22º Capítulo

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Caminho rapidamente pelo cimento, ouvindo os meus próprios passos, e aperto o livro contra o meu peito, com força. Sinto como se guardasse um segredo horrível que me poderia ser fatal. Olho em volta, acelerando o passo.

Em meu redor erguem-se casas. Algumas ainda têm as luzes acesas, enquanto outras estão mergulhadas na escuridão. O facto de estar num local com pessoas, acalma-me ligeiramente, pois sei que posso gritar e alguém terá de ouvir.

Preciso de contar a Harry como morreu a sua avó e que o seu assassino vive mesmo aqui, perto de nós. Mas talvez ele já saiba tudo? De qualquer modo eu preciso de lhe contar. Pára de assumir coisas, Alexandria! Pode nem ser a sua avó! Pode ser outra mulher! Tu não tens como saber! Grito mentalmente.

Os meus pés apressados levam-me em direção á casa dele, com um coração demasiado acelerado por várias razões. Uma das quais é sem dúvida a minha nova descoberta. Contudo, o nosso beijo também contribui para este estado trémulo em que me encontro. Vou voltar a vê-lo, pela primeira vez, após partilharmos aquele momento. O que será que significou para ele? Não tenho forma de saber. Apenas sei que, para mim, foi o início de um novo sentimento que nunca antes experimentei. Algo mais do que fascínio e curiosidade. No entanto, ainda me encontro no desconhecimento da nomenclatura desta nova sensação que invade a minha barriga, sempre que penso nele, e que me esforço por ignorar. Imagens de olhos verdes, lábios vermelhos e cabelos despenteados invadem a minha visão. O que estára atrás da porta misteriosa? Porra! Todo ele é um mistério andante. Estes pensamentos fazem com que sacuda a minha cabeça, para me tentar concentrar naquilo que faria esta noite.

Avisto a casa do Harry ao longe e dou uma breve corrida na escuridão até ao pequeno portão.

Está tudo exatamente como a alguns meses atrás, nada mudou. Com a exceção da árvore, que agora está despida e vulnerável ao vento e á chuva. Os meus olhos caem para vidro. Este encontra-se molhado. Ele nunca mais o tirou dali. Porquê?

Percorro o caminho até à sua porta, inspirando e voltando a expirar para ganhar coragem de o encarar. De seguida, o meu punho hesitante  embate na madeira.

Bato o pé no chão, encarando o tapete velho á porta. Franzo o sobrolho, quando percebo que ninguém vem a abrir e decido tentar outra vez. Os nós dos meus dedos colidem com a madeira.

Esta tentativa mostra-se falhada, tal como todas as outras que lhe seguiram. Suspiro e um tremor percorre todo o meu corpo. E se nunca mais o voltar a ver? E se ele foi embora? É essa a consequência a qual Mr.Clarks se referia? Não, Não, Não! Não pode ser! Eu preciso dele aqui. Nesta casa assustadora, mas incrivelmente acolhedora, ao mesmo tempo. Os seus olhos desprovidos de emoção. O seu tronco forte. Os seus lábios. Os seus segredos. Os seus demónios. Ainda há tanto para descobrir sobre ele…

Suspiro e, mais uma vez, derrotada deixo a propriedade Styles para me dirigir à livraria, onde me espera uma revelação avassaladora. Tenho a certeza que o meu patrão está lá.

O vento noturno de inverno acaricia as minhas faces tornando-as rosadas. Encolho-me para manter o calor corporal e sigo o meu caminho até à livraria, que não fica muito longe daqui.

Os meus pensamentos navegam até à conversa que estou quase a ter e tudo em mim congela em antecipação pelas palavras que Mr.Clarks irá proferir e pelo modo como o nosso diálogo irá terminar. E então uma pergunta surge na minha mente. Porquê eu? De todas as pessoas, eu? Faço uma nota mental para lhe questionar.

Continuo a especular acerca das histórias que Robin me irá contar.

Um barulho vindo atrás de mim faz a minha cabeça virar-se na direção do som. No entanto, não vejo nada atrás de mim. Acelero o passo, à medida que os meus batimentos cardíacos ficam mais rápidos. Ouço algo novamente e viro a cabeça em várias direções. O meu crânio está a latejar e respiro pesadamente, virando-me para trás de minuto em minuto, provocando tonturas. Então, vejo uma figura preta pelo canto do olho. Nesse momento, a adrenalina pressiona um botão que não sabia que existia em mim e largo a correr mais rapidamente que alguma vez na minha vida corri. Ouço passos atrás de mim, mas estou demasiado ocupada para lhes dar importância, à medida que percorro as ruas como uma seta a cortar o ar. A minha visão desfoca-se e a cabeça parece querer explodir e já não sinto o frio.

Glass Masterpiece || h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora