28º Capítulo

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“Alexandria” ouço mais uma vez, mas agora numa voz feminina.

Abro repentinamente os olhos, sobressaltada e com o batimentos cardíacos acelerados, colocando-me muito direita no banco do autocarro. Os meus olhos começam a arder, de tão abertos que estão, e começo a piscar repetidamente.

Foi só um sonho, penso aliviada. Foi só um sonho. E recosto-me na cadeira.

Quando, finalmente, estou disposta a assimilar a realidade, reparo em Violet, que se encontra mesmo ao meu lado, com uma expressão divertida.

“Que é tão engraçado?” pergunto com um sorriso.

“A tua cara de assustada!” ri e pousa a mão no meu ombro. “Bem, era para dizer que estamos quase a chegar e que talvez queiras ver a cidade” termina, e sai do banco ao meu lado, regressando para Liam.

Suspiro. Gostava que Harry aqui estivesse, que pudéssemos passear juntos pela cidade, penso e olho pela janela.

As árvores, cobertas de neve, como os seus ramos despidos, começam, a dispersar, para dar lugar as casas, cujos telhados estão, igualmente, cobertos por neve. Casas não é, de todo, o termo mais indicado para descrever estas construções de mãos humanas. Aquilo que vejo são autênticas obras de arte transcendente, de, aquilo que aprendi chamar-se, arquitetura moderna. Observo, com atenção, por entre a neve, com medo de perder algum pormenor. Os meus olhos admirados saltam de telhado em telhado, receosos de macular os edifícios, perfeitamente pintados, mas demasiado curiosos para desviar o olhar.

Subitamente, uma impensável quantidade de automóveis, grandes e pequenos, altos e baixos, alguns vermelhos, outros amarelos e outros de cores neutras, rodeia o autocarro e sinto-me enclausurada. Os pneus chiam, derrapando na neve, libertando fumo, e todos param.

Salto do meu banco e corro para o condutor. Os olhares dos passageiros concentram-se em mim, mas o meu estado de estupefação impede que me preocupe com isso. Quando finalmente alcanço a frente do veículo, congelo, olhando aquilo que se ergue a minha frente.

Torres. Torres cobertas por neve, com luzes natalícias. Para o Natal falta ainda um mês, contudo, a cidade parece já estar num ritmo natalício. Torres. Umas mais baixas, outras mais altas. Os meus ouvidos são inundados num mar de buzinas, que possuem várias sonoridades. O ar é turvo e parece que o nevoeiro de novembro pende sobre a cidade. O autocarro continua parado.

Mentalmente, percorro os múltiplos livros que li, procurando dar os devidos nomes a aquilo que vejo. Algures, por entre as páginas lidas, em noite passadas a claro, salienta-se a palavra 'engarrafamento', a palavra 'arranha-céus', a palavra 'prédio' e a palavra 'smog'.

Um solavanco forte, que me faz agarrar o banco do condutor, e começamos em movimento. Lentamente, seguindo a linha infinita de carros, como uma reta, ou curva, constituída por pontos, avançamos até aos arranha-céus.

A minha boca está num perfeito “o” e não consigo emitir som nenhum, nem demonstrar emoção alguma.

Devagar, como se os minutos pesassem e fossem prolongados pelo vento, que reina fora do calor do autocarro, o mesmo, ocupado por inúmeros jovens, fica cada vez mais perto das torres cinzentas.

“Vai demorar muito?” questiono o homem ligeiramente forte, com uma enorme barriga e rosto robusto.

Sem emoção, concentrando os olhos na estrada, o homem fala como se o que dissesse é óbvio: “Uma hora talvez, está a nevar muito.” Calando-se de seguida.

Observo o vidro da frente, onde o para-brisas trabalha incessantemente. A neve cobre-o quase por inteiro, deixando apenas um semicírculo, pelo qual podemos ver a cidade que se ergue majestosa, a nossa frente. 

Glass Masterpiece || h.sWhere stories live. Discover now