37º Capítulo

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Passos sincronizados guiam os nossos corpos pela densidade da floresta. Harry caminha, confiante, a minha frente, enquanto eu caminho insegura, mais atrás. Passamos árvore, após árvore e Harry afasta alguns ramos para eu poder passar. Pelo caminho, partilhamos apenas sorrisos discretos, como se nos conhecemos há, significativamente, mais tempo do que algumas horas.

Dois jovens unidos pela vontade de escapar a um ambiente tenso, refugiam-se na clareira de uma floresta. Parece-me bem.

Quando o último ramo é afastado, vejo aquilo que estavamos a procura - a clareira. Com um sorriso a esticar os meus lábios, caminho até ao centro da mesma.

“Então?” viro-me para Harry, que continua ao lado da árvore pela qual passei, “Não vens?” convido-o com um sorriso.

O rapaz sorri e deixa a floresta para trás, caminhando relaxadamente, como se nada na vida o pudesse derrubar. O tronco ligeiramente curvado, os passos lentos e as mãos nos bolsos. O seu olhar e a forma como as palavras deixam os seus lábios fazem-me crer que este rapaz, que se aproxima de mim, não é assim tão diferente daquele com quem sonhei. Continuo a sorrir ao ve-lo aproximar-se de mim.

Decidindo que fiquei demasiado tempo a observá-lo, sento-me na erva, ligeiramente húmida, e deito o meu tronco, relaxando os músculos. Sinto Harry fazer o mesmo ao meu lado, suspirando profundamente, um suspiro de alívio.

As estrelas, pouco a pouco preenchem o céu, formando um enigmático padrão que capta a nossa atenção, para nunca mais deixá-la desviar-se. A potente luz que emitem chega até nós numa pequena porção de luzinhas cintilnates.

“Achas que existe algo lá em cima que controla os nossos sonhos?” pergunta ele e a minha cabeça vira-se instantaneamente para o rapaz, cujos caracóis estão espalhados pelo verde e os olhos fitam o céu.

“Não sei” confesso, ainda olhando para ele “preferia que existisse, assim talvez, eles não fossem tão inúteis e pudessem significar algo”

“Como uma mensagem que nos querem transmitir”

“Mhum” concordo com ele, devolvendo a minha atenção às estrelas novamente.

Talvez este seja o mesmo Harry com o qual eu sonhei, mas ligeiramente mais aberto.

Quando o jantar estava para começar, a ideia de ter de passar a noite com um rapaz que eu conheço tão bem, mas desconhece-me por completo, parecia aterrorizadora. Momentos passados com ele, no meu sonho, pareciam atormentar-me a cada segundo que decidia pousar o meu olhar nele. Contudo, neste momento, é como se o sonho tivesse sido realidade e nós estamos os dois deitados no relvado, a falar de sonhos.

Harold Styles*

A quantidade de estrelas que tento contar é muito próxima da quantidade de sonhos de tive com esta rapariga. O cabelo loiro, o olhar inocente mas poderoso, com uma loucura cintilante, a pequena estatura… tudo tão parecido com o sonho.

Quero rir da minha própria estupidez. Deixei uma miúda de um sonho mexer com a minha cabeça de tal modo, que a minha namorada acabou comigo. Lembro-me perfeitamente da tarde em que me disse que eu estava demasiado ausente e que não aguentava mais a nossa relação, porque eu não lhe dava a atenção suficiente. Disse-lhe que porta estava mesmo atrás dela e a rapariga saiu. Mesmo nesse momento estava a pensar na jovem que está deitada ao meu lado.

Suspiro ao lembrar-me do meu acordo. Se eu tivesse sido mais inteligente na altura, nada disto estaria a acontecer. Eu continuaria na cidade a fazer os pequenos negócios de compra e venda de obras-primas falsas, ou verdadeiras, e não teria de ter de pagar esta porra de dívida, que caiu sobre os meus ombros como uma gigante bola de neve. E dessa neve não consigo sair e não há forma de a derreter. A única coisa que a pode derreter é um coração humano.

Glass Masterpiece || h.sWhere stories live. Discover now