me deu folga.

Ele não mudara a sua atitude. Continua igualmente longínquo. Já me cansei de o tentar perceber. Esforcei-me por faze-lo falar, mas o homem de cabelo grisalho fugiu e fechou-se no armazém. Para variar. Cobarde. Contudo, antes de escapar disse: “Lê o livro, Alexandria. E depois vem falar comigo” Assim farei. Logo que acabe o livro, vou falar com ele!

Decido fazer o jantar. A minha mãe teve de sair. Não sei para onde foi. Por isso, suponho que deixou essa tarefa para mim.

Ah! Vi novamente o rapaz engraçado de óculos. Desta vez, comprou um livro sobre flores e as particularidades das mesmas. Anotei, de imediato, o seu gosto eclético. Da primeira vez que o vi, comprou um livro de ficção, e agora, vem aqui comprar um livro sobre flores. Talvez até possa classificar isto como esquisito. Em contraposição à última vez, o rapaz sorriu-me e apresentou-se, massajando o pescoço com a mão, em nervosismo. “Dave” disse numa voz fraca. Eu apenas ofereci-lhe um sorriso tímido e a fatura. E-

Ouch. Vejo sangue no meu dedo. Cortei-me, ao triturar a cebola. O líquido escorre pela minha mão, enquanto abro o armário, onde guardamos produtos farmacêuticos. E após tratar da minha ferida, retomo a preparação do jantar.

Sangue. Uma vez desmaiei, quando fiz um corte fundo na palma mão. Só me lembro de ver o sangue libertar-se, persistente, as vozes a afastarem-se e a minha cabeça a latejar. Penso que não tolero sangue.

O vermelho substitui-se por verde. Olhos verdes. Harold. Harold Styles. Este jovem particularmente atraente prometeu-me que verificava a minha teoria. Eu, da minha parte, prometi-lhe (ou ele obrigou-me a prometer) que não contaria o seu nome. Ou sou eu que não quero partilha-lo com ninguém? Sacudo a cabeça. Ele baralha-me todos os pensamentos. O seu rosto emerge na minha mente. O seus lábios a mexer. Serão macios? Como será te-

Ouch. Cortei-me novamente. Parece que hoje não é o meu dia. O meu corpo está fraco. Fiz um enorme esforço para levantar-me da cama. Dou graças ao facto de estar de folga. Caso contrário, cairia algures pelo caminho até a livraria.

Coloco a panela ao lume e vou até a sala, deixando o meu corpo jazir sobre o sofá, como se estivesse sem vida. Lembro-me de Melissa.

Oh. Mel. Ela não me deu nenhumas notícias sobre a forma como decorre a sua tarefa. Ela deve estar a seguir Harold por todo o lado. No entanto, ainda não ligou a contar nada. Terá ela descoberto alguma coisa? Não vi ambos durante uma semana inteira. Nenhum deles apareceu no voluntariado. Terá acontecido algo?

Glass Masterpiece || h.sWhere stories live. Discover now