11º Capítulo

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Encaro o teto, não completamente branco devido às manchas de humidade, do meu quarto. Alguns dos meus pensamentos são dedicados a Mel.
Por mais que custe, forço-me a admitir que tenho um interesse extra por Styles, que me leva a querer estar com ele. Leva-me a querer falar com ele. Contudo, Mel reparou nele em primeiro lugar, ela é que teimava que ele era misterioso, eu apenas negava tudo. E como estou eu agora? A querer conhecer este rapaz?  Não estarei a ser desonesta com a minha amiga?

Respostas a estas perguntas é aquilo que não consigo encontrar. Viro-me para o lado e encaro, agora, a parede, desenhando padrões na mesma com o dedo. A parede preenche-se de imagens da fúria de Mr.Clarks. Os seus olhos desumanos, capazes de matar com apenas uma olhar, que fizeram a minha alma encolher. Porque é que a presença de Styles causou esta reação nele? 

Cada vez mais perguntas se acomulam na minha cabeça, trasformando-a num escritório desarrumado. Um escritório onde todos as folhas se encontam no chão, não dando espaço para passagem. Um escritório onde a secretária está caída sobre o tapete, juntamente com qualquer outro tipo de móvel e equipamento. Esfrego a mão na testa, numa tentativa de acalmar a guerra, e uma lâmpada acende-se, cujo significado é uma ideia que ilumina a escuridão - decido que vou contar a Mel as minhas interações com o rapaz de olhar manipulador, em primeiro lugar. Em segundo, vou até à casa do mesmo para pedir respostas.
A última decisão talvez se mostre inútil, mas eu estou diposta a arriscar.

O meu quarto ainda está escuro, o que me indica que o sol ainda não se levantou. 

Negro.

As pessoas temem o negro. Temem a escuridão. Receiam que aquilo que ela esconde poderá, de algum modo, magoá-las. Sim, os monstros que se escondem por entre o preto podem torturar-te, causar dor e mágoa, até mesmo destruir-te. No entanto, não te esqueças que também a luz pode queimar. Claridade em demasia pode cegar-te. A luz pode reduzir-te a cinzas. Então e agora o que perferes? Ser enganada pela luz, ou encarar a escuridão?

Suspiro. A noite leva-me a pensamentos estranhos. Sou fácilmente influênciada pela lua e pela solidão. Oh solidão... esse é outro tópico...

Sou levada para o mundo dos sonhos. O meu corpo relaxa por completo, adotando uma posição estranha, mas confortável. Fico inconsciente até tocar o enervante despertador do meu telemóvel, que me faz rolar para fora da cama.

Arrasto-me até à casa de banho, onde reparo nas olheiras negras. Faço uma careta para mim mesma e enfio-me debaixo do chuveiro. Tento nã pensar em nada, para não prolongar o meu duche.

A água quente do chuveiro é substituída pela àgua quente do chá que preparo. Já estou vestida e pronta para mais um dia na livraria, após o qual visitarei Mel. O líquido queima um pouco a minha garganta, mas não me importo, pois aquece o meu corpo. 

Contudo, este não permanece quente durante muito tempo. Devido à temperatura da rua, para à qual saio após despedir-me da minha mãe e Luizinho. Eles lembraram-me de que no sabádo, iriamos à floresta, fazer um piquenique. Esta ideia provoca um sorriso na minha cara, com o qual faço todo o caminho até a livraria. Nós tinhamos sempre este tipo de saídas em família. 

A corrente de ar perturba a paz da livraria, assim que abro a porta. O sino faz-se ouvir e eu cumprimento Mr.Clarks, que se encontra a resmungar palavras indecifráveis. A agitação da cidade tem, sem dúvida, os seus efeitos em Robin. Reviro os olhos, ligeiramente irritada pela sua atitude.

Durante todo o dia, o meu patrão não me dirige uma única palavra, o que torna um dia de trabalho ainda mais monótono e cansativo. Olho para o relógio. Observo o ponteiro a mover-se, à medida que o tempo passa, e lembro-me de uma coisa que a minha falecida avó dizia com frequência: "Até mesmo um relógio parádo diz-nos a hora certa duas vezes ao dia." Sinto imensas saudades dela e das suas teorias.

Glass Masterpiece || h.sWo Geschichten leben. Entdecke jetzt